47. Bestantes

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Hallo! Perdoem o tamanho do capítulo e se divirtam! Prometo que o próximo vai estar mais curto (Obs: As bestantes/mutações são inspiradas nos titãs de Attack on Titan porque eu quis honrar a coincidência com o nome Jaeger e com a própria mitologia nórdica. Espero que gostem). 

A primeira vez que senti o terror de verdade foi no mesmo lugar onde descanso agora, deitada com os braços e pernas abertos e o peito subindo e descendo em movimentos rápidos demais para meu próprio bem. O céu azul e as copas das árvores enfeitam minha visão, assim como as majestosas muralhas cinzentas da represa do Distrito 2. É a mesma clareira onde Loki e eu encontramos a loba ferida quando crianças. Deixo-me sentir a grama macia sob meu corpo e entre meus dedos, ser embalada pela canção de ninar suave da folhagem ao vento, lembrar da imagem dos pelos brancos encardidos do animal, de suas garras enfiadas na terra, ser novamente a filha desta terra.

É estranho que este lugar me traga tanto conforto agora, mas depois do ano que se passou, a loba de minha infância parece muito mais uma presa indefesa do que uma predadora.

Meu companheiro surge subindo a colina, o peito despido e os cabelos despenteados como de costume. Ele me ajuda a me sentar e me entrega uma garrafa cheia de água fria. A exaustão é tanta que, apesar da sede, bebo bem devagar. Seus olhos não se desviam de mim nem por um segundo. Está intrigado com minha reação, esperando para ver se vou fugir ou ficar. Imagino que ele esperava um pouco mais de aceitação, contudo, como posso compreender ou aceitar que o que há dentro de mim pode ser mais terrível do que o monstro que vi sair dele?

Durante os experimentos de Seneca, foram colocadas dez variações da mutação no sangue de Conway, no entanto ele só consegue manifestar duas delas. As outras estão incubadas, esperando para serem passadas a outros portadores capazes de suportá-las. Se forem transmitidas na mesma ordem em que ele as recebera e se sua memória estiver correta, então a variação com a qual fui contaminada é a única de forma animal. Todas as restantes tem formas relativamente humanas.

A mutação original de Conway tem a aparência assombrosa de um neandertal de quinze metros de altura. Apesar de possuir alguns traços do portador – cabelos, olhos, cicatrizes e a forma física de forma simples, o monstro ostenta aspectos que me fizeram tremer ao vê-lo pela primeira vez, competindo em tamanho com as muralhas da represa com os dentes à mostra em uma eterna e feroz mordida. Apenas os quinze metros deveriam ser suficientes para colocar uma cidade inteira em pânico, mas é ainda pior. O que me fez tremer, na verdade, foram as cenas que aquele corpo seria capaz de protagonizar. Aquelas mãos seriam capazes de esmagar um carro facilmente, os pés de pisarem em uma casa cheia como se os moradores desavisados fossem formigas, os dentes de devorar qualquer coisa, viva ou não. Diferente do ataque de uma loba ferida e solitária, não há maneira humana de se defender disso. A mínima existência de um ser assim é uma sentença de morte.

— Não vai tentar de novo? — pergunta meu marido.

Dou uma boa olhada no corpo gigante se decompondo à minha frente. Tudo o que consegui criar foi um quadrúpede sem pele de dentes afiados. Aterradoramente, a sensação de meus membros conectados aos nervos, músculos e mente daquela criatura fora tão forte que mal me dei conta de como estava quente e fervendo em febre. Mesmo quase derretendo, eu não queria sair. Meu desejo mais intenso naquele momento foi o de me fundir ao quadrúpede gigante e mal formado, tornar-me uma só com a selvageria ali guardada. Conway teve de usar a foice para me cortar para fora. Ainda assim, mesmo agora ele não parece nem um pouco assustado com a ideia de que eu me perca de novo. Pelo contrário, parece desejar isso.

73ª Edição dos Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora