[22] Flames

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Meus pulmões imploravam por descanso, o ar dentro deles era gelado e denso, me forçava a estagnar em alguns pontos enquanto Taehyung corria à minha frente tão rápido quanto o vento. Seus passos eram tão pesados quanto minha respiração ofegante, levantavam a terra escura enquanto corríamos para os três casarões, eu estava hiperventilando, cambaleando pela floresta enquanto meus olhos desfocados lutavam para se concentrarem na imagem afronte deles.

Mesmo que de forma trêmula, minhas pupilas capturaram a visão das chamas num rubro tão intenso que se assemelhava a sangue, mas este líquido viscoso não chegava a ser tão danoso como as brasas que as telhas de madeira deixavam voar enquanto queimavam, se dissipando no ar à medida que tudo era destruído.

"Um ataque? Mas agora? Não pode ser possível!" — tentava convencer a mim mesmo disso, mas eu estava completamente ciente do que acontecia ali.

A divisão fora atacada de surpresa e agora todos estavam queimando como o meu peito quando a fuligem negra entrou por minhas narinas e tornou-se tudo o que me cercava. Eu estava perdido.

— Seokjin, você não pode ficar aqui! Temos que achar um lugar seguro para você! — Taehyung me segurou pelos ombros, e numa tentativa de me levar para longe daquela nuvem de fumaça me levou a travar as pernas. — Seokjin!

— Não vou fugir. — murmurei, meu olhar perdido no gramado focou seu rosto apreensivo, olhando além de seu corpo para se deparar com todos os soldados desesperados, carregando baldes cheios d'água aqui e acolá para tentar salvar algo do casarão da esquerda. — Eles precisam de nós.

— Você não pode fazer nada como está, Seokjin! Pense no filhote que está carregando em seu ventre! — pediu, tentando me induzir a sair dali e respirar um pouco de ar puro, mas não fazia nada além de perder tempo. Me desvencilhei de seus braços e tomei a dianteira em direção aos soldados, sendo parado por seu corpo rígido antes que tivesse a sorte de alcançá-los. — Seokjin, eu não vou perder você!

— Não. Não vai. — lhe passei toda segurança que podia através do tom firme. Ele se desestabilizou momentaneamente, então deu um passo para trás e engoliu em seco, os olhos marejados pelo dióxido de carbono que tomava conta do campo. — Eu voltarei para você.

Bastou aquela promessa estampada em meus olhos para que ele não tentasse mais me impedir, não que ele tenha ficado tranquilo, mas tínhamos uma prioridade ali. Não demorou para que eu corresse e pegasse um balde de madeira, levando-o para encher dentro do casarão da direita, com água da pia, já que os outros homens se amontoavam sobre as diversas caixas d'água que os casarões possuíam.

Minhas pernas trêmulas não foram tão eficazes em correr enquanto eu carregava o balde pesado, mas eu fiz o melhor que pude, usando todos os músculos de meu corpo para jogar a água sobre uma chama forte e retornar a fazer o mesmo incontáveis vezes até que ela desse indício de que se apagaria e morreria.

Numa de minhas corridas para encher o balde, esbarrei com alguém tão bruscamente que meu corpo foi ao chão sem qualquer chance de impedimento. Não havia reação exata para ser esboçada mediante à situação, então eu apenas peguei a mão que foi estendida para me ajudar a levantar. Entretanto, quem quer que tivesse me empurrado sem querer, fizera novamente de propósito e com ainda mais força para que minhas costas se chocassem com o chão violentamente. Um gemido deixou meus lábios antes que eu pudesse ouvir sua exclamação.

— Traidor!

Não.

Não podia estar acontecendo.

Kim Youngwoon me encarava com algo que jamais me tinha sido direcionado de forma tão certeira. Ódio. Os lábios franzidos, os músculos contraídos, parecia prestes a pular em cima de mim e me esquartejar com as próprias mãos a qualquer instante. Eu poderia compará-lo a Jaehyun, mas ele não possuía um sorriso sarcástico no rosto e eu não o socara, afinal.

Epiphany [KTH • KSJ]Onde histórias criam vida. Descubra agora