[11] Quit

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Não é esperado deparar-se com um penhasco enquanto se caminha, portanto, se estiver distraído — até mesmo se for empurrado —, de certo cairá, sem qualquer possibilidade de raciocínio antes de encontrar-se com seu fim, apenas a dúvida do por quê daquilo.

Primeiro há a inconformidade, até porque você esperneia e grita antes de atingir o solo duro, severo, mortal. Mas assim que a respiração cessa, você se conforma, esperando a visita de uma voz dócil e melodiosa aos seus ouvidos, ou que seus olhos ceguem com uma luz forte que logo revelará a mais dispneica paisagem.

Eu levei as mãos ao meu rosto num gesto de inconformidade por meu fim, nunca imaginei que fosse ser daquela maneira, obviamente; pois apesar de ter uma mente nublada por um alfa fantástico, eu tinha planos para o futuro. Me dedicar a um árduo estudo até estar apto para receber reconhecimento sendo um ômega e encontrar um lugar no qual pudesse viver na mansidão, como sempre quis.

Eu esperei longos segundos pela dor dilacerante da primeira abocanhada — que se juntaria a várias outras e acabaria com a vida do Kim insignificante que eu era —, mas nada aconteceu. Pior, o zunido em meus ouvidos sequer me permitia saber o que ocorria diante de minhas pálpebras.

Me obriguei a ser corajoso, abrindo os olhos de uma vez e processando tudo em câmera lenta — não um filme nostálgico com os melhores momentos de minha vida, como a "pré-morte" sempre é citada nos livros —, o que tornou aquele acontecimento ainda mais horripilante para mim e todos que não conseguiam deixar o fato de que havia um lobo enfurecido no meio da sala fluir em seus cérebros.

Apesar de tudo ocorrer vagarosamente, eu tinha certeza que não se passou nem um segundo desde o primeiro ato. Jaehyun fez menção de avançar sobre mim e cravar sua mandíbula em minha jugular, mas foi impedido por um impacto monstruoso na lateral de seu corpo, impressione-se, de um lobo de pelo marrom e olhos negros, que o jogou até que se chocasse com as pequenas colunas protetoras da sacada atrás do divã que dava vista para a floresta dos Kim, quebrando-as e derrubando o estofado — pequeno em relação àqueles corpos arrojados e animalescos que sumiram na escuridão da noite, deixando para trás apenas seus rosnados e grunhidos ecoantes.

Cheguei a cogitar a possibilidade de aquele lobo ser Taehyung, mas eu não podia confiar na mente em estado pós-traumático que presenciou dois lobos brigarem ao vivo, não nos livros de história.

Eu sentia náuseas que me levariam a vomitar a qualquer momento sem mais nem menos, afinal nunca tive um estômago muito forte.

"O que 'tá acontecendo?! Aonde eu fui me meter?! Por que eu não estou morto?!" — eu pensava enquanto um extenso falatório tinha início naquela sala, ou no largo corredor do lado esquerdo, eu não sabia pois, todavia, eu não compreendia.

"Jin-Ah!"

"Está tudo bem com ele?"

"Cadê eles, Yoona? Eu não 'tô vendo o Namjoon!"

"Leve-o daqui!"

Eu senti meu corpo sendo suspendido e deitado numa superfície rígida, demorou um tempo até que eu pudesse recobrar o pleno raciocínio, mas aconteceu quando senti uma gota caindo sobre minha bochecha e vi o rosto choroso de Hoseok surgir em meio a todo o toldo.

Ele estava desesperado.

— Hyung, você pode me ouvir? — perguntou, afoito, olhando para os dois lados depressa como se sofresse um ataque de paranoia.

— Ho... — minha garganta estava seca e eu estava deitado num amontoado de almofadas no chão.

— Graças à Deus você está bem! — sussurrou, passando a mão por meus cabelos grudados na testa por contato com o suor. — Eu estou com m-medo... O Namjoon d-desapareceu com J-Jaehyun e... Ele não volta, H-Hyung...

Epiphany [KTH • KSJ]Onde histórias criam vida. Descubra agora