Requiem - Michaeng [BR]

A Verdade Sobre Tudo

Lar doce lar. Em uma ação digna de um turista esplandecido com o novo ambiente ao qual chegara, pisei para fora do avião e inflei os pulmões com toda a delícia e emoção de estar em Nova Iorque. Escutei Oliver pigarrear atrás de mim, meio que reclamando do meu bom humor. Ele havia feito isso o dia todo, era quase irritante, até mesmo pra mim, que era a namorada da pessoa mais irritante do mundo. Lancei um rápido olhar para o loiro, ele estava de cabeça baixa, focado na telinha de seu celular enquanto apertava os olhos para dar conta de enxergar o mesmo e o caminho em sua frente. Ri comigo mesma, ele estava assim desde que o dia amanheceu. Sempre que eu tentava descobrir o que estava se passando, ele me vinha com uma desculpa diferente; antes de entrarmos no avião nem isso mais ele fazia, apenas se limitava a rosnados e rugidos quando eu tentava pescar algo.

Por um momento eu realmente fiquei preocupada, seu comportamento nesses três dias foi completamente fora das minhas expectativas. Não minto que quando o encontrei naquele avião, pronto para me acompanhar com seu jeito "cuidarei de você", eu senti a raiva me subir. Mas, de novo, ele me surpreendeu com uma fala que nunca cogitei sair de sua boca fina: Chaeyoung pediu que eu viesse. Engasguei em um riso quando escutei aquilo, chamando a atenção de quase todos dentro do avião e rendendo uma boa piada depois. Depois daquilo viramos outras pessoas, não posso dizer que foi como se eu estivesse viajando com um grande amigo ou coisa assim, mas sua companhia realmente não me foi um fardo. Chegamos na Coréia entre risos e, apesar do clima pesado que me levou a essa viagem repentina, consegui me desligar das coisas ruins por alguns dos instantes em que estava ao seu lado.

No dia seguinte à minha chegada, eu fui me consultar com Dami. Ela ficou surpresa em me ver e agradeceu por não ser nas mesmas circunstâncias de sempre. Fiz diversos exames, lhe dei quase que o dia inteiro de consultas e testes, tanto de coração como de todas as outras coisas possíveis. Meu sorriso hoje se dava a fato de que ela não havia encontrado absolutamente nada de anormal em mim, além do que eu já tinha, claro. Apesar de sua falta de certeza na hora de explicar o porquê de tantas ocorrências em tão pouco tempo, ela se mostrou bastante segura em me dizer que eu estava fora de perigo, contanto que me mantivesse distante de situações de ira ou preocupação. Desespero era o meu problema e eu daria um jeito de me livrar dele de agora em diante.

- Seu pai andou me ligando - Oliver me interrompeu assim que passamos pelo portão de desembarque. Uma notícia que antes me renderia, nada mais, do que uma boa dor de cabeça agora foi apenas como mais uma notícia que eu já esperava receber.

- E...

- Você vai me gritar se eu disser que o atendi? - sorri de canto e sacudi a cabeça com sua fala.

- Eu não sou mais assim, Oli. Fui para Coréia para relaxar, lembra? - claro que eu não havia contado para ele o real motivo de ter viajado, por mais que eu confiasse, ninguém estaria capacitado para guardar um segredo tão grande e, fora isso, eu realmente usei da viagem para respirar um pouco de paz.

- Nunca se sabe a validade desses seus remédios - dessa vez eu ri mais alto - O atendi ontem.

- E como ele estava?

- Bastante... Normal - minhas sobrancelhas se apertaram enquanto as dele se ergueram - Sim, essa foi minha exata reação. Eu realmente esperava alguma bronca, algum aviso de demissão ou polícia em minha cola.

- Mas o que ele falou?

- Apenas que quando retornássemos o avisasse para que Nayeon pudesse vir nos buscar.

- Só isso? - o encarei desconfiada, não dele, mas do meu pai.

- Só isso - ele deu de ombros e voltou a encarar seu celular. Realmente isso era estranho, se ele usou do plural para se referir a Oliver, então ele sabia que estávamos juntos e fora de Nova Iorque. Mas essa não era a atitude que eu esperava vir de Michael Myoui, não depois de saber que sua filha o estava investigando e ter mandado prendê-la.