21. Tatuagem

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Sentada sozinha na cama de meu quarto no segundo andar, aprecio a solidão e o silêncio o máximo que posso

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Sentada sozinha na cama de meu quarto no segundo andar, aprecio a solidão e o silêncio o máximo que posso. Havia sido difícil entrar naquele apartamento sem lembrar de como Loki parecera animado durante nosso breve tempo ali. Mantive-me quieta o tempo todo mesmo enquanto forçava alguns brioches a preencherem meu estômago, sempre com Hayley ao meu lado. Ela não dizia nada, apenas ordenava que eu comesse mesmo que não sentisse vontade alguma e meu estômago rejeitasse a maior parte de tudo o que eu tentava engolir.

Depois do rápido lanche, peguei um copo cheio de suco de amoras e o levei até o quarto, onde me deitei debaixo de cobertores macios e dormi o máximo que pude. Felizmente, não tive sonhos ou pesadelos, minha mente simplesmente apagou, talvez pelo cansaço ou apenas como um sistema de defesa natural de minha instável mente.

Agora, depois de acordar, espero pacientemente pela chegada de Frako, que me aprontará e levará à entrevista final, onde cada ação, reação ou farsa minha será friamente questionada. Caesar Flickerman tentará parecer dócil e amável, mas sei que em seu olhar verei o mesmo sadismo que habita cada coração de cada cidadão da Capital.

Com os cobertores jogados sobre os ombros, mexo minha bebida cheia de açúcar com o canudo. O modo como o líquido avermelhado faz redemoinhos naquele pequeno espaço prende meus olhos em uma espécie de transe. O redemoinho gira e gira e sinto minha mente vazia escapar para dentro dele, e aos poucos, tomar uma coloração de vermelho ainda mais forte, um rubro escarlate que de repente para de se mexer. É quando percebo que estou olhando para a mesma poça de sangue que envolvia a cabeça mortalmente ferida de Sander.

Minha mente só retorna ao quarto quando quase derrubo o copo com suco e tudo sobre meus lençóis limpos. Seguro o objeto com mais força e bebo tudo de uma vez. Não posso deixar minha mente me enganar assim, é apenas água misturada a amoras vermelhas.

Como se para me contradizer, o gosto que sinto na língua não é o doce das amoras e sim o metálico do sangue. O sabor volta ao normal quando o líquido chega em minha garganta, onde finalmente posso sentir a doçura, mas minhas mãos já tremem freneticamente, no mesmo ritmo descompassado que meu coração começa a bater. Deposito o copo vazio em cima da mesinha e me enrolo ainda mais nas cobertas, que parecem ser as únicas coisas seguras agora.

Não demora muito até a porta ser batida e a voz mansa de Frako pedir para entrar. Com certa relutância, tiro as cobertas e caminho até a porta. Ele não precisa entrar ou conversar, tudo o que tem que fazer é me levar para a sala de preparação e me arrumar para meu próximo teste. Meus pensamentos são todos tão automáticos que sequer reparo o quanto devo parecer chata aos olhos de qualquer um que me veja, tão diferente da Syrena confiante e sedutora que chegou à Capital algumas semanas atrás.

Sorrio com fraqueza ao meu estilista, que interpreta o gesto como uma possível evolução em meu estado lastimável. De certo modo, não é como se ele estivesse completamente errado, eu teria que sorrir por um tempo até que as câmeras não me seguissem mais, pelo menos. E ele não tinha culpa nenhuma sobre minha ingenuidade ou estupidez em achar que haveria glória e honra nos Jogos. Eu havia me voluntariado sozinha, havia treinado como louca e tomado assassinos como ídolos porque eu mesma quisera.

73ª Edição dos Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora