[6] Forgive Me

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Durante minha caminhada da infância até a adolescência, fui presenteado com algo não muito agradável, mas que me acompanhava frequentemente nas madrugadas: pesadelos.

Eles não eram nítidos o suficiente para eu me lembrar com riqueza de detalhes deles, mas o suficiente para eu ter noção de que os tive enquanto dormia.

Eram uma enganação de minha mente, pois sempre começavam com cenários utópicos, mas tão breve quanto eu via estas bonitas cenas, o sonho se tornava assombroso, causador de pânico. Por esta maneira, nunca mais tive uma boa noite de sono desde meus catorze anos.

Eu não fazia ideia do por que tinha aqueles pesadelos, quais eram seus significados e, apesar de ter curiosidade em sanar estas dúvidas, nunca conversei sobre eles com ninguém, sequer com Jungkook.

O que pensariam de um sonho que tinha como protagonista um lobo enorme, muito maior que um ômega como eu, prateado como a lua, tentando destroçar outro — negro, de mesmo tamanho que o cor-de-prata — em pedaços?

No mínimo diriam que o produtor deste sonho, no caso eu, era ainda mais esquisito. Na pior das hipóteses, perturbado. Desta forma, preferi desde que comecei a tê-los não compartilhá-los com ninguém para evitar toda a especulação negativa que cairia sobre mim, principalmente vinda de minha avó — supersticiosa a ponto de não me deixar ficar com um gato que resgatara aos treze anos apenas por ser negro.

Mas era inevitável me sentir curioso em saber o fim deste pesadelo que, em cinco anos de replay, nunca dera as caras. Assim como era inevitável sentir uma angústia enorme toda vez que o lobo cor-de-prata era atacado pelos dentes, presos à mandíbula como facas, do lobo negro.

Eu conseguia sentir a dor que o lobo prateado sentia em meu formato humanizado, me esvaindo em lágrimas a cada vez que seu olhar feroz, que me escoltava, desviava-se por ter sido nocauteado.

O cenário desta briga formidável entre duas criaturas fortes e gloriosas era genocida. Tantas pessoas dando cabo da vida de outras e tendo como resultado um banho de sangue sobre as pedras de um penhasco muito acima do nível do mar.

E em minha nova casa não foi diferente, concluí assim que levantei de ímpeto da cama em que estava deitado, coberto por uma fina camada de suor e com minha respiração levemente descompassada. Levei a mão ao peito e fechei os olhos com força, tentando recobrar a calma, mas ela estava distante de ser dominada por meu espírito, raciocinei assim que me lembrei que...

Eu não tinha ido para a cama na noite passada.

Olhei em volta, distinguindo um criado mudo preto ao lado esquerdo da cama, duas gavetas com puxadores cinzentos, dois livros de porte pequeno e um abajur creme completavam o móvel.

Pude ver, também, a cortina azul-escuro enorme que cobria toda a janela lateral direita do quarto, impossibilitando qualquer raio solar de adentrar o mesmo.

Me levantando devagar da cama forrada por lençóis de mesma cor das cortinas, me aproximei a passos trôpegos delas, segurando suas extremidades e as abrindo com uma rapidez desnecessária, esbugalhando meus olhos de pronto ao ver a paisagem.

A floresta era tão perfeitamente nítida através da gigantesca janela de vidro que esta parecia não existir, contudo era notório que ela pairava toda a parede do quarto ao invés de tijolos rebocados e pintados.

Abaixando um pouco o olhar, pude me deparar com o solo coberto de terra e plantas, afinal eu estava no segundo andar, e isto foi o suficiente para fazer meu cérebro se aventurar numa vertigem que quase me derrubou no chão.

Atordoado pela tão maravilhosa quanto assustadora paisagem, me afastei a passos indecisos da janela, correndo até a porta do quarto, de mesma madeira que a porta de entrada da casa, e saindo com o coração um pouco desesperado. Eu precisava ver alguém, eu precisava confirmar que não estava sozinho.

Epiphany [KTH • KSJ]Onde histórias criam vida. Descubra agora