O Chamado do Corvo

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Boa Leitura. Não se esqueçam da estrelinha <3

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Normalmente o sono é um momento que usamos para nos recuperarmos do desgaste físico causado durante o dia, como se reiniciássemos o nosso celebro para que possa funcionar sem bugs e travamentos indesejados. Porém para mim a hora de dormir vem se tornando cada vez mais angustiante, não consigo deixar os olhos fechados por muito tempo, já que estou sempre girando na cama buscando uma posição confortável e menos dolorida. No entanto quando enfim consigo fechar os olhos com tranquilidade, sou atormentado por terríveis fantasmas. Eles sabem exatamente aonde fica a ferida mais dolorosa para abri-la novamente sem piedade. Nesta noite não foi diferente, quando enfim achei que dormiria em paz, eles vieram para me atormentar; nunca chegam atrasados.

Estava escuro e caminhava com dificuldade, pois meus pés se prendiam em alguma coisa pastosa a cada passo que dava; tive medo de checar o que era porém mesmo se isso eu fizesse, ainda estava escuro demais para que pudesse enxergar. Continuei caminhando em frente, com cuidado para não tropeçar em algo ou bater a cabeça.

Um pequeno raio de luz apareceu na minha frente, se tornando maior cada vez que me aproximava, porém não era uma luz branca e cheia de esperança, como o velho ditado costuma contar, era uma luz vermelha e incandescente, quase podia sentir calor emanando dela. Se eu estivesse morto e aquilo significasse o local para onde eu estava indo, com certeza eu não queria ir naquela direção, porém as minhas pernas não obedeciam aos meus comandos, continuavam seguindo em frente como se estivessem sendo atraídas por algo.

Talvez não pudesse fugir do meu destino. Sempre pensei que tinha sido uma pessoa boa.

Quando foi envolvido pela intensa luz vermelha, fechei os meus olhos para me acostumar com a claridade, quando os abri outra vez podia ver com clareza aonde eu estava. Havia acabado de sair de dentro de uma gruta que levava a uma espécie de pântano, onde um material negro e viscoso prendia meus pés ao chão, se esticando como chiclete a cada passo que me esforçava para dar.

Não estava anoite e também não sei se poderia chamar aquilo de dia, pois havia um grande círculo luminoso no céu, porem ele era vermelho e tão grande que parecia vir em direção da terra como um enorme meteoro; o que contribuía para tornar todo o céu também ganhasse diversas tonalidades de vermelho, além de não haver nuvens.

A sensação de estar morto continuava e talvez tivessem me mandado para o departamento errado depois que isso aconteceu. Porém não me lembrava como isso poderia ter ocorrido, lembro apenas de todos estarmos conversando sobre como tiraríamos Neron de Arcanjos.

Árvores secas com galhos retorcidos eram as únicas coisas que contribuíam para aquele cenário mórbido, um grande pântano sem vida. Provavelmente todas aquelas árvores haviam sido envenenadas por aquele liquido negro que parecia me puxar para baixo, por isso não podia ficar parado por muito tempo, tinha que continuar andando mesmo sem saber onde iria.

Pequenos pontos negros pousaram sobre os galhos das árvores mortas, a cada passo que dava ainda com dificuldade devido aquele liquido pegajoso, mais pássaros se empoleiravam nos galhos ao meu redor. Corvos que pareciam curiosos com a minha presença naquele lugar, observando todos os meus movimentos com cautela.

Um corvo se destacava entre os outros, pois seus olhos possuíam uma coloração diferente, vermelhos como o sol daquele mundo estranho, ou talvez fosse um meteoro, eu ainda não tinha certeza do que era aquela coisa que possuía um brilho tão intenso.

Passei a observar os olhos vermelho daquele corvo, e da mesma forma ele também me observava, fazendo com que sentisse um sentimento estranho que não conseguia entender. Aqueles eram os mesmos olhos vermelhos de Neron, curiosos mas intensos ao mesmo tempo, assim como na noite em que o conheci, estava outra vez preso em todo o mistério que carregavam; jamais poderia esquecer aqueles olhos. Porém havia algo de diferente, Neron não era o único que possuía aqueles olhos intensos.

—Karasu?

O corvo de olhos vermelhos moveu sua cabeça, confirmando a minha pergunta. No entanto logo depois bateu suas assas e voou, mesmo ainda com dificuldade continuei batalhando contra aquela lama negra que prendia meus pés ao chão, não podia perde-lo de vista. Continuei seguindo o corvo que provavelmente poderia ser Karasu, por mais que soubesse que ele havia sido sacrificado por Escarmom, o que apenas confirmava minha teoria sobre este lugar.

Encontrei o corvo pousado novamente encima dos galhos de uma árvore seca e sem folhas, porém ele não era o único que ali estava, havia um garoto preso na árvore com seus braços acorrentados, ele estava inconsciente e com a cabeça caída o que me impedia de ver o seu rosto. Continuei caminhando em sua direção, sob a vigilância do corvo de olhos vermelhos que não paravam de me observar, foi então que percebi quem era aquele garoto. Por um momento achei que o meu sangue havia parado de circular pelas minhas veias enquanto uma forte aflição tomava conta do meu peito.

—Neron. —Disse para mim mesmo ao perceber que era ele o garoto que estava preso. —NERON! NERON! —Gritei o mais alto que meus pulmões conseguiam suportar, enquanto tentava inutilmente correr em sua direção, porem quanto mais rápido tentava chegar até ele mais aquela lama me prendia ao chão.

Diversos pontos negros tomaram conta do céu, corvos que voavam em minha direção, me cercando de todos os lados, tentava acompanha-los com os olhos mas era impossível, o que apenas contribuía para que ficasse tonto, tornando a revoada de corvos borrões negros destorcidos.

Tropecei em algo fazendo com que caísse naquele chão enlameado, mas ainda assim não tirava os olhos de Neron em meio a todos aqueles borrões negros que rodopiavam ao meu redor. Meu estomago começou a ficar embrulhado e o gosto de vomito veio em minha boca.

—Você precisa ser rápido. —Disse uma voz masculina dentro da minha cabeça que me parecia estranhamente familiar. Era a voz de Karasu.

Fechei os olhos buscando uma forma de deixar de olhar para todos aqueles borrões negros. Quando os abri estava de volta no meu quarto, porém a mão de Charlotte tampava a minha boca, enquanto com sua prótese ela fazia um sinal para que eu ficasse em silêncio. Meu coração ainda permanecia acelerado, sendo que as imagens daquele pesadelo medonho ainda continuavam frescas em minha memória, o que me impediam de raciocinar direito sobre o que estava acontecendo ali.

—O que está acontecendo? —Perguntei ainda ofegante assim que ela retirou sua mão de sobre minha boca.

—Eu não pensei que eles seriam tão rápidos. —Respondeu Charlotte. —Precisamos fazer silêncio. Arrume suas coisas!

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Será que era mesmo o Karasu?

O Corvo e o Lobo 2 - A magia do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora