Os Medos De Ontem

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 - Chaeng, vem cá. - peguei sua mão sem dizer mais nada e a arrastei comigo até a primeira sala vazia que encontrei naquele corredor.

- Por que saímos de perto das meninas?

- Porque eu quero falar só com você. Tzuyu e Momo já sabem e provavelmente vão contar pra Dahyun.

Sentei-me à mesa do professor a puxando para perto e organizando meus pensamentos confusos. O que eu deveria fazer? Eu menti e ela provavelmente já tinha percebido, seria um desperdício e desgaste continuar com isso agora.

- Quem você foi buscar ontem à noite? - a pergunta pareceu carregada de ciúme, mas sua voz suave fez soar como uma preocupação.

Quão boa ela poderia ser? Mesmo no erro tentava me entender.

- Uma ex-amiga minha. - engoli seco.

- Como alguém pode ser ex-amiga de alguém? - ela sorriu me fazendo levantar os olhos para seu rosto. - Ou é ou não é.

- É...

- Complicado? - Chaeyoung me antecipou e se aproximou mais de mim colocando minha perna baixa entre as suas e apoiando as mãos em meus ombros. - Não vou mais aceitar seus suspenses, eu quero saber essa história. Você já me deve umas três.

Ela fez um bico e eu suspirei me vendo encurralada e sem rota de fuga alternativa. Chaeyoung tinha razão, eu precisava me abrir de algum jeito, essas histórias inacabadas estavam começando a sufocar a mim mesma.

- Nem sempre morei aqui em Nova Iorque. Eu nasci no Texas e fui criada no Japão, mas me mudei para a Coréia alguns anos atrás e foi lá que tudo começou. Sabe, meu pai nem sempre foi a pessoa ruim que eu prego que ele seja hoje. Quando eu era pequena me lembro de sempre tirarmos um dia só nosso, eu e ele. Cada semana algo diferente, uma brincadeira, um parque, uma feira, um jogo... Ele me incentivou a fazer todas as coisas que eu demonstrei interesse, desde softball, balé, até cantar. Todas as crianças na minha escola o amavam e me invejavam profundamente, eu até fiquei famosa por causa disso.

Ri comigo mesma e Chaeyoung me acompanhou. As boas lembranças correndo dentro da minha cabeça como um filme bem em frente aos meus olhos.

Fazia um tempo que não tocava nesse assunto, meu pai estava sempre na ponta da minha língua assim como todas as palavras de raiva e remorso que o acompanhavam. Mas eu estava esquecendo que um dia nem tudo foi tão ruim, eu deveria lhe dar um crédito por isso. Ele tentou e conseguiu ser um bom pai, mesmo que por pouco tempo.

Meus olhos agora fitavam a garota à minha frente em admiração, suas mãos deslizando pelo meu colo em uma carícia confortante. Com certeza ela tornava mais fácil essa tarefa difícil que era me abrir e me expor. Graças a ela, eu estava resgatando certas partes importantes sobre mim que eu pensei ter perdido no tempo.

- Com você falando assim até eu invejei. - Chaeyoung sorriu me fazendo suspirar.

Na minha cabeça essa adoração incessável por cada reagir seu era tão ridícula, mas ao mesmo tempo tudo nela me deixava mais apaixonada.

- Enfim, depois disso meu pai foi convidado por um amigo a fundar uma empresa em parceria e tudo mudou. Ele chegava em casa estressado, não tínhamos mais tempo para passarmos hora nenhuma juntos. Aos poucos ele foi se distanciando e me excluindo. Como se já não bastasse a minha mãe fazendo isso.

- Você não fala muito da sua mãe. - ela alisou meu rosto com as pontas dos dedos me fazendo arfar em deleite.

- Porque não há muito para falar. Parece que nós duas não damos certo de jeito nenhum, sabe? É como uma estranha que não tem os mesmos gostos e cultura que você então ostentar uma conversa se torna quase impossível. Mas isso não deveria acontecer entre mãe e filha, porra. - Nem terminei de falar e Chaeyoung cobriu minha boca com a palma da mão. Imediatamente eu recordei meu erro, ela não tolera palavrões. O meu sorriso favorito brotou em seus lábios logo em seguida.

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora