CAPITULO VINTE E QUATRO

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—Penélope —

Olho nos olhos de Lucas e posso ver o medo, ele está apavorado, mesmo sem saber o que eu tenho para contar.

— O que você precisa conversar comigo, Cher? — Sua voz é suave e cautelosa.

Porquê é tão mais difícil dizer a ele, do que para meninas? "Porque ele seria o pai. É por isso que é mais difícil!"

Eu limpo minha garganta, respiro fundo e começo.

— Conversa comigo. Você pode me contar qualquer coisa. — Ele me dá um sorriso terno e segura minha mão. — Eu não vou deixar de ser seu amigo ou de querer você!

Oh, você vai.

— Você se lembra quando eu disse que nós dois morando de baixo do mesmo teto, era esquisito?

Sim...?

— É estranho porque... Cinco anos atrás... uh, eu não sei como te dizer isso. — Eu engasgo com minhas palavras. — É estranho porque cinco anos atrás... nós concebemos.

É isso. Não há como parar agora, as palavras foram ditas. O aperto de sua mão fica forte sobre a minha mão delicada. Minha garganta parece comprimir de tamanho, e está seca. Eu não consigo nem dizer o resto, mas sei que preciso. Eu preciso tirar esse peso do meu coração e da minha consciência. Ele precisa saber o que eu fiz.

— Eu engravidei você, não foi? — Lucas termina parte do que eu tenho para dizer a ele para mim. Um nó se forma em minha garganta e eu balanço a cabeça confirmando.

Cherilyn?

Sim?

— Você perdeu o bebê, não foi?

— Sim, mas não é só isso. — solte a minha mão. Mas não agora.

— Então o que aconteceu com nosso bebê? — Não consigo entender o sentimento que seus olhos me davam, e por algum motivo tive medo. Limpei minha garganta mais uma vez, e me enchi de coragem.

— Eu descobri que estava gravida no meio de junho. Eu estava atrasada a dois meses, e não havia percebido, foi Luna quem percebeu e comprou o teste para mim. — Engulo seco. — Veja bem, eu queria ter o bebê. Eu juro, Lucas. Eu queria. Eu nem ao menos iria contar a você, porque você disse que não me amava, e eu não queria que essa criança fosse um peso na sua vida. Mas eu queria tê-la, porque aquele 1% da garota que ainda te amava queria ter um pedaço seu para o resto da vida dela. E... Eu pensava que esse bebê me traria alegria, e que eu nunca mais me lembraria de ter sido abandonada pelo pai dela. Parei de tomar os antidepressivos, Luna foi comigo em todas as primeiras consultas, tentando me ajudar a me sentir positiva, e tudo mais. — Ele solta a minha mão e dá dois passos para trás, pensa em falar algo, mas o interrompo. — Me deixa terminar, eu preciso dizer tudo. — Ele cruza os braços sobre o peito e faz um gesto com a mão para que eu continue. La fora a chuva havia ficado mais intensa, e trovões explodiam no céu. — Mas eu sentia sua falta. Eu queria você lá comigo, e comecei a pensar em cada detalhe seu que essa criança teria, e de como talvez ela te odiaria, quando eu contasse que havia dito que não me amava mais, e do quanto eu havia sofrido. Os choros voltaram, e eu passei a ir dormir chorando todos os dias novamente, pensando em você. E então no final de junho, eu acordei sentido dor, e de primeiro achei que fosse porque queria fazer xixi, mas quando cheguei ao banheiro, vi e senti o sangue escorrer por minhas pernas, e sabia que estava o perdendo. Eu desmaiei, e quando acordei estava num hospital, sedada, e meu bebê já não existia mais dentro de mim. — Limpo as lágrimas traiçoeiras do meu rosto. — Eu fiquei mal, Lucas. Muito mal, eu pensei que não tivesse mais nada a perder. Quando voltei para o rancho, ao invés de voltar a tomar meus antidepressivos, eu voltei a beber todas as noites e dias, já que havia ganhado uns dias para me recuperar do que havia acontecido, pela CW. — O peito de Lucas sobe e desce, e vejo lágrimas escorrer em seus olhos, seu maxilar se mexe. Ele estava rangendo os dentes, algo que ele fazia quando ficava nervoso ou frustrado. — Eu não queria comer, só sentia, dor. E apenas dor. Até que não senti mais nada. Apenas estava entorpecida, como se não estivesse mais nesse plano, e eu não queria estar, não queria sentir aquilo. Eu fiz Luna sair da casa, com a desculpa perfeita sobre querer cozinhar. Vesti uma calça, e uma blusa de frio cinza, entrei na banheira e deixei ela encher. Eu chorava, e chorava, mas sabia o que precisava fazer... então peguei gilete, levantei a manga da blusa e fiz isso. — Tiro as pulseiras, e as coloco sobre o balcão da cozinha, elas escondiam minha cicatriz, e mostro a ele. Lucas leva as mãos na cabeça e começa a andar de um lado para o outro pisando duro, fazendo o assoalho estalar. — Eu tentei fazer no outro braço, mas a tatuagem da rosa, me lembrou de você dizendo que não me amava mais e eu fiquei ali na banheira esperando que apenas um corte fosse suficiente. E quase foi, eu senti quase perto de estar livre daquilo tudo, mas o caseiro do rancho entrou no banheiro, e eu só lembro de acordar depois num hospital algemada à maca. — Eu não conseguia me mover, meus pés pareciam ter grudado no assoalho da cozinha.

Sob o céu de Manhattan: Para sempre minha andorinha || LIVRO 3Onde histórias criam vida. Descubra agora