Latch PT2

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Contagem regressiva para o fim...5...

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Baixei a voz ainda mais e me pus a caminhar de um lado a outro, de cabeça baixa, enquanto explicava meu pedido detalhadamente para ele. Após algumas perguntas e silêncios analisadores, Simon finalmente me fez sorrir largamente ao me dizer um sim.

- Eu não sei nem como te agradecer - ele riu do outro lado da linha.

- Não precisa, só diga para sua amiga não faltar dessa vez.

- Eu direi. Muito obrigada! - enfatizei antes de desligar. Girei o corpo, erguendo o olhar para frente, pronta para voltar para a cozinha e terminar o que estava fazendo, quando encontrei Chaeyoung sentada em frente ao balcão, já tomando de seu chocolate quente. Droga, será que ela havia escutado algo?

- É tão estranho ver você pendurada no celular dessa forma. Acho que é algo que vai ter que se acostumar agora que assumiu a empresa. - sorri envergonhada, não era por nada profissional que estive pendurada ao telefone.

- Acho que sim, mas é um pequeno sacrifício. Além do mais, posso desligar sempre que quiser. - me aproximei, parando ao seu lado e colocando o aparelho, já pronto para desligar, sobre o balcão.

- As pessoas não vão enlouquecer se não conseguirem te encontrar?

- Provavelmente. - dei de ombros me encostando no balcão atrás de mim e dando uma golada em meu chocolate - Mas é pra isso que a Bunny está por lá. Não entrei nessa empresa pra ser consumida viva, não é isso que eu quero.

- O que você quer?

- Pra ser bem sincera? - abaixei a xícara e girei o rosto em sua direção - Eu não sei direito. Acho que antes de tudo era encontrar uma forma de me sentir importante e necessária em algo, me sentir inclusa em alguma coisa importante. Depois veio certa alegria por estar cuidando do que um dia meu pai criou e pensou em deixar para mim. Quer dizer, se ele cogitou isso... algo significa.

- Ele fez bem em te escolher, mesmo você odiando, sempre manejou bem as tarefas que lhe eram dadas. - a mais nova se encolheu no banco, dizendo tudo aquilo sem ao menos direcionar o olhar para mim. Apesar de ter me alegrado com sua fala, não demonstrei. Estávamos em um momento meio estranho e não queria ser a primeira a cogitar coisas.

- O resto da semana passarei fazendo de tudo voltado à publicidade. Você ficará cansada de ver minha cara estampada por aí. - ri sozinha, esperando que ela estivesse fazendo o mesmo. - Eles me disseram pra ir com calma, que não havia necessidade para espalhar tal notícia dessa forma. Mas eu sei que eles tem medo da minha imagem pública, infelizmente é algo que não posso mudar de um dia para o outro. É ridícula a forma como me olharam hoje nas reuniões, estava todos me menosprezando sem ao menos ouvir o que eu tinha a dizer. Era quase como se fosse uma causa perdida, na qual eles só estivessem esperando uma chance para se desfazer. Eu sinto que tenho de ficar triplamente alerta naquela empresa, é quase sufocante.

Aquilo foi um desabafo e eu não havia me dado conta de quando cogitei solta-lo para a mais nova. Depois de minha última palavra apenas Shadow fazia algum ruído dentro da casa, o que me deixou angustiada. Provavelmente eu tinha cruzado algum limite nosso ao dizer tudo aquilo, claro que estávamos conversando, mas nada tão íntimo. Era apenas, preenchimento de vazio. Respirei fundo e tornei a girar o rosto em sua direção, me surpreendendo ao pega-la me encarando sem muita cerimônia. Por um instante eu decidi não me manifestar, apenas encarar de volta e ver até onde aquilo duraria. Mas me arrependi logo em seguida, quando nossos olhos se mantiveram intensamente fixos uns aos outros. Fazia um bom tempo desde que nos analisamos dessa forma, desde que conversamos dessa forma. Agora o silêncio não era tão mais incômodo, mas mesmo assim eu ainda queria saber o porque de tudo aquilo.

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora