Chuveiro

23. Lie To Me

Michael chorava compulsivamente, como uma criança em prantos. Assim como eu chorei na quarta quando descobri sobre Lauren e a heroína. Talvez ele estivesse chorando mais. Ele ainda não havia me dito o que tinha acontecido, mas estava completamente molhado da chuva. Eu havia apenas trancado novamente a porta e ficado ali, em pé, abraçada a ele.

Eu já estava completamente molhada das lágrimas e completamente desperta. Beijei a bochecha dele e segurei seu rosto entre minhas mãos.

- O que aconteceu, meu amor?

Chamei ele de amor sem querer. Simplesmente escapou. Pelo amor de Deus, eu conheci ele essa semana. Se ele não sair correndo agora, não sai nunca mais.

Ele me olhou com seus grandes olhos verdes e soluçou. Seu rosto estava inchado de tanto chorar.

- Não era pra você estar no estúdio? - Falei.

- Eu tava - ele disse, entre soluços. - Eu decidi que iríamos gravar a música. Eu gravei. Foi o vocal mais bonito da minha vida. Mas depois eu não consegui mais parar de chorar. Me fez muito mal, como se eu tivesse rasgado meu coração para o mundo.

- Vem, vou dar um banho em você - peguei na mão dele e o guiei escada acima.

Ao chegar no banheiro, tirei as roupas molhadas que grudavam no corpo dele. Parecia que eu estava cuidando de um ser indefeso. E ele deixava. Seus olhos praticamente pediam ajuda. Abri meu chuveiro em uma temperatura morna e o coloquei embaixo dele. Tirei meu pijama úmido de abraçá-lo e o acompanhei. Passei sabonete em toda a extensão do corpo dele e vi suas lágrimas se misturarem com a água do chuveiro. Quando terminamos, o enrolei numa toalha seca e macia e me enrolei no meu roupão. Fomos para o meu quarto e eu peguei uma camiseta velha do Red Hot Chili Peppers e um shorts do Bob Esponja e dei pra ele vestir. Coloquei outro pijama, seco. Ele se deitou antes de mim na cama e eu me enrolei ao redor dele.

Dessa vez eu era a Big Spoon dele.

- Os meninos sabem que você veio pra cá? Devem ter ficado preocupados com você.

- Quando eu comecei a chorar, eles vieram me abraçar, ficaram mal demais. Pediram desculpas, falaram que a música não precisa nem ser editada. Mas eu falei que eu queria sim, que a música fosse editada e lançada. Que o maior sacrifício eu já tinha feito, e doeu, mas eu acho que precisei passar por isso. Só não sei se eu tenho estruturas pra cantar isso ao vivo. Passamos por uma situação parecida com Ashton quando gravamos Broken Home, mas a diferença é que ele simplesmente não cantou absolutamente nada da música por não se sentir emocionalmente capaz de fazer isso. Eu não me senti emocionalmente capaz de cantar Losing Myself mas eu cantei ela inteira sozinho. Isso acabou com o meu psicológico. Era eu falando sobre tudo de ruim que já se passou pela minha cabeça. Sozinho. Eles ficaram lá pra gravar os outros instrumentos e o Calum falou pra eu ir esfriar a cabeça, caso quisesse. Luke sugeriu que eu encontrasse você mais tarde. Mas eu não consegui esperar. E fiquei tão pior quando pisei pra fora do estúdio que eu só consegui dirigir até aqui e bater na sua campainha desesperadamente - ele ainda soluçava. - Me desculpa.

- Você é a pessoa mais incrível, bondosa, generosa, iluminada e especial que eu conheço, Michael. Você se doa em tudo que faz. Parabéns por ter cantado a música que tanto machuca você. E você não tem que se desculpar de nada. Estou aqui pra ser a sua Big Spoon também.

Ele se virou pra mim e me olhou nos olhos. Eu sorri de canto e ele colou seus lábios nos meus.

- Obrigado por estar aqui por mim. 

- Você esteve aqui por mim sempre que eu precisei, mesmo que a gente só se conheça há poucos dias. Mas acho que foram os dias mais loucos da minha vida.