Fazia uma semana que tudo corria relativamente bem, considerando que meu país se encontrava em estado de guerra, esta que não dava qualquer sinal de avanço em ambas terras envolvidas, mas isso não dava sossego a qualquer habitante. Quando o silêncio é demais, a balbúrdia não demorará a começar.
Fui restringido individualmente por Kim Ryeowook e Park Jungsoo de continuar realizando afazeres que envolvessem força física durante um tempo, para minha própria segurança — e a dos outros que me cercavam, também — enquanto a avaria em meu ombro fazia parceria com o tempo para que eu melhorasse.
Isso levou o capitão da divisão a me dar uma tarefa muito mais particular que despertou a curiosidade dos que habitavam o campo. Eu me tornei uma espécie de pombo-correio dentro do casarão da esquerda, levava bilhetes da sala de rádio à sala de arquivos e vice-versa para que não houvesse tanta movimentação nos cômodos — me provei incrivelmente silencioso neste trabalho —, além de continuar realizando serviços domésticos dentro da divisão como qualquer outro soldado.
Mesmo que com aquilo eu tivesse nas mãos a oportunidade perfeita para descobrir se Taehyung estava naquela divisão, se não, onde, eu não consegui tomar iniciativa alguma para descobrir. Depois da primeira tentativa — e da primeira falha — fiquei com o pé mais atrás naquele plano, sem contar que o peso em minha consciência seria colossal, pois confiavam em mim de alguma forma.
E apesar de saber que estava perdendo tempo, eu sentia medo, muito mais depois de me dar com a armaria da divisão C.
Comparado à quantidade de armas que presenciei na bbam, a capacidade bélica que tínhamos dentro do campo quase triplicava, e se era assim apenas ali, imagine nas outras três divisões que estavam prontas para atacar a qualquer instante — inclusive traidores, infiltrados, como eu aparentaria ser se fosse pego espionando os arquivos dos soldados.
O país sulista definitivamente não estava para brincadeiras.
Por fim, a respeito da curiosidade alheia, me refiro a um indivíduo em particular que tinha uma piada sem graça na ponta da língua a cada esquina. Exatamente. Kim Youngwoon.
Eu deveria ignorar sua existência, mas era impossível quando me abordava da maneira mais espalhafatosa possível, chamando a atenção e despejando seu senso de humor tão perverso.
"Me responda uma coisa, garoto... Quando o capitão espirra, quem é o primeiro a oferecer a mão como lenço, Jungsoo ou você?"
"Quem vocês acham que foi o primeiro a rir quando o capitão contou a piada do homem mudo? Vou dar uma dica. Está perto dele como um paciente terminal perto da morte."
"Cuidado para não escolher o papel higiênico errado para o capitão limpar o traseiro, Kwon. Ele pode te substituir pelo Cho."
Francamente... A cada vez que eu ouvia a voz de Kim Youngwoon chegar aos meus ouvidos, mais vontade eu sentia de cravar minhas unhas em sua bochecha e arrancar aquele sorriso cínico de seu rosto.
Mas eu conseguia me conter levando na memória algo que Hyukjae me contara assim que ouvira a primeira piada do soldado birrento para comigo.
"Está tão óbvio que ele daria de tudo para estar no seu lugar..."
Mais tarde Donghae me contara que ao invés de apenas um aspirante-a-oficial, a maior ambição de Youngwoon era ser um capitão, por isso Kim Ryeowook lhe despertava tanta ira — todos na divisão, aliás...
A mente humana me surpreendia cada dia mais, sobretudo porque após o flagra que Jungsoo me dera eu esperava ser denunciado como cúmplice do país nortista, alguém que estava conjurando contra o sul, qualquer coisa que fosse digna de uma penitência, mas tudo isso não passou de um delírio decorrente à minha paranoia.
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Epiphany [KTH • KSJ]
Fanfiction"Ele chegou por acaso, como uma serendipidade. E me ganhou em toda sua singularidade." - Kim Seokjin [...] Algo que Kim Seokjin, mesmo em sua condição como ômega, não esperava e desejava era se casar com alguém que sequer tivesse alguma noção sobre...