Eu não achava que era possível que a mesma voz ecoasse na mente de alguém como se fossem várias assombrações de uma vez, em uníssono. No entanto, ao invés de trazer alguma espécie de terror, recheava meu cérebro com as mais doces memórias, cada qual sendo narrada por aquela voz.
"E você é meu"
"Você me enlouquece completamente, Seokjin"
"Eu quero muito ganhar um beijo de verdade do meu ômega"
A predominância de uma rouquidão suave e natural em qualquer situação era sua marca registrada, contudo a melodia que entoava sempre que saía por aqueles lábios finos, tão bem desenhados, jamais deveria ser esquecida.
"Nossa casa"
"Eu quero que você me aproveite"
"Você está escorrendo..."
Aquelas cordas vocais não podiam ser as mesmas que preencheram o mês mais estupendo de minha vida...
"Você é tão lindo..."
"Eu posso fazer você feliz"
"Eu te amo"
...mas eram.
Kim Taehyung estava ali, atrás de mim, falando sem parar por não saber quem eu era de fato, apenas desesperado para conversar com qualquer um.
Parecia o mesmo de um mês atrás, o mesmo que era dono dos sorrisos sarcásticos mais bem-feitos e dos movimentos mais elegantes, apesar da altura, mas... Paralelamente, não era. A monotonia estava presente em cada palavra, e não somente ela, mas também a melancolia.
Taehyung não parecia a figura irônica que me sorria lindamente todas as manhãs, pronto para me atazanar com sua perversão deliciosamente lasciva. Parecia... destruído.
Contudo não me virei para comprovar minhas teorias. Eu ainda estava congelado por sua voz liberando cada frase com a velocidade que o vento soprava lá fora, em contrapartida eu arrumava os enlatados cada vez mais vagarosamente, tamanha minha necessidade em continuar ouvindo-o falar.
— Você não precisava se incomodar em guardar tudo. Podia apenas ter deixado a sacola e ter ido embora. Obrigado mesmo assim. — falou como quem não quer nada, mas eu pude subentender a vontade absurda de estabelecer um diálogo, como se uma alma não lhe aparecesse há anos. — Por tudo, na verdade. Você vem ajeitar os lençóis de minha cama e me traz comida frequentemente. Obrigado pelo que está fazendo.
Eu não sabia dizer se assenti por vontade própria ou meu pescoço que tremia descontroladamente, mas neguei a segunda opção de imediato. Eu precisava estar firme e formular as palavras certas para pedir desculpas a Taehyung por ter sido tão intransigente e que fugisse comigo para longe dali, para os chalés dos quais era prioritário no extremo sul. Eu não precisava de ninguém além dele mesmo.
"Segure a onda, Seokjin. Segure a onda..." — disse a mim mesmo, suspirando silenciosamente, apertando uma lata com força, a última, antes de depositá-la sobre as outras e começar a arrumar as frutas.
— Ah, a propósito... Diga, por favor, ao seu superior que não há qualquer odor vindo dos pontos sudoeste e sudeste. Os soldados podem dormir tranquilos esta noite. — continuou, e outra vez manejei minha cabeça daquela forma duvidosa que, na verdade, não deixava sobrar incerteza quanto ao nervosismo que emanava. Recebi uma risada fraca em resposta e meu sobressalto foi tão imperceptível quanto um elefante no meio do campo. Droga. — Você é bastante calado. Me lembra uma pessoa.
Havia apenas mais três laranjas até que eu estivesse pronto para ir embora, eu implorava internamente que Taehyung fosse breve e fizesse aquele assunto render antes que eu perdesse aquele oportunidade deixando a barraca como o covarde que era.
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Epiphany [KTH • KSJ]
Fanfiction"Ele chegou por acaso, como uma serendipidade. E me ganhou em toda sua singularidade." - Kim Seokjin [...] Algo que Kim Seokjin, mesmo em sua condição como ômega, não esperava e desejava era se casar com alguém que sequer tivesse alguma noção sobre...