CAPITULO NOVE

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—Penélope —

Acordo por volta das 8 da noite e a casa está vazia, caminho para sala com Romeu em meu colo e me sento no sofá. Minha mãe havia buscado Mary umas horas antes, e me deixado um bilhete agradecendo e pedindo desculpas pelo trabalho que minha irmã tinha me dado. Na verdade, ela nem deu, eu só acordei de mal humor e ressaca e estava sem paciência para lidar com ela. Mas Lucas ter deixado eu levar ela para o set e depois ter levado a gente para almoçar com Mailey e seu filho Stevie, ajudou, e Mary se brincou comeu a rodo e no final estava tão cansada que dormiu no colo de Lucas enquanto caminhávamos para o carro. Gostei de ver Hails dando aula de balé e pole dance para jovens e adultos, ela amava mesmo dança, era visível na maneira como ela sorria e na paciência que tinha em ensinar. A amizade de Lucas e Matt se solidificou com o passar dos anos, a ponto de Lucas confiar a carreira dele em suas mãos, fiquei feliz que eles viraram adultos maduros e estáveis. Já eu... eu sou outra história... coço minha cicatriz no pulso, e puxo o moletom para cobri-la. Respiro fundo, e engulo a bile que se forma em minha garganta. Você está bem, Penny. Você está absolutamente, bem! Apenas respire.

Me levanto do sofá e vou para o deck onde a piscina ficava. E fico ali na beirada, olhando para à água. Tudo seria tão mais fácil se você apenas desistisse... você não consegue se sentir inteira, você nunca se sentirá. Seu trabalho não faz você sentir isso, sua família, seus amigos, nada disso faz. Então porque você insiste? Você pode tentar de novo, está sozinha, ninguém vai te salvar dessa vez, você pode parar de sentir essa dor, e esse buraco no seu peito. Apenas desista, Penny. Você sabe que é o certo. Todo mundo seguiu em frente. Todo mundo se curou. Você é a única que ainda sangra. Você não quer isso quer? Continuar sofrendo? A agua era tão convidativa, e a dor latente. Eu não sentia nada. Nada. Nem alegria, nem tristeza, apenas... um vazio. Um enorme e grande vazio. Respiro fundo, fecho meus olhos, e pulo dentro d'agua. A água gelada toca minha pele se arrepia toda por baixo de minhas roupas, eu mantenho meus olhos fechados, e seguro minha respiração. Meu peito arde, de dor, de medo, de ira, de tudo, e eu grito de baixo d'agua com todo o ar que eu tenho em meus pulmões, e me nego a subir a superfície, eu quero ficar ali, onde a escuridão repele minha dor.... E então sinto meu corpo ser puxado de dentro d'agua, e eu respiro de novo.

— Cher! Olha para mim! — A mão bate gentilmente, mas firme em meu rosto. — Não faz isso comigo! Abre olhos, por favor! Abre os olhos! — Há tanto desespero na maneira como a voz embargada diz aquelas coisas... eu abro meus olhos, para enxergar Lucas molhado e aterrorizado me segurando pela cintura dentro da piscina. E tudo o que eu consigo fazer é chorar. Ele me pega no colo e nos tirar dali. — Vem. Eu vou secar você...


Acordo um tempo depois com gritos vindo da sala. Gritos irados. E abro a porta devagar, sem fazer barulho para conseguir ouvir a discussão.

— ... onde você estava!?!? Não!! Ela não pode ficar sozinha! E se eu não tivesse chego a tempo? Que tipo de amiga é você?? — A voz de Lucas ecoa dentro da casa, ele está tão nervoso, que enquanto grita sua voz falha. — Eu entendo que Bob e Lana passem mais tempo fora de casa do que tudo, por que trabalham com moda, mas você, Luna? Você trabalha meio período numa editora. Aonde você estava a tarde toda?

— Eu tenho uma vida também, sabia disso?! E abaixa a voz para falar comigo, que eu não sou essas vagabundas que você transa, quando sua mente te faz se sentir culpado!

Ele estava vendo outras garotas? Isso é novo. Até onde me lembro, ele odiava sexo casual... Dou de ombros. De fato, as pessoas mudam. Fecho a porta do quarto e volto para cama onde meu gato está deitado. "Miau" — É eu sei. Desculpa amigão. Às vezes a vida é difícil. — "Miaau"— Não. Não vou mais. Isso deve ser o sinal que eu pedi a 5 anos atrás. — "Miaaau"— Eu te amo também, Romeu. Você é meu melhor amigo. — Deito na cama e ele sobe em minha barriga. E eu respiro fundo. O que aconteceu? Eu estou sentindo tanta vergonha, não sei nem como encarar, Lucas, agora. Ele vai me encher de perguntas. Ele sempre me enche. E eu não quero responder. Eu não posso.

Sob o céu de Manhattan: Para sempre minha andorinha || LIVRO 3Onde histórias criam vida. Descubra agora