Sou acordada pela luz do sol brilhando com força, passando até mesmo pela segurança de minhas pálpebras fechadas, dizendo-me que devo despertar para mais um dia no inferno, ou quem sabe para um dia a menos. Mantenho os olhos fechados enquanto concentro-me no calor e no cheiro salgado e suave que emana da pele quente de Sander e que preenche minhas narinas, na sensação de ter minhas mãos em seu peito, sentindo as batidas de seu coração logo abaixo das palmas de minhas mãos. O menor sinal de vida se tornou mais fascinante para mim do que todo o glamour da vitória. Eu devo aproveitar a vida que ainda resta a Sander e a mim.
Teria aproveitado mais da calmaria, não fosse a água jogada sobre nós, fazendo-nos levantar em um ímpeto, sacudindo as mãos em uma tentativa desesperada de secar o corpo. A risada de Bronagh é estridente é genuinamente divertida. Sander sacode a água dos cachos castanhos e olha confuso para a parceira.
— Que fofo, vocês seriam um casal lindo, mas acho que o público espera que se matem e não que durmam abraçadinhos — diz ela, parecendo realmente ofendida com o desejo do público. A revolta não tem nada a ver com Sander e comigo. É sobre o fato de nossos espectadores preferirem ver morte a afeto.
Pego-me pensando em como seria se não houvesse Jogos Vorazes. Se eu teria escapado algum dia para o Distrito 4 e encontrado Sander, talvez ficasse presa em sua rede por nadar perto demais do barco, talvez nos apaixonássemos e ficássemos juntos. Posso imaginar Bronagh dizendo-me para desistir dele e voltar para o Distrito 2, ofendida por minha presença em sua casa, depois aprendendo a me aturar, ensinando-me, sem paciência, a tecer redes e bolsas artesanais. Teríamos tido a mais estranha e improvável amizade.
Mas não é o que vai acontecer. Em poucos dias, o que ela disse acabará se concretizando e teremos que matar uns aos outros. Com apenas sete tributos vivos, sendo que estamos em quatro, não vai demorar muito a acontecer.
— Está com ciúmes, Bronagh? — brinco, erguendo as sobrancelhas. Ela balança a cabeça e ri.
— Caras que cheiram a peixe não fazem bem meu tipo — debocha ela, arrancando uma careta ofendida fingida de Sander.
— Não tem nada errado com o cheiro dele — digo, claramente mais ofendida do que ele próprio. Ela rola os olhos esverdeados para o céu.
— A situação é mais grave do que eu imaginei. — Ela balança a rede de Salkin com força. De onde estamos, podemos ouvir seus murmúrios e reclamações por ter seu sono interrompido — Mas os sentimentos não importam aqui.
— Qual é o plano para hoje? — pergunta Sander, a voz ainda tomada pelo sono. Repreendo-me por achar tão adorável.
— Não sei, ainda não me curei do ataque de um milhão de onças de ontem — responde Bronagh com ironia. Levo as mãos ao braço, onde os dentes de uma das bestantes conseguiu perfurar-me. Não percebi na noite anterior, mas agora que Bronagh nos lembra sobre nosso estado, meu corpo todo começa a doer imediatamente.
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73ª Edição dos Jogos Vorazes
FanficVencer através do sangue dos inocentes nunca foi nada além de um mero detalhe no caminho para a glória na vida de Syrena Jaeger. Fruto do breve relacionamento entre um par de vencedores do Distrito 2, a garota passou seus anos se preparando e sonhan...