O silêncio pairava na casa, tenso e assustador.Caminhei pelo quarto buscando pela minha cama. Minha visão estava turva pelas lágrimas que ali brotavam.
Esfreguei os olhos esperando que as lágrimas fossem embora inutilmente. Um medo inimaginável me atingiu com toda força. E se ele tentasse algo com a minha mãe? Ou com uma das minhas melhores amigas? MInha garganta parecia fechada e minhas mãos suavam desde o momento que vi Vater aqui, dentro do meu quarto.
Dentro de mim, o desespero havia tomado conta. Isso tudo tinha se tornado um jogo perdido antes mesmo que eu percebesse que estava jogando.
Reuni minhas forças e me levantei da cama indo em direção ao banheiro.
Não há muito que eu possa fazer a não ser jogar com ele. Sempre existe a chance de começar novamente. Pra quê mais serviria o botão de Restart quando se perde uma partida?
Do lado se fora a noite estava fria e tipicamente nebulosa.
Me atirei dentro do carro que um dia fora propriedade de minha mãe me dirigi até a escola o mais rápido que pude. Eu devia contar para alguém que ele esteve aqui? Que claramente me ameaçou? Que poderia facilmente ter me assinado e não o fez?
Estacionei perto da escola mas fora do estacionamento que oferecem.
Caminhei pela rua escura e fui diretamente até o campo onde o jogo ocorreria. As meninas e eu havíamos combinado de nos encontrar em uma barraquinha de algodão doce que sempre fica aqui em dias de jogos.
O lugar estava assustadoremente cheio, não reconheci nenhum rosto na multidão.
Minutos depois, meu rosto cansado e estressado estava na compainha de Cassy, Em e Char. Nós estávamos sentadas bem no começo da arquibancada, perto do campo.
Um pouco de tempo depois do jogo começar, avisei que iria ao banheiro.
Eu não queria ir ao banheiro mas precisava de mais um tempo sozinha. Um tempo para respirar fundo sem que alguém me perguntasse se estava bem.
No caminho até o banheiro bati bruscamente de frente com alguém bem grande. Foi uma cena tão boba e estúpida que por um segundo pensei que o cara tinha esbarrado em mim de propósito.
Conforme levantei meus olhos o comparei cada segundo mais com uma porta até me deparar com o rosto de Oliver Fancinelli.
Abri a boca em espanto sem entender. O mesmo Oliver que vive de confusões e brigas, o filho do melhor amigo do meu pai, o brutamonte loiro que poderia facilmente ser confundido com uma barra de musculação de peruca loira.
Seus olhos castanhos me encaravam com um certo tipo de divertimento.
- Oliver? - consegui falar - O que você... - tente terminar mas ele me impediu com um abraço repentino.
Nós dois nunca nos damos bem. Nunca! Ele sempre estava roubando meus brinquedos e rabiscando meus desenhos. Qual o sentido de abraçar alguém que você atormentou pela maior parte da infância?
- Liazinha! - exclamou trazendo meu antigo apelido de volta a vida - Senti saudades da minha garotinha! - ele sorriu largamente.
Semicerrei os olhos em dúvida. Isso realmente estava acontecendo?
- Hum... Olha só Ollie, não vai rolar, sacou? - comecei - Pode ir me dizendo o que quer e por quê. - disse de uma só vez.
Ele revirou os olhos e eu continuei encarando-o de braços cruzados.
O loiro estudou meu rosto por uns segundos até que se rendeu aos meus encantos investigativos.
- Tudo bem - começou o garoto mas por um descuido meu, meus olhos focaram aos fundos do lugar, onde Gunner Cumpbell passava cabisbaixo com um taco de lacrosse e sua camisa do uniforme pendurada no braço. - Eu queria pedir um favorzinho...- ele não pôde terminar quando eu simplesmente o empurrei e gritei um conversamos depois. Saí em disparada na direção de Gunner e depois de passar entre muitas pessoas e quase o perder de vista, consegui alcançá-lo.
- Gunner - exclamei e segurei o braço dele - Podemos conversar - tentei falar ofegante - Em particular.
Pouco tempo depois, Gunner e eu estávamos do lado de fora da área ocupada pelo colégio e menos iluminação.
- O que houve, Amélia? - ele quis saber, aflito.
Hesitei por alguns segundos e o encarei.
- Você tinha me dito sobre o... - tossi levemente. O frio daquela noite me trouxe um resfriado de presente. - Sobre o Vater. - tossi baixo mais uma vez - Eu quero que você me conte o que sabe. Por favor.
- E por que eu contaria, Amélia? - indagou com a voz baixa - Por causa de você - ele apontou o indicador na minha direção - Eu não posso andar por aí sem medo de não voltar mais pra casa!
Juntei as sobrancelhas.
- E você acha que eu posso? - perguntei olhando-o nos olhos. Queria questioná-lo sobre isso ser culpa minha quando evidentemente não é, mas existem outros assuntos a serem tratados no momento - Você realmente pensa que é o único prejudicado nessa história? - ri sem humor e Gunner ficou paralisado - Eu quero poder me deitar sem ter que me preocupar se uma de minhas amigas ou alguém que eu ame está sendo sequestrado! - exclamei - Mas Gunner, eu não posso. - falei cautelosamente - Tem um homem... - procurei as palavras adequadas - Um psicopata, por aí, que não se importa em machucar pra conseguir o que quer! - exclamei tentando manter a calma - E ele é o mesmo homem de quem você tanto foge!
Depois do meu discurso com aparência de texto motivacional, Gunner cedeu.
Tudo o que ele me disse naquela noite fazia total sentido; Vater Von Allem era um dois maiores produtores de substâncias ilegais de toda a América do Norte. Ele fazia parte da elite protegida até mesmo pelo governo, que nunca se deu o trabalho de investigar sua principal fonte de renda.
Segundo Gunner, suas substâncias tinham uma espécie de camuflagem sob a produção e venda de outros produtos - legalizados, obviamente.
Gunner conseguia todas as suas substâncias ilegais através de um dos compradores de Vater. Um homem muito rico e que gostava de fazer negócios com adolescentes idiotas. Eles compram, as dívidas aumentam, e ele enriquece cada vez mais. Gunne contou-me que tal homem se intitula "Filho Pródigo".
Quando eu perguntei sobre a possibilade de denunciar as produções de Vater, Gunner rebateu com o fato de que apenas os sócios mais próximos de Vater terem noção de onde tal produção ocorre.
E tudo aquilo era muita informação para minha mente.
Uma dor de cabeça me atingiu muito fortemente assim que ele parou de falar.
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Eu (não) Estou a Fim de Você | Em Revisão
Novela JuvenilCUIDADO: esta história pode parar seu coração por ser clichê! "A curiosidade matou o gato" é o que sempre insistem em dizer para Amélia, uma garota extremamente curiosa de dezesseis anos. Ame tem um crush, Gunner Campbell. Típico para essa idade, nã...