Perdão

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Hoje acordei cedo, por algum motivo estou disposta como nunca. Talvez dois dias sem a presença do Senhor Hunter tenham feito bem para mim, ou talvez seja só o inicio da primavera que me deixa assim, animada.

A época das flores era a favorita da minha mãe, e a minha também. Mesmo que eu não tenha saido nenhuma vez desde o dia em que cheguei na mansão Hunter, posso ver o colorido da estação pela janela.

Subo as escadas à procura de Alícia, é a primeira vez que venho aqui. Essa parte da mansão ainda era desconhecida para mim. Deparo-me com um longo corredor, com uma varanda ao final - O que faz com que o local seja bem iluminado e ventilado - vou abrindo portas aleatoriamente até que em uma delas acabo esbarrando com o senhor Hunter. Sim, ele mesmo, quem eu pensava estar viajando.

Não consigo evitar o nervosismo, que me incomoda bastante mas sempre aparece quando estou frente à frente com ele. O que ele tem que me deixa assim?

- Elisa ... - Ele diz, seu corpo está tão próximo do meu que posso sentir o seu perfume.

- É ... Eu ... Entrei sem bater, descul ... - Antes que eu fosse capaz de fechar a porta, sinto sua mão segurar meu pulso.

- Espera - Ele diz, olhando firmemente em meus olhos.

- Sim ... - Digo, e percebo pelo seu sorriso discreto e ao mesmo tempo irônico que ele está notando minha respiração acelerada.

- Eu quero pedir perdão à você ... Pela nossa última conversa no jantar, eu acredito que a maneira como a tratei não foi adequada. - Ele diz, ainda olhando profundamente em meus olhos.

- O senhor não precisa pedir perdão, um homem como o senhor não deve fazer isso. Eu sou apenas uma garota órfã que está na sua casa por piedade, e eu agradeço, mas não precisa se preocupar com meus sentimentos. - As palavras saem da minha boca mas não do meu coração.

Não era isso que eu gostaria de dizer à ele, eu gostaria de agradecer por sua bondade, de perdoá-lo pela nossa ultima conversa e pedir perdão pelo que eu também disse. Mas o tipo de homem que o Senhor Hunter demonstra ser as vezes faz com que eu seja incapaz de demostrar fraquezas.

A troca de olhares continua acontecendo, mas é como eu disse, não posso demonstrar o quanto ele mexe comigo. Então eu fecho a porta sem dizer mais nenhuma palavra.

Desço as escadas rapidamente e corro para meu quarto, onde não consigo segurar as lágrimas que agora estão escorrendo por meu rosto.

Sei que não tenho motivos para isso, para o nervosismo, a respiração ofegante, o corpo que treme só em ouvir sua voz, só em ouvir essa voz falar o meu nome. Eu devo estar ficando louca.










...







Abro meus olhos lentamente logo quando percebo que havia adormecido. Já deve ser bem tarde. Ouço passos descendo as escadas.

- Elisa ...Já está na hora do jantar - Diz Alícia, com a porta entre aberta.

- Alícia ... Você sabe o que aconteceu na última vez em que eu e o Senhor Hunter jantamos.

- Mas querida ... Vocês não podem ficar sem se falar para sempre, vocês vivem na mesma casa. E além disso, hoje é um jantar especial. - Diz Alícia, com um sorriso esperançoso.

- Especial porque? - Digo, levantando-me da cama.

- Um sócio da empresa do senhor Hunter veio de longe para resolver umas questões e vai passar uns dias aqui. Talvez seja bom para você conhecer gente nova, não ficar mais tão sozinha ...

- Não sei se é uma boa ideia Alícia. - Digo sentando-me na cama.

- Vou ajudá-la a se arrumar, talvez você fique mais animada.

Sento em uma cadeira de costas para Alícia, ela solta meus cabelos e começa a penteá-los.

- Vou deixá-la mais linda ainda. - Diz Alícia, com seu sorriso extravagante.








...








- Senhor Hunter, Elisa irá jantar com os senhores esta noite.








Elisa - Vol. I Onde histórias criam vida. Descubra agora