As Cores Lá Fora

1.4K 165 59
                                    


Eu estou exausta. Perdi a noção do tempo dentro daquele vagão e acabei virando a noite, em claro, passeando pelo subterrâneo da cidade de Nova Iorque inteira pelo menos três vezes. Não sei dizer se isso me ajudou tanto quanto eu esperava. Me lembro de fazer o mesmo antigamente e sair com a mente livre, como se fosse dada uma descarga nos meus pensamentos e eu voltasse ao vazio de sempre. Mas dessa vez não funcionou. Pela primeira vez, em anos, não funcionou.

Sai da estação mais estressada do que quando entrei, o sol já brilhava majestoso no céu azul e as ruas estavam no caos de sempre. Já deveria passar das seis, com certeza. Eis uma curiosidade sobre essa cidade, ela realmente nunca dorme. Esse é seu maior defeito e sua maior qualidade ao mesmo tempo, mas, durante um breve horário na madrugada, você se vê livre dos péssimos matinais e dos completamente embriagados, seja pela noite, pelo trabalho ou pelo álcool mesmo e pode frequentar ruas e calçadas completamente brandas e vazias, em sua maioria.

Quatro e cinquenta era o horário perfeito para se desfrutar de uma Nova Iorque completamente diferente de suas caracterizações. Os carros ainda estão nas ruas, os letreiros ainda estão brilhando para você, mas há um silêncio desconhecido. Um som, ou a falta dele, que adentra os ouvidos como uma leve sinfonia e lhe inebria junto à suave brisa do amanhecer. É simplesmente maravilhoso... Eu poderia experimentar isso com Chaeyoung um dia. Droga, cá estou eu pensando nela de novo.

Sorri comigo mesma afundando as mãos nos meus bolsos, que idiota eu fui de pensar que conseguiria escapar desse nome. Por toda a noite ela esteve comigo, em minhas lembranças, em meus pensamentos, em meus planos... Por mais que eu tentasse, aquele nome sempre dava um jeito de se encaixar na minha frase, como um ponto ou uma vírgula, extremamente necessários para que faça o sentido correto. Mesmo com mil problemas me assolando, mesmo com mil e uma coisas mais graves, por assim dizer, ela ainda continuava me dominando completamente.

Em um surto de preguiça liguei para Oliver na intenção de pedir um dos carros da empresa para ir para casa, eu estava perto da M.A.M e não faria mal algum sentar a bunda em algo mais acolchoado do que um banco de plástico, ouvindo algo além do roçar dos trilhos gastos nas rodas metálicas e com o tão amado ar condicionado na frequência perfeita. Chamou, chamou e nada. Tentei novamente e a voz me indicou pela segunda vez a caixa postal, ele não era o tipo de pessoa que gravava sua própria mensagem, havia deixado o cargo para o áudio de fábrica.

Liguei para meu pai, liguei para minha mãe, liguei até para Nayeon e só ela foi capaz de me atender.

- Minari, oi, não posso falar agora.

- Onde está todo mundo? Está acontecendo uma festa e não me convidaram? - ela vacilou um pouco deixando correr solto um ruído de sua garganta enquanto procurava me responder.

- Não sei dos outros, mas estou um pouco ocupada - "Nayeon!", alguém a chamou ao fundo e então eu me dei conta dos bips e movimentação ao seu redor.

- Onde você está? Aconteceu algo?

- Está tudo bem, apenas resolvendo umas documentações. Mais tarde nos falamos, vou chegar um pouco atrasada. Beijos.

Menos de dois minutos de ligação e absolutamente informação nenhuma. Bufei apressando meus passos para casa, seria um longo caminho e eu poderia usa-lo para planejar algo com relação a Mark, já que minha noite, querendo ou não, havia se resumido na Son. Cheguei no apartamento e já passava das nove, toda minha determinação se foi quando me deparei com aquele delicioso e caloroso sofá me chamando para um cochilo sob seu conforto.

- Não ouse - Dahyun gritou assim que eu me inclinei em direção ao estofado desequilibrando em meus próprios pés para retomar o equilíbrio - Vai tomar banho que daqui a pouco é a apresentação da Chaeyoung.

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora