As Pequenas Grandes Coisas

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Passei a aula inteira observando Chaeyoung concentrada ao meu lado tomando nota de tudo que saia da boca da velha lá na frente. Era engraçado como ela tratava de registrar tudo em seu tablet, o gravador de voz estava ligado desde que nos sentamos e por nenhum minuto parou sua função. Cansei de contar as vezes em que a mais nova reclamou comigo por tê-la feito sentar no fundo, por conta do murmurinho das pessoas. Todos sabem que os desinteressados são os frequentadores do fundo da sala, e por esse exato motivo a levei para ficar ali comigo. Mas ela estava determinada a aprender e me cutucou tanto falando o quão ruim ficaria sua gravação que eu a levei para sentar algumas cadeiras à frente.

Depois disso Chaeyoung ficou quieta e eu pude admirá-la em paz. Eu estava completamente esparramada na cadeira, minha coluna curvada quase servindo como apoio para o corpo no assento e os olhos alegres acompanhando cada movimento dela. Nossas mãos estavam entrelaçadas e brincavam em uma carícia de polegares. Ela tinha a mão mais linda desse mundo. Os dedos pequenos, delicados e meio gordinhos, eu sorri só de elogiá-los em meus pensamentos. Então a ideia de um anel me veio à mente, eu poderia dar um de presente.

- Eu odeio essa sala - tirei os olhos de suas mãos encarando agora sua careta. - Não importa quanta roupa você vista, sempre vai sentir frio.

Ela esfregou os braços com a mão livre e encolheu o corpo na cadeira.

- Silêncio, sua voz está atrapalhando a gravação. - sussurrei de volta e ela bufou. - Se continuar voltaremos lá pra trás, pelo menos você não estava se queixando do frio.

- Cala a boca. - suprimi uma risada e me ajeitei na cadeira ainda a observando. Pensei duas vezes e inclinei meu corpo para perto do seu levando minha boca até sua orelha.

- Quer a outra mão para se esquentar? - os pelos de sua nuca se eriçaram com o tom baixo da minha voz. Ela era incrivelmente sensível a mim.

Chaeyoung me empurrou com o ombro e fez menção de realmente soltar nossas mãos, mas eu não permiti. Ri baixo em seu ouvido e encostei o máximo possível no braço da cadeira a trazendo para perto de mim. Chaeyoung apoiou a cabeça em meu ombro, a testa tocando levemente minha mandíbula, enquanto eu a envolvi com o outro braço acariciando sua pele por sobre a blusa. Péssimo dia para vir de vestido e casaquinho, Son.

Não posso dizer que achei ruim aquilo, muito pelo contrário, eu estava adorando. Cada momento em que ficávamos grudadas era o paraíso na terra para mim. O fato de lhe dar carinho era minha maior gratificação, sua dependência e sua vontade de me ter por perto me causavam uma sensação indescritível. Perdi a conta de quantas vezes me perdi no aroma delicioso de seus cabelos abaixo do meu nariz, uma mistura de morango e cereja maravilhosa. Minha mão direita ia subindo e descendo pelo seu braço, minha boca de vez em quando pressionava sua cabeça em um beijo carinhoso e minha mão esquerda segurava a dela em meu colo, meus dedos de novo fascinados pelo contato dos seus.

A aula passou devagar, mas de um jeito bom. Por um momento pensei até que ela tivesse cochilado, foi o que quase aconteceu comigo.

- Então, pra onde vamos hoje? - ela perguntou animada. Meus olhos cresceram repentinamente ao recordar do nosso aniversário.

- É hoje? - tentei deixar minha voz soar o mais natural possível, mas acho que ela percebeu.

- Não amor, nosso aniversário é depois de amanhã - soltei o ar preso por conta do nervosismo relaxando minha postura na cadeira - Pelo visto eu não tenho muito o que esperar.

Ela riu levantando da cadeira e juntando suas coisas.

- Eu não esqueci, você só me confundiu. Ao que devo à essa alegria toda?

- Sei que não esqueceu, mas sua sorte é que seu ciúme é muito fofo e me deixou sorridente. - Sorri para ela baixando os olhos até a frente da sala, o viadinho não estava mais lá. Fui surpreendida pelas mãos de Chaeyoung em meu rosto assim que me coloquei de pé. - Pare de ciúmes! Ele sai cedo.

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora