Boas Notícias

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Se existia algo de bom nessa vida com certeza era amor compartilhado. Não me lembro da última vez em que estive tão apaixonada quanto estou agora, já havia um tempo em que eu havia me prometido não me deixar mais sentir essas coisas, pra mim tudo isso era fraqueza, certo tipo de estupidez generalizada.

Se você pensar bem, amor é tão ruim quanto é bom, ele te alegra na mesma intensidade que te entristece. A melhor definição que encontrei foi uma que dizia que amar era como se lançar de um precipício sem saber se lá embaixo vai ter alguém para te pegar. É isso que eu me sentia fazendo nesse exato momento. Eu me joguei sem nem olhar para os lados, me lancei sem ao menos checar se tinha uma corda presa à minha cintura ou um paraquedas em minhas costas. Entreguei-me da pior forma possível: sem nem me dar conta.

Mas não era tão assustador quanto eu pensava que seria e todo esse crédito eu dava a garota ao meu lado. Ela fazia tudo parecer tão fácil, tão simples. Esse jeito desinteressado dela me invejava, parece que nada nessa vida poderia afetá-la, mesmo que não fosse bem assim.

Ficamos pela primeira vez no que pareceu ser o mais próximo possível de um total silêncio. Chaeyoung ia me guiando dizendo pontos de referência próximos ao consultório de seu médico, depois se calava. Mas era uma calmaria boa, uma áurea leve e alegre. Nossas mãos iam entrelaçadas o caminho todo, meu polegar deslizando calmamente sobre o seu enquanto repousavam sobre sua perna esquerda. Ela tinha a cabeça encostada no vidro como quem admira a paisagem turva lá fora. De vez em quando eu arriscava olhar em sua direção só para admirar a leveza de sua expressão e me iludir pensando que eu seria o motivo.

Deixei que continuássemos daquela forma, não era desconfortável a ponto de me fazer iniciar uma conversa sem muito fundamento, até porque eu não estava pensando claramente no momento. Depois que nos beijamos eu não consegui mais me manter impassível, eu carregava o sorriso mais ridículo que alguém poderia ter. Eu estava tão alegre que era tosco. Nada na vida se compara à forma com a qual me encontro agora, meu estômago revirava, meu corpo estava mais leve, entorpecido liberando felicidade por todos os poros. Aquilo me era tão novo, eu pensei que um dia eu já havia me apaixonado completamente, mas hoje só me provou o contrário. Eu mal sabia o que era isso e estava mais determinada do que nunca a descobrir.

Finalmente chegamos ao prédio que parecia ser destinado apenas a consultório médicos e atendimentos de emergência. Era como uma clínica formada por profissionais independentes que se juntavam para ajudar à todos, achei a iniciativa incrível enquanto Chaeyoung me contava os detalhes de seu funcionamento e me apresentava aos diversos conhecidos que tinha por ali.

- Você é bem famosa aqui, tenho medo de perguntar como isso se deu. - brinquei quando entramos no elevador junto a um pequeno grupo de pessoas. Corri para o fundo já que o nosso destino era o mais alto que o de todos ali e a arrastei comigo, aproveitando do espaço pequeno para tê-la o mais próximo possível ao meu corpo.

- Eu fui uma criança difícil.

- Isso foi por causa dos seus cortes? - sussurrei perto de seu ouvido temendo o assunto que estava trazendo à tona. Ela esbanjou um sorriso e sacudiu a cabeça.

- Não, eu apenas era inquieta demais e gostava de aventuras, então quase sempre eu estava por aqui.

- Não pense que isso se limita aos seus dias de criança, Dahyun me contou suas recentes "aventuras". - brinquei arrancando-lhe um riso, seu rosto apoiando em meu ombro. - Não ouse fazer essas coisas comigo.

- Por quê? - seus lábios se apertaram em um bico.

- Porque ai seremos nós duas visitando esse lugar sempre.

- Você iria cuidar de mim?

- Não, eu iria me acidentar com você. - ela sorriu erguendo o rosto na direção do meu. Eu sabia exatamente o que ela queria quando percebi que aguardava algo. Esperei que a última pessoa saísse e então apertei meus lábios nos seus em um selinho demorado. Não podia me dar ao luxo de reproduzir nossa última vez em um elevador, então aquilo teria que ser o suficiente, ao menos por agora.

Requiem - Michaeng [BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora