Requiem - Michaeng [BR]

Melhor De Três

A noite passada foi um verdadeiro inferno para mim. Depois de tudo ainda tinha que receber aquela mensagem de Tzuyu. Ela estava de volta, pronta para jogar limpo, mas eu não. Na verdade o que eu menos estava naquele momento era pronta para, sequer, receber a notícia de sua volta. Essa não foi a maneira que imaginei, ela teria que ter chegado, notificado Momo que então teria me avisado. Tzuyu não deveria estar vindo atrás de mim, era pra acontecer justamente o contrário para que eu pudesse preparar minha fala.

Passei um tempo ainda no carro processando as últimas notícias que abalaram meu mundo. Mark estava caminhando para o lado errado e eu teria a hora da verdade à qualquer momento do dia seguinte. Devo confessar que eu estava muito mais assustada com a taiwanesa. Dirigi até a casa dos meus pais e fiz uma varredura rápida no quarto de Mark. Dei graças a Deus que todos estavam fora e pude tomar meu tempo e relaxar. Baguncei e olhei todos os cantos possíveis para se guardar algo que não deve ser encontrado por ninguém, além de você mesmo, mas não tive muita sorte. Ou ele não tinha mais nada ou realmente éramos duas almas completamente diferentes no esconde-esconde.

Era incrível como aquele lugar não me fazia sentir em casa. Quando cheguei tudo que senti foi certo tipo de temor e medo de ser pega, como se estivesse fazendo algo extremamente errado em estar ali, como se estivesse invadindo a residência de outra família. Quem se sente assim em sua própria casa? Aquilo deixou de ter um bom significado para mim há muito tempo atrás, me lembro de desejar amargamente minha independência para poder sair sem olhar para trás. Meus irmãos eram as únicas pessoas que ainda me faziam ter gozo por esse lugar, mas agora só um deles ainda possuía minha total confiança, e, mesmo assim, eu aprendi a andar sempre com cautela pelas terras da conturbada família Myoui.

Hoje era um novo dia e, com certeza, um novo desespero para mim. Mal preguei o olho quando cheguei em casa e os reflexos desse desleixo se faziam presentes agora. A aula não poderia estar mais monótona, meus olhos tentavam com todas as forças se manterem abertos, ficavam acompanhando cautelosamente cada passo ou movimento do professor. Mas era em vão, eu não tinha mais forças e o que me mantinha acesa era a chama de medo que, cada minuto mais, se alastrava por todo meu corpo. Hoje o relógio era meu inimigo, mas eu não sabia se eu queria que o tempo parasse ou passasse.

No fim dos períodos da manhã me retirei tão rapidamente quanto entrei fazendo meu caminho para o único lugar no qual eu me sentiria segura naquele prédio. Eu sabia que as meninas sempre almoçavam juntas, era uma coisa nossa desde sempre, e com isso eu sabia que se Tzuyu estivesse aqui ela também estaria na mesa conosco. Isso me assustava. Eu ainda não estava pronta. Mas que merda! Eu podia jurar que estava, eu podia jurar que não estava dando tanta ênfase assim à essa situação. Entrei no antigo auditório chutando baldes e cadeiras no meu caminho. Podia sentir o desespero gritar dentro do meu peito, descobri nesse momento quanto medo eu ainda tinha por parte da rejeição. Se Tzuyu terminasse nossa amizade hoje eu não sei o que sobraria de mim.

Fiz-me confortável em uma das cadeiras do velho auditório e me permiti recuperar o fôlego que havia perdido só em imaginar o que me esperava mais tarde. Parecia que corri uma maratona de tão ofegante que estava, não podia me permitir ter um ataque de pânico logo aqui, nesse lugar recluso. Ninguém me encontraria até meu corpo entrar em decomposição, porque com toda certeza morreria esperando pelo socorro. Fechei meus olhos liberando minha mente de todos os pensamentos e focando no silêncio reconfortante do lugar, não era à toa que aquele era meu lugar secreto. Lá eu realmente conseguia relaxar e pensar.

- Marco. - Abri os olhos lentamente questionando se havia escutado mesmo o que eu pensava ter escutado. - Mina, eu sei que você está aqui.

Virei meu rosto até as grandes portas de entrada, me deparando com a melhor parte de toda essa confusa e sofrida realidade.