01. Colheita

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Três dias depois da aprovação do teste final, meu coração parece dançar dentro de mim, assim como meu corpo todo treme contra minha vontade

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Três dias depois da aprovação do teste final, meu coração parece dançar dentro de mim, assim como meu corpo todo treme contra minha vontade. Esperei a vida toda para completar dezesseis anos. Não porque estive ansiosa pela vida adulta e pelas liberdades que ela proporciona, isso parece muito pequeno se comparado a meu verdadeiro propósito. O motivo pelo qual estive ansiosa é maior – o evento que grande parte das crianças e adolescentes de Panem temem, para o qual fui treinada desde que tinha sete anos, para o qual fui destinada desde o nascimento, e o ápice do orgulho que se pode atingir em uma vida. Os Jogos Vorazes. A Colheita. É minha vez de ser voluntária pelo Distrito 2.

Tenho me inscrito nas seleções desde os treze anos. A meta de meu pai para mim era vencer os Jogos ainda mais jovem do que Finnick Odair, feito Vitorioso com catorze anos, e assim honrar duplamente os nomes de meus pais, contudo, algo sempre impede que eu tenha sucesso nos últimos testes. Loki, meu primo, diz que não passam de esquemas de minha mãe para que eu simplesmente não vá à arena, diferente de meu pai, que faz de tudo para que eu alcance a perfeição o mais rápido possível. Agora, no entanto, a hora chegou e não tenho mais como falhar ou fugir. Por ter dezoito anos, é a última chance de Loki se voluntariar, e por ordem de Mercúrio Furlan – olheiro da Capital no Distrito 2 – estamos ordenados a participar da mesma edição. Imagino que as expectativas para ver dois Jaegers em ação sejam altíssimas. Não posso culpá-los. Meus pais foram monstros na arena, e especulações sobre minha participação são feitas desde que nasci. Nunca houve outro destino para mim, e nenhum outro que eu desejasse.

Sentada no sofá de couro branco da sala de estar de meu pai, sinto o receio começar a pesar em mim enquanto escuto seus conselhos, quebrando qualquer sinal de ansiedade ou excitação pelo momento. Nos breves dois minutos em que me deixo ser afligida, os Jogos não parecem mais tão atrativos assim. A possibilidade de morrer não parece mais tão atrativa. Repreendo a mim mesma por me permitir divagar nos pensamentos. Nasci para isso, fui treinada sem descanso para isso. Todas as punições, testes impossíveis e cicatrizes não podem ter sido em vão.

Vencer os Jogos Vorazes é uma marca registrada de meu distrito, e mais ainda, de minha família, de ambos os lados. Tanto um quanto o outro são Vitoriosos, famosos, respeitados e amados em todo o Distrito 2, temidos pelo país e favoritos na Capital. Não há, nunca houve e nunca haverá como fugir disso, e eu tampouco deveria querer fugir.

Tento relaxar ao pensar em minha mãe, nos olhos selvagens, na postura e força dignas de uma Vitoriosa. Rigorosa, exigente e ao mesmo tempo esforçando-se para ser amorosa, da maneira que sabe. É como tenho que ser. A ideia de talvez desapontá-la me assombra desde sempre. Ela havia passado por muito para me manter consigo para que eu a desaponte agora. Balanço a cabeça discretamente e pisco com força em uma tentativa de afastar os impedimentos que minha mente traiçoeira tenta colocar diante de meus objetivos.

Tento focar outra vez em meu pai, que passeia pela sala de um lado para o outro, dando conselhos apressados sobre como matar até mesmo mosquitos, faz questão de me lembrar de uma garota que foi atacada por pássaros aparentemente inofensivos no último massacre. Sinto sua tensão nos músculos rígidos e tensionados. Naturalmente, ele teme por minha vida, por mais que jamais o diga em voz alta. Todavia, nem mesmo isso pode me abalar. Logo o orgulho que sentirá por mim destruirá todo rastro de medo que possa ter existido tanto em mim quanto nele, ou assim espero.

73ª Edição dos Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora