Nunca me dei conta do quão parada era a minha vida até entrar para o exército sulista. Todo dia era um episódio diferente para aquela série de peripécias.
Se passou um dia desde o acontecido com o senhor da tatuagem de paraquedas — justamente, ele foi expulso da divisão C e encaminhado para uma penitenciária da capital —, e mesmo que minha natureza ômega se apiedasse de sua situação, eu jamais me sentira tão satisfeito, ainda mais pelo ocorrido ter sido mantido sob sigilo.
Foi muita sorte ele ter sido apreendido e condenado, pois existiam mais centenas, milhares de outras pessoas no país que cometiam as mesmas atrocidades que ele. E quanto a elas?
Mesmo que merecessem ser devidamente punidas, o silêncio das vítimas as encobriam. Ameaças e agressões faziam parte do cotidiano de muitos cidadãos sulistas e a obrigação do patriarca era oferecer suporte a qualquer um que sofresse a esse ponto.
"Bem... Não se pode esperar muito de alguém que zomba de ômegas lúpus que nunca se aproximaram de alfas antes." — lembrei-me de Cho Kyungha na reunião de escolha.
— "O patriarca toma as melhores decisões para qualquer que seja a classe, do mais proletário ômega ao mais reconhecido alfa...". Blá, blá, bla. Já começa por aí, certo, senhor Kyungha? Por que não citamos um alfa na penúria e um ômega bem sucedido, hum? E os betas? — resmunguei comigo mesmo, batendo o martelo com força no prego e revirando os olhos, jogando o objeto ao meu lado com descaso. — Garanto que não falta.
— Realmente não falta. — me sobressaltei pela voz repentina, levando a mão ao coração quando me deparei com Park Jungsoo, o sargento herói, à minha frente. — Posso me considerar exemplo disso.
— Jungsoo-Sunbae. — assenti uma vez como se fosse uma reverência, sorrindo pequeno para sua expressão maliciosa como se acabasse de pegar alguém no flagra.
Pois é. Park Jungsoo sempre me pegava no flagra. Eu devia ser muito cauteloso quanto a ele.
— Apenas vim checar se está tudo correndo bem por aqui. Você não parece ser muito ágil com o martelo. — me provocou, e eu teria lhe mostrado a língua se sua patente já não pudesse aplicar sanções.
Tudo começou quando após a monótona/rígida rotina — acordar às cinco e meia da manhã, comer um pão de forma absurdamente seco, se dirigir ao gramado para cantar o hino sulista e começar os exercícios físicos — os soldados foram designados a uma nova missão.
O conserto dos telhados dos casarões.
O capitão Kim Ryeowook captou no rádio que chuvas violentas estavam por vir graças ao inverno que chegara com toda vontade de agir. Logo seria bastante proveitoso substituir as telhas antigas comidas por cupins por novas.
Uma inundação no casarão de documentos governamentais seria desastrosa, e tentar tomar alguma providência em cima da hora não era uma opção.
Teria sido um trabalho em equipe admirável se eu não fosse quem pegou o martelo quebrado e deixou a cunha cair em cima do pé de um soldado enquanto eu subia a escada para os telhados.
Não houve discussão, eu tive a sorte de acertar um beta que apenas virou uma carranca para mim antes de se dirigir mancando ao casarão de documentos governamentais — eu não tinha capacidade alguma para consertar o telhado deste casarão sem prejudicar o interior da construção —, mas o ocorrido me rendeu uma primeira impressão do alfa Kim Youngwoon que, carregando uma pilha de telhas como se fossem travesseiros, lançou:
"— Já dá para ver que o seu martelo não acerta bem o prego, hein, soldado?"
E saiu marchando em direção ao casarão da esquerda, gargalhando pela piada que apenas ele entendera.
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Epiphany [KTH • KSJ]
Фанфик"Ele chegou por acaso, como uma serendipidade. E me ganhou em toda sua singularidade." - Kim Seokjin [...] Algo que Kim Seokjin, mesmo em sua condição como ômega, não esperava e desejava era se casar com alguém que sequer tivesse alguma noção sobre...