É Elan Havelock quem me salva.
Ele chuta a porta depois de tentar abri-la e chamar pela mulher pelo menos dez vezes, sem obter resposta. Seu rosto é de pura confusão quando me encontra no chão do quarto de Sander, no mesmo lugar onde Sandra me fizera esperar enquanto preparava a banheira com água do mar. Eu estivera aguardando que ela recobrasse o juízo durante os últimos minutos, ignorando minha própria dor e dizendo aos bebês para que tivessem paciência. Não queria ter que machucá-la, e mesmo que tivesse a coragem, como o distrito reagiria se algo lhe acontecesse? Não apenas minha imagem seria posta em risco, a de Conway também. Outra vez. Não tenho este direito.
O suor e a palidez em meu rosto denunciam o que está acontecendo quando o pescador chega, mesmo que não saia grito ou palavra alguma de meus lábios. Ele se agacha, coloca as costas da mão sobre minha testa ao passo em que seu cenho se franze em preocupação. Não demora para se levantar comigo nos braços e gritar o nome da esposa. Ela aparece no quarto depois de poucos segundos. Seus olhos cheios d'água se fixam nos do marido por muito tempo – uma conversa demorada e silenciosa que a coloca em prantos quando termina, da mesma maneira misteriosa que havia começado. É algo que apenas os dois entendem.
Sandra Havelock não é louca, muito menos maldosa. Está apenas presa em um infinito looping de perda, onde tudo o que mais amou lhe foi arrancado brutalmente. Não é difícil supor que viu em mim, primeiramente, e agora nos bebês, uma forma de manter os filhos vivos. Como se tudo não passasse de um presente do destino para compensá-la.
Tento me concentrar no som distante que vem do mar agitado, uma forma pouco eficiente de me distrair da dor. Sinto-me fraca, sem a menor força para me mexer ou ao menos dizer qualquer coisa. Tenho medo.
Elan parece notar minha piora. Olha para Sandra de maneira cuidadosa, vigiando seus movimentos antes de ela desabar de vez e começar a me pedir desculpas repetidamente. Sinto pena dela. Quero dizer-lhe que está tudo bem, mas meus dentes estão travados em uma careta de dor. O pescador olha para a mulher uma vez mais, vira-se devagar comigo nos braços e passa a sussurrar-me palavras de conforto e pedidos de calma, marchando com pressa em direção à porta. Ainda que me pareça impossível, tento obedecer. Respiro fundo várias e várias vezes, ao mesmo tempo em que ele procura por algum meio de me levar. Dói anda mais.
— Eu quero Conway — peço, agarrando-lhe a camisa. — Por favor.
— Alguém vai chamá-lo, eu prometo. — Ele olha para os lados, ainda procurando. — Tenho que te levar a um hospital.
Finalmente, um carro abarrotado de redes de pesca e arpões para na casa ao lado. O vizinho entende o que está havendo assim que seus olhos pousam em mim, muito antes de sequer sair do veículo. Ele corre para abrir a porta de trás, puxa algumas das redes de qualquer jeito e faz um gesto para que nos aproximemos. Um garoto que não passa dos doze anos observa a cena toda de olhos arregalados. Ele ajuda o homem a tirar mais alguns itens enquanto Elan me ajeita no banco de trás com gentileza, passa para o banco da frente e chama a atenção do menino antes que o homem dê a partida no carro.
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73ª Edição dos Jogos Vorazes
FanficVencer através do sangue dos inocentes nunca foi nada além de um mero detalhe no caminho para a glória na vida de Syrena Jaeger. Fruto do breve relacionamento entre um par de vencedores do Distrito 2, a garota passou seus anos se preparando e sonhan...