Prólogo

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Dedicatória...

Dedico esse livro, para duas pessoas especiais que de alguma forma ( com certeza elas não batem bem da cabeça) falaram que eu poderia escrever algo.

Obrigada  a Isabelle  e Juliana por me incentivarem escrever uma original, vocês de fato são loucas, mas amo vocês <3

Observo pela a janela do Bella's Club o outro lado da rua. O neon da fachada do clube está com algum tipo de defeito e isso tem alguns anos. O néon vermelho está piscando e atrapalhando um pouco a visão. A rua está com um movimento tranquilo, habitual para uma terça-feira. Uma picape prateada da Ford aproximou-se do local e estacionou, eu nunca a vi por aqui. Não consigo enxergar quem saiu, o neon novamente atrapalhou. Me atenho ao outro lado da rua e tem duas pessoas conversando, dois homens fortes e altos, um mostra alguma mercadoria numa mochila.

São nove e quarenta e oito, está quase na hora do show da noite.

Cuidadosamente eu fecho a velha janela enferrujada e barulhenta e caminho em direção a penteadeira. Mesmo com um movimento fraco, eu tenho um show para fazer e para ele acontecer, eu preciso estar maquiada e montada para o espetáculo, afinal, uma stripper não pode ir de roupa de dormir dos Bananas de Pijamas.

Ser uma stripper foi tudo o que desejei quando sai de Santiago Papasquiaro no México, — deixando claro que isso é um sarcasmo. Eu sai de uma cidade pequena com cerca de quarenta mil habitantes, isso faz uns três anos. O sonho americano sempre foi uma utopia para os pobres mexicanos que sofrem do outro lado da fronteira, a falta de emprego e o desejo de ter uma vida melhor é a razão para todos os dias mexicanos desesperados por algo melhor atravessarem a fronteira para o vizinho rico. No entanto, a maioria desses sonhos torna-se um grande um pesadelo.

Eu tinha dezoito anos quando a vida me obrigou a sair da minha cidade natal de uma forma trágica. Eu escolhi arriscar a minha sorte, arrumei minha mochila surrada da Adidas — possivelmente falsificada — e fiz a caminhada. Eu tinha esperanças que algo melhor fosse acontecer comigo, como qualquer um dos sofredores, eu acreditava que por tudo o que eu passei na minha curta vida, eu merecia triunfar, acreditei que no outro lado da fronteira iria encontrar enfim a paz que desejei, mas não foi isso o que aconteceu. Nada do que planejei e sonhei veio.

— Madlyn, dez minutos! — Xiomara, uma colega de quarto me avisa. Ela já está montada com a sua roupa de odalisca e sua maquiagem preta carregada nos olhos destacando seus olhos castanhos — Temos visitas importantes hoje.

— Mais traficantes? — pergunto irônica. Abri o frasco da base líquida e me posicionei em frente ao espelho.

— Um dia você vai morder essa sua língua Madlyn, se arruma e sem caras feias. — apenas escutei a batida da porta quando ela fechou. Todos os dias eu sigo o mesmo ritual, base, corretivo, pó, sombras, delineador, lápis e batom. Vermelho para todas as noites.

Depois dos anos nesse lugar, eu praticamente anulei os meus sonhos. A vida fez questão de mandá-los embora e esfregar bem no meu rosto o meu lugar. O mundo não é um conto de fadas com final feliz, ao contrário, é um conto de foda, todos os dias somos fodidos de uma maneira diferente. Afinal, eu sou propriedade do Bella's club, não somos permitidas a sonhar, somos objetos que geram lucros e distraem homens durante negociações.

A imagem refletida no espelho é de uma mulher atraente para os outros e morta para si.

Depois de me maquiar, é a hora da roupa do meu show. A minha fantasia é de uma marinheira, top branco e short na cor da bandeira americana. Fecho o zíper da bota. Eu consigo imaginar o que acontecerá lá embaixo, é quase que automático, irei dançar no pole dance, depois no colo de algum cliente, embebedá-los...

Sr & Sra Adams (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora