Vencer através do sangue dos inocentes nunca foi nada além de um mero detalhe no caminho para a glória na vida de Syrena Jaeger. Fruto do breve relacionamento entre um par de vencedores do Distrito 2, a garota passou seus anos se preparando e sonhan...
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Meu sorriso continua nos lábios, maldoso, enquanto ela luta para se libertar de mim, e especialmente fugir de minhas unhas. Não levo muito a disputa a sério, mas Clove nunca deu atenção aos combates corpo a corpo, e ela parece muito concentrada em se livrar de meu peso. Sua arrogância na habilidade com as facas lhe garante que ninguém chegará perto o suficiente para que ela precise lutar, o que me dá uma vantagem. Além de ser um pouco mais pesada, sempre fui muito adepta do combate direto, nunca desprezei nenhuma das áreas do treino, e tal multifuncionalidade foi o que me manteve viva na arena.
Minha irmã tem uma técnica básica, que consiste em tentar usar meu peso contra mim, e é fácil mantê-la debaixo de mim, principalmente quando consigo imobilizar suas mãos ao pisar em seus pulsos e pressionar as unhas sobre seu pescoço. Ela para de se debater e sacudir na mesma hora em que se sente ameaçada pelo metal contra a pele, e sorrio maliciosamente, depois de sacudir os cabelos que caem no rosto. Clove grunhe em frustração e ódio, transbordando de seus olhos esverdeados, exatamente como os meus eram. A lembrança traz de volta a raiva em mim, por terem ousado transformar minhas unhas em armas permanentes, meus olhos em uma cor que não lhes pertencia. Aperto mais as mãos sobre o pescoço de Clove, mal a vejo, na verdade. Tudo o que quero é machucar alguma coisa, extravasar tudo o que tanto tento conter.
Também mal percebo que temos plateia, uma multidão empolgada de aspirantes a vitoriosos, que fazem algumas exclamações e incentivam Clove a reagir para que a briga dure mais. É quando os braços fortes de Grill enlaçam os meus por trás e me coloca de pé, torcendo-os em seguida para que eu fique imóvel e sob seu controle. Posso sentir sua fúria no golpe. Não é mais uma lição amigável a uma pupila, mas sim uma luta de igual para igual entre dois vitoriosos, uma da qual não quero participar. Minha raiva ainda está concentrada em Clove, e em minha atuação interrompida. Passo discretamente os olhos ao redor, e é quando noto, de verdade, o grupo de trainees, e Cato, perplexo, pouco mais distante.
Assusto-me com minha atitude, voltando subitamente a mim mesma. Eu havia me acostumado à liberdade de lutar na arena, sem uma plateia presente. Era muito mais fácil não se sentir julgado pelas reações alheias se não haviam espectadores em carne e osso, fazer as coisas hediondas que se fazem nos Jogos não parecem tão absurdas se só observadas por câmeras, seres inanimados desprovidos de morais ou sentimentos, livres de julgo. Uma câmera não faz careta nenhuma se você arranca um coração com vida de dentro do peito de um garoto e o dá de comer aos lobos, ou se você decide queimar uma pessoa viva na frente da pessoa que mais a ama. Contudo, as pessoas reais julgam se você tenta matar sua irmã sem querer.
— Perdeu a cabeça, garota? Olhe o que você fez! — grita Grill, autoritário, e eu me desvencilho de seus braços, irritada, assustada, e indiscutivelmente perturbada. Olho para o grupo que nos assiste e sorrio, travessa, ignorando a culpa por ver o rastro de sangue que sai do pequeno furo que minhas unhas fizeram de um dos lados de seu pescoço. Ela havia me provocado, não?
— Eu só a estava ensinando a se defender — justifico-me, pegando a mochila do chão e recolocando-a sobre os ombros. Passo pelo grupo como se fosse uma estrela, com todos sorrindo e elogiando, cheios de tapinhas nas costas e pedidos de treino. É aí que percebo quão doente é a educação que as crianças do Distrito 2 recebem. Ensinados a gostar de sangrar e fazer sangrar, a enxergar a morte como esporte. É por isso que a Capital nos têm em tanta consideração, não porque somos um bom distrito ou aliados importantes, mas porque aceitamos sua ideologia tão bem que nos tornamos fantoches perfeitos, máquinas sem nome que só servem para matar os que não se curvam a eles.
