- Aqui está! - Michael sentou-se na minha frente, me entregando meu lanche. - Ei, chorando de novo?
- Michael, não é possível que isso esteja acontecendo de novo comigo. Eu não quero acreditar. A culpa é toda minha.
- Olivia. Se você falar novamente que a culpa é sua, eu vou ficar muito bravo com você. Nada disso é culpa sua. Você é uma amiga incrível e tenho certeza de que é uma ótima irmã também.
- O encontrei horas depois dele ter perdido a consciência - comecei, mantendo um tom de voz baixo enquanto colocava o frango no molho. - Senti que se eu não tivesse demorado tanto pra voltar da escola aquele dia, eu poderia ter salvo ele. Mas eu fiquei lá, porque eu queria me inscrever para o concurso de contos e as inscrições só abriam às cinco da tarde. Se eu tivesse voltado no horário certo, talvez eu teria encontrado ele bem. Talvez ele não teria se injetado tanto que seu corpo não aguentou processar tanta droga e desistiu. Se não fosse minha maldita paixão por escrever, ele poderia estar vivo hoje. Por isso eu nunca mais consegui escrever nada direito. Se eu tivesse olhado o quarto de Lauren antes de descer as escadas, ela não estaria passando por isso agora. A culpa é minha. Eu poderia ter evitado as duas overdoses. Meu irmão poderia estar vivo agora, Michael.
Eu soluçava em cima da comida. Provavelmente os funcionários do restaurante estavam me encarando, mas eu não liguei. Michael rapidamente saiu da minha frente e sentou-se ao meu lado para me dar um abraço. Ele fez carinho na minha bochecha e puxou meu rosto para o seu.
Depositou um beijo carinhoso nos meus lábios e encostou sua testa na minha.
- Não poderia, não. Não foi culpa sua, nem aquela época, nem agora. Tira isso da sua cabeça. Eu sei como é se sentir impotente perante as coisas, porque eu tenho depressão. Não estou comparando seu sofrimento com o meu, jamais. Apenas digo que sei como é a dor do vazio. Uns anos atrás eu estava realmente muito mal da cabeça, mas depois de ter ido no Langford eu fiquei bem melhor. Os meninos e os fãs me ajudaram a superar. Minha namorada da época também. Eu estou aqui pra ajudar você também, Olivia. Você é uma pessoa boa, não deve se culpar nunca pelo que aconteceu. Tá?
Dei outro beijo nele e assenti. Me virei para os Tenders e comecei a comer lentamente. Depois de comer em silêncio metade da porção, percebi o que Michael havia me contado, e eu não tinha dito nada.
- Obrigada por compartilhar comigo sobre sua saúde mental.
- Não precisa agradecer. Eu falo sobre isso abertamente. A primeira vez foi num show em 2015.
- Ah.
Senti meu rosto corar. Afinal de contas, eu não era especial por ele estar compartilhando essa informação comigo.
- Lembra ontem, quando discutíamos sobre gravar ou não uma música? E que eu falei que nenhuma música chegaria aos pés de Jet Black Heart? É porque diferente do que todo mundo pensa, eu não canto sobre uma garota, e sim sobre meus sonhos e meus objetivos de vida. O furacão que existe por baixo do meu coração negro é a depressão, que tenta me afastar do que eu mais quero fazer na vida. A música fala sobre nossos demônios, o meu é a depressão, o seu é o fardo que você carrega da morte do seu irmão. Tem uma ponte onde o Luke canta sobre não ter nada depois da meia noite que pudesse fazer você ficar... o você, é a vida. Uma pessoa tão no fundo do poço que está prestes a cometer suicídio - ele falava sério. - Ah, e a caneta venenosa é sobre os comentários maldosos que muitas pessoas fazem sobre nós. Losing Myself, a música que os meninos estavam falando, trata do mesmo tema, e pra mim ela é extremamente delicada, porque eu escrevi ela agora. Tenho medo de cair no mesmo buraco sem fundo onde eu estava antes, e não sei se dessa vez quero compartilhar com o mundo como fiz com Jet Black Heart.
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Chuveiro
FanfictionOlivia Beckford é uma renomada fotógrafa que divide a casa com sua melhor amiga Lauren, uma instagrammer (e groupie) famosa. A vida de Olivia vira de cabeça para baixo no dia em que o melhor amigo do novo namorado de Lauren invade a casa pela janela...