19. Néctar

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A história não termina aqui. Tem uma segunda temporada  já sendo escrita e vai ser postada nesse mesmo livro. Se vai ser sobre a Syrena ou não, esperem até o fim do capítulo pra descobrir. Gostaria muuuito que vocês continuassem lendo até o fim e obrigada a todo mundo que chegou até aqui. Espero que gostem <3

Olho para minhas mãos enquanto caminho com Sander ao meu lado. Por alguma razão, ele recuperou seu estado natural carregado de leveza e simplicidade, porque sorri enquanto me conta as histórias mais estranhas sobre acontecimentos habituais no Distrito 4. Ao mesmo tempo em que vê-lo assim me alivia, também preocupa na mesma medida. Dentre tantos significados para tal mudança de comportamento, desistência pode ser um deles, e isso é algo que me recuso a permitir que ele sinta. Desejo trazê-lo de volta à realidade, mas minha mente está muito mais interessada em minhas mãos, mais especificamente em minhas unhas, cobertas por metal, transformadas em uma arma por meu parceiro. Tenho certeza de que fora Loki quem contara meu apelido à Frako. Minha mente se afasta, de volta ao dia em que ele fora concebido.

Eu corria contra o vento frio do outono, cercada pelas coníferas da única e extensa floresta nos limites do Distrito 2. Nunca havia me sentido tão livre. Em meus dez anos, tudo o que queria era provar a mim mesma, e o melhor jeito que encontrei foi separando-me do grupo de sobrevivência em treinamento, formado de outras crianças de minha idade. Um sorriso estampava meu rosto, tomado pelo êxtase de correr sozinha e livre, sem simulações ou regras. Apenas eu e uma mochila, carregada com uma garrafa de água, duas maçãs, uma corda e uma faca que eu havia roubado de meu pai.

Parei ao encontrar um rio cujo som era tão calmante quanto as ondas do mar que eu conhecera dois anos atrás, ainda assim cuja força era a mesma de uma impetuosa tempestade. Aproximei-me e me agachei diante das águas correntes e cristalinas, fascinada por meu reflexo borrado que apenas permitia a mim ver a cor escura de meus cabelos, como se eles mesmos viajassem na direção da correnteza. Era estranho o quanto eu, acostumada às construções altas e ao céu cinza, me fascinava tão absurdamente com as coisas mais simples da natureza.

— Você foge da Tia Enobaria no Distrito 4 para ver o mar e foge do Tio Brutus no Distrito 2 para ver o rio — virei-me, com os olhos arregalados para a nova voz. Um pouco atrás de mim, encostado em uma das árvores com a postura preguiçosa de um garoto de doze anos, meu primo Loki encarava-me com um sorriso maldoso brincando nos lábios e nos olhos caramelados — Qual é seu problema?

— Você me seguiu, seu idiota! — ralhei, irritada com minha falta de cuidado em cobrir meus rastros — Eu não queria ver o rio, queria passar a noite sozinha. Ninguém vai aprender a sobreviver aos Jogos em um grupo daquele tamanho.

— Calma, irmãzinha — disse ele, levantando as mãos em sinal de rendição — Por que acha que eu não fiquei com os outros?

Sorri, feliz por entender que eu não era a única com o mesmo pensamento, mesmo que no fundo soubesse das verdadeiras motivações de Loki. Ele não duvidava que eu pudesse me virar sozinha por uma noite, mas não aguentaria me ver sendo punida pela desobediência sozinha. Como sempre fazíamos um pelo outro, enfrentaríamos a surra juntos quando Brutus nos encontrasse.

Passamos o resto da tarde recolhendo toda a madeira que duas crianças de dez e doze anos podem juntar para nossa fogueira, ajeitando nossos sacos de dormir em volta dela, organizando nossos suprimentos e conversando durante todo o processo. Estávamos realmente satisfeitos com nosso desempenho quando a noite caiu. Loki e eu sorrimos um para o outro, imaginando que estávamos mais do que preparados para os Jogos. Joguei a cabeça para trás, apreciando o ar fresco da noite e o som dos insetos e das aves noturnas do lugar, misturado ao correr veemente do rio perto de nós.

73ª Edição dos Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora