Aprenda A Me Reaprender

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Nós estávamos em meio a um silêncio doloroso a mais de alguns minutos. O clima tenso rodeava nossos corpos enrijecidos em medo e ansiosidade pelo que estava por vir. Eu não medi o peso daquelas palavras e certamente não me dei conta da intensidade a mais que elas ganhariam naquela situação. Chaeyoung me observava aflita com um toque visível de dor em seu olhar. Você não precisava ser nenhum especialista em relacionamentos para saber que coisas boas não vinham depois de um "nós precisamos conversar".

Ela estava evitando pensar nisso, mas com certeza imagina nosso término se sucedendo ao meu pronunciar de palavras. Eu estava sim ferida, mas era isso mesmo que eu queria? Vê-la daquele jeito não ajudava em nada o meu raciocínio. Meu maior ponto fraco era presenciar sua dor, meu Deus, era horrível. Tenho certeza que me doía mais do que se fosse em mim mesma. Esse era um ponto importante na situação que eu não sabia distinguir de burrice ou sensibilidade. No momento em que ela se mostrou ferida, meu rancor, raiva e dor se fizeram insignificantes.

Todos sempre dizem que esse tipo de coisa não é saudável em nenhum relacionamento, pois faz de você um sofredor submisso. Um alvo fácil para qualquer tentativa do outro impor sua vontade. Parte de mim sabia que isso fazia sentido, mas essa mesma parte de mim não sabia amar de forma saudável. Quando eu amo o faço com tudo que tenho, me entrego de corpo e alma, mesmo sendo isso algo que já me prejudicou bastante no passado. Quando se tratava de amor eu era como uma mergulhadora em águas rasas, ansiando por mais em um lugar extremamente limitado e sempre caindo de cabeça contra o fundo.

Mas com Chaeyoung não parecia ser assim, ela se entregava tanto quanto eu e isso me confundia. Eu não saberia determinar a data de validade do seu amor como fazia com todos os outros "loucamente apaixonados" que só duravam três meses.

- Fale alguma coisa - ela pediu com a voz disfarçadamente suave, ao fundo o ecoar do embargo de cada pronunciar de sílabas.

Fixei os olhos nos seus buscando neles a coerência das minhas palavras, mas de novo meu coração falava e batia mais alto. Meus lábios se partiram lentamente prontos para lhe dizer algo, mas não fiz. Minha mente dava voltas e mais voltas e era como se eu estivesse tonta com aquele redemoinho de possibilidades, ações e reações que viriam depois do meu pronunciar.

Então as palavras de Megan vieram à tona como um bolsão de ar correndo para a superfície de um mar revolto afoitamente. Se eu queria me resolver eu teria de me expor, expor meus pensamentos e meus incômodos. Eu deveria conversar.

- Um dia você me perguntou por que eu odiava tanto o Jimin. - fiz uma pausa para digerir o enjoo que me veio ao pronunciar aquele nome. Chaeyoung sacudiu a cabeça calmamente em confirmação, seu olhar intensamente preso ao meu e ansioso por qualquer ação minha exceto meu silêncio mórbido - No começo era apenas ciúme sim, eu admito, mas no dia do banheiro em que...

- Você o chutou no meio das pernas - ela terminou a frase para mim de forma afoita o que me arrancou um pequeno sorriso. Droga, ela me viu sorrir, era pra eu estar brava.

- É, isso mesmo - ruborizei quando ela retribuiu com um sorriso discreto. Um daqueles em que os lábios só se separam o suficiente para mostrar o branco dos dentes.

- Por que você o chutou no meio das pernas? - ela pediu já mais relaxada em meu colo, suas mãos buscando meu corpo, mas desconfiadas o suficiente para evitar invadir qualquer barreira que eu parecia ter erguido.

- Ele me parou no corredor para me dizer que ia pegar você de mim, que eu não era suficiente para te satisfazer e que ele ia te fazer gemer alto quando ele colocasse o...

Ela jogou a mão contra minha boca me impedindo de continuar a fala propriamente. Com o solavanco de seu gesto ela agora estava mais perto, bem mais perto. Seus olhos me encaravam abalados, as pupilas trêmulas alternando entre as minhas com certo desespero. Ela estava cogitando a verdade. Estava me lendo como sempre fazia quando eu dizia algo sério, procurando um traço de certeza para se apegar aos fatos sem nenhum ressentimento.

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora