— E o cabelo? Tá bonito? — perguntei a minha avó, passando minha mão pelos meus cabelos, tendo certeza que eles foram bagunçados com o ato.
Eu estava absurdamente nervoso, as palmas de minhas mãos suavam e meu coração batia de acordo com os acordes do gayageum que tocava — por que diabos trouxeram um gayageum para uma reunião de escolha?! —, e ainda nem estava na presença de meu futuro alfa.
— Deixa de paranoia, menino! Você está devidamente apresentável, com certeza será escolhido esta noite. — disse minha avó, dando um tapa fraco em minha nuca.
Não existia pessoa mais simples no mundo que ela. Ela era tradicional de um jeito humano, então ainda não aceitava muito bem o fato de que alfas machos pudessem escolher ômegas machos. Mas isso nem era o pior.
Ela era incrivelmente extrovertida, e não ressaltando isto de uma maneira positiva, ela era extrovertida da maneira vergonhosa capaz de explodir o meu rosto supercorado.
— Vovó, por favor, não converse sobre a minha infância com meu futuro alfa... — murmurei para ela, mas antes que ela pudesse me responder, avistei meu avô tentando encontrar seu assento perto de nós. — Vovô, aqui!
Ele demorou cinco segundos até encontrar meu corpo magro dentre todas as pessoas naquele lugar, então sorriu e começou a caminhar lentamente em nossa direção.
Toda a personalidade carinhosa da família pairou sobre meu avô. Enquanto minha avó era racional e séria, meu avô era emocional e chorão. Literalmente. Perdera a conta de quantas vezes ele chorou ao invés de mim assistindo filmes em que cães tinham fins trágicos.
— Meu garoto! Como você está bonito! — exclamou, rindo brevemente e acariciando meus maxilares.
— Obrigado, vovô. — agradeci, tentando ajudá-lo a sentar, mas ele preferiu ficar de pé por enquanto para conversar comigo.
— Tenho certeza de que nesta reunião os alfas brigarão para conseguirem sua mão! — disse ele, num tom baixo, comemorando aquilo como se fosse uma vitória.
Para mim não passava de tragédia. Ainda não aceitava que tudo naquela província sempre resultasse em brigas, e perguntava-me se na outra parte da península as coisas seriam mais calmas.
— Vocês estão sendo barulhentos e incômodos. Queiram se sentar até a cerimônia começar? — pediu minha avó, revirando os olhos para nós dois.
— Só espero que seu casamento não termine com um alfa ranzinza como a minha ômega é. — murmurou vovô, me fazendo rir, mas parecia que eu não fora o único que ouvira sua piada.
— Como é, Kim Seojae? — indagou vovó, a expressão dura como pedra.
— Eu desejava a nosso neto que seu casamento fosse tão feliz como o nosso. — disfarçou meu avô, cruzando as pernas de uma maneira elegante e sorrindo lindamente para ela, que apenas revirou os olhos.
Eles estavam juntos desde que eu conseguia me lembrar, ou seja, há muito tempo. Cerca de uns vinte e cinco ou trinta anos.
Nunca conheci meus pais e nunca tive resposta alguma sobre o que aconteceu com eles. Meus avós apenas me diziam que era um assunto muito doído de ser compartilhado e que não se sentiam prontos para me contar sobre.
Bom, eu até poderia entender este pretexto, se não fosse o mesmo há anos.
Uma perda nunca é definitivamente superada, mas era bastante injusto, quase uma falta de consideração, me deixarem no escuro a respeito de minhas origens.
A única coisa da qual eu tinha convicção era de que me chamava Kim Seokjin, tinha dezenove anos de idade, tinha como família os avós Kim Seojae e Kim Jihyun, me preparava para o vestibular de uma das faculdades mais procuradas da província sulista — mas isso teria de ser interrompido pelo meu casamento iminente — e era um ômega.
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Epiphany [KTH • KSJ]
Hayran Kurgu"Ele chegou por acaso, como uma serendipidade. E me ganhou em toda sua singularidade." - Kim Seokjin [...] Algo que Kim Seokjin, mesmo em sua condição como ômega, não esperava e desejava era se casar com alguém que sequer tivesse alguma noção sobre...