A Proposta

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A manhã seguinte foi mais difícil de sobreviver na verdade. Perdi a conta de quanto tempo ficamos em sexo, mas sei que fomos dormir quase perto do amanhecer. Chaeyoung foi simplesmente incrível de todas as formas, ela é o tipo de pessoa curiosa e que aprende muito rápido quando quer. Parecia um reflexo meu.

Como já passava das dez, deduzi eu que ela não está nem um pouco preocupada em ir para a aula hoje. Seu despertador tocou umas quatro vezes já, e mesmo assim ela não estava de pé. Já não posso dizer o mesmo sobre mim. Contei algumas poucas horas de sono até o momento em que meu pai me ligou e eu tive de deixar a cama para atendê-lo, o que foi uma novidade para mim, porque geralmente eu só atendo quando me é conveniente. Talvez eu esteja amolecendo.

Peguei algumas peças de roupa no chão e fui para sala, para não acordar Chaeyoung com nossa conversa. No começo eu ainda estava com um pé atrás em relação a Michael, os acontecimentos da noite passada, nossa rápida conversa e minhas suspeitas não me deixavam avançar muito em sua direção sem antes tomar algumas precauções. Mas ele se mostrou preocupado comigo, logo de cara perguntando se eu já estava melhor e se estava com Chaeyoung. Eu ri comigo mesma. Mesmo não lhe contando nada ele já sabia da intensidade do que rolava entre nós, o que era impressionante devido ao fato de que ele se privou desse tipo de avaliação sobre mim há muitos anos atrás.

Sem eu lhe dar uma pista, o desgraçado colocou em palavras tudo que eu sentia por ela. Até minhas inseguranças e meus medos. Não sei quantas vezes bufei na linha, indignada com ele e, mais ainda comigo mesma por ser tão facilmente decifrável. Parece que quanto mais eu tentava mudar e lhe deixar totalmente por fora, mais ele percebia minhas máscaras e os motivos para cada uma delas. Eu estava começando a perceber que esse era um esforço insignificante. Com o assunto da Chaeyoung, veio também todo o seu apoio sobre nós. Michael não mediu palavras para dizer o quão lindas éramos juntas e o quão bem fazíamos uma a outra, todas essas conclusões depois de apenas algumas palavras rápidas.

Eu poderia entrar em minha neurose novamente se não fosse pela sinceridade na forma como ele nos elogiava. O jeito como ele parecia fazer questão de me convencer do que estava dizendo me fez lembrar os velhos tempos, tempos esses em que ele realmente se importava com a minha felicidade e com o meu bem estar. Talvez as pessoas pudessem sim mudar, ou se recuperar, afinal, estava acontecendo comigo. Mas eu tive ajuda da Chaeyoung e ele... Bom, não acredito que minha mãe tenha sido algum diferencial grandioso em seus dias. Coloquei-me a pensar ao mesmo tempo em que lhe ouvia e decidi me entregar dessa vez.

Conversamos como nunca antes. Se pouco durou não foi menos de uma hora. Começamos com meu namoro, minhas incertezas, os ciúmes, os pais da Chaeyoung. Michael até me ofereceu ajuda para enfrenta-los quando eu estivesse pronta ou se necessário. Distribui risos para todos os cantos do apartamento enquanto os assuntos iam passeando de um para outro, dos mais cômicos para os mais sérios, até que chegamos em Nayeon. Do contrário que eu esperava, o clima entre nós não mudou com o assunto. Meu pai me deu todas as explicações e pediu mais desculpas do que tudo por não ter me contado antes.

O estrago já estava feito, essa era a verdade, mas eu não iria priva-la de tentar ser alguém nessa vida, ainda mais se ela está realmente determinada a mudar como anda dizendo por ai. Não teria problema vê-la trabalhando na empresa dele, foi o que eu pensei até que recebi uma proposta sua.

- Pai, você sabe que eu não quero me meter nessas coisas. - parei apoiada ao balcão da cozinha. Eu estive rodando todo o apartamento enquanto conversava.

- Eu sei minha filha, mas você é a única pessoa que eu confio para isso e que sei que é capaz.

- E a Clara? - ele suspirou ao ver que eu ainda não me referia a minha mãe da forma devida.

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora