Aos olhos de Joseph

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" Caro sr. Hunter,

Essa carta está sendo enviada ao senhor no exato instante da partida de Elisa, a garota continua muito abalada com tudo que aconteceu então achei prudente que ela viajasse acompanhada. Rose, uma de nossas funcionárias de maior confiança, estará com ela durante toda a viagem. O avião deve chegar por volta do meio dia e creio que o senhor queira buscá-la no aeroporto. Com relação ao assunto do assassinato dos pais de Elisa, o caso está sendo investigado porém faremos de tudo para que o nome da família Hunter permaneça intacto.

William. "

Assim que termino de ler a carta de William vejo que já passa do meio dia, com certeza ele confiou demais nos correios daquela mísera cidade do interior, se é que pode ser chamada de cidade. Saio de meu escritório e a primeira pessoa que vejo é Alicia, uma empregada de muita confiança da familia Hunter, como sempre apressada para deixar tudo em perfeita ordem.

- Alícia, chame um taxi para buscar a senhorita Stewart e sua acompanhante no aeroporto agora mesmo. - No mesmo instante ouço a campainha tocar.

Alícia corre para abrir a porta e assim que o faz vejo uma garota de pele clara, com longos cabelos castanhos, de baixa estatura e corpo franzino, em suas mãos apenas uma mochila azul. Em seu rosto, as expressões de uma garota de 17 anos que acabou de perder seus pais. Elisa é exatamente tudo que eu não imaginei.

- Elisa, seja bem vinda! - Diz Alícia, com um sorriso extravagante nos lábios.

A garota passa pela porta devagar e seus grandes olhos castanhos correm soltos pela casa como se estivesse interessada em cada vértice do local, seus labios entre abertos e sua expressão corporal demonstram seu interesse e curiosidade.

Assim que soube da vinda da garota para minha casa, tenho estado preocupado. sou um homem muito ocupado e com toda certeza não tenho tempo para futilidades de adolescentes. Pensei em tudo para que meu trabalho não seja afetado, quero mantê-la o mais longe possivel de mim, se possível quero que tudo seja como antes de sua chegada.

- Alícia, leve a senhorita Stewart até seu quarto. - Digo seriamente enquanto ponho as mãos nos bolsos do meu terno.

- Tem certeza senhor? Quer mesmo colocá-la naquele quarto? - Sussurra Alícia, com olhos piedosos.

- Desde quando você me questiona? - Digo, levantando meu tom de voz.

Alícia olha para baixo com expressões de indignação enquanto guia Elisa e Rose até o quarto que na verdade é o antigo porão da casa, passou por algumas reformas porém continua com o "ar" de porão. É um local que costuma ser frio e úmido, mas achei adequado por ser longe do meu escritório e lá ela poderá fazer todo o barulho que quiser, sem que me incomode. A presença dela já é frustrante demais para mim.

A explicação para tudo que está acontecendo é que minha falecida mãe, Elena, era muito amiga da mãe de Elisa. Quando a garota nasceu, sua mãe convidou a minha para ser madrinha de sua filha. Por conta da falta de parentes de Elisa, fui escolhido para cuidar dela até que complete 18 anos e possa decidir seu próprio futuro fora da minha casa.











**












Faz apenas algumas horas que Elisa chegou em minha casa e sinto que estive errado no que pensava sobre ela, pelo menos até agora. Desde que chegou ainda não escutei sua voz, nem nada das futilidades adolescentes que imaginei. Pelo contrário, Elisa tem se mostrado uma jovem quieta e que gosta de ficar com seus próprios pensamentos. Talvez isso se deve a morte recente de seus pais, ou talvez estou a tanto tempo trancado nesse escritório e não percebi que estão dando uma festa na minha sala.

Olho para o relógio na parede e vejo que já é noite. Está quase na hora do jantar e eu ficarei frente à frente com Elisa mais uma vez. Saio de meu escritório e fecho a porta devagar, pelo que vejo a casa está mais silenciosa que nunca e não há nenhuma festa e nenhum bando de adolescentes bêbados na minha sala.

- Senhor Hunter, a senhorita Stewart aguarda o senhor para o jantar.












Elisa - Vol. I Onde histórias criam vida. Descubra agora