Capítulo 5: "Acha que vai ser ele?"

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Apesar das cortinas escuras estarem completamente fechadas, pequenos raios de luz entravam no quarto. O sol já tinha nascido, e eu estava acordada há pouco menos que dez minutos.

Chris dormia pacificamente a minha frente, o rosto deitado no travesseiro. Sua boca estava entreaberta, e eu não resisti ao impulso de passar a ponta do dedo por seu lábio inferior. Ele tinha marcas vermelhas pela lateral do rosto, por ter dormido com a mão embaixo dela. O cabelo tinha cachos nas pontas e caia sobre os olhos fechados.

Ele estava tão calmo...

Soltei um suspiro, meu coração se apertando no peito.

Girei na cama devagar, o braço de Chris saindo de cima de mim. Me sentei, encarando o quarto no escuro. Meu celular indicava ser sete e vinte da manhã. Apesar de querer continuar dormindo, eu sabia que não conseguiria.

Deixei Chris na cama e me levantei. Ele eu sabia que não acordaria tão cedo.


E de fato não acordou.

Já se passava do meio dia. Eu tinha saído para andar na praia, entrei na trilha que tinha do lado de cima da casa. Tirei diversas fotos, tomei café da manhã e preparei as coisas para o almoço. Tive que guardar tudo que preparei porque não queria almoçar sem Chris.

Eu estava sentada no tapete da sala, separando fotos que tinha imprimido na última semana. Eu tinha diversas fotos do Chris e de nós dois desde nossa primeira semana juntos. Depois de alguns dias de decisão, resolvi fazer um álbum de fotos. Era um livro grande e branco. Eu ainda iria personalizar a capa, assim como a primeira folha e as partes de dentro das capas. Por enquanto não tinha colado nada e só estava separando as fotos.

— Hey... — disse Chris, chegando a sala arrastando os pés, coçando os olhos.

Me virei, sorrindo para a cena. Parecia um garotinho de dez anos. A calça moletom folgada, a camiseta grande de mais e os pés descalços. O cabelo caia liso no rosto, com as mechas loiras se destacando em sua roupa inteira cinza.

Ele estava sonolento de mais para ter alguma reação quando tirei uma foto sua. Na realidade acho que nem deve ter me visto com a câmera levantada.

Vindo até o centro da sala se sentou ao meu lado, bocejando e olhando as fotos.

— São para o álbum? — perguntou. Confirmei com a cabeça, o olhando. Passando o dedo por cima das fotos ele pegou uma delas, encarando a data no canto inferior. — É estranho pensar que esse tempo todo você estava gravida.

A foto que ele tinha pegado era uma minha na praia, no final de semana que ele tinha ido embora após nossa primeira semana juntos.

— Vai ser ótimo a gente explicar para ele que o fizemos em uma noite que nem sabíamos o nome um do outro. E que você saiu correndo de manhã.

— O que? — O encarei. — Eu não sai correndo.

— Saiu sim. — Riu, cruzando as pernas e me olhando.

— E você roubou meu celular — argumentei.

— Você esqueceu ele, é diferente.

— E você se apossou dele pelas horas seguintes.

— Isso — apontou para mim — é verdade.

Neguei com a cabeça rindo. Me lembrando da frase que tinha dito no inicio, franzi a testa.

— Acha que vai ser ele? — perguntei.

— Não sei. — Chris soltou um suspiro e virou o rosto para me olhar. — Quando imagino, vejo um menino.

— Eu também... Acho que o nome Angel não vai ser muito útil.

— Não. — Ele riu, pegando outras fotos para olhar. — Quando você tem consulta?

— Essa semana... Vai poder ir?

Ele me encarou por alguns segundos. Eu já tive que adiar varias vezes minhas consultas para que elas batessem em datas que Chris estivesse na cidade. Isso estava se tornando um verdadeiro desafio.

— Vou sim — respondeu, dando um sorriso fraco.

Ficando reflexivo por alguns minutos, Chris ficou em silêncio, olhando as fotos. Após um tempo, com um suspiro pesado, finalmente falou:

— Toda vez que eu saia em turnê pensava como seria aguentar a saudade de casa. Da minha família. Me pergunto agora como vou aguentar deixar você pra trás. Deixar vocês dois. Não vou aguentar isso.

— Vai sim — falei, me ajoelhando e indo até ele, ficando de joelhos entre suas pernas. Segurei seu rosto entre as mãos. — Esses meses vão passar rápido, você nem vai ver.

—Exatamente. Eles vão passar rápido, e eu não vou ver. Vou perder toda sua gravidez.

— Não vai! — Apertei minhas unhas em seu rosto, soltando ao notar que elas estavam grandes e podiam machucar. — Vocês sempre voltam para Miami, e eu posso muito bem tirar alguns dias para ir te ver.

Ele levantou o olhar.

— Vai conseguir esconder uma gravidez até o final? — perguntou, com os olhos cheio de dor.

Há alguns dias nós conversamos sobre isso, quando Lana me perguntou quando eu começaria a exibir meu corpo de gravida na internet. A questão é que eu não vou. Chris me pediu para não fazer isso, e eu atendi ao seu desejo. Se nem mesmo ele tinha se acostumado com a ideia de que seria pai, quem dirá ter que fazer outras pessoas se acostumarem.

— Vou — respondi, lhe dando um selinho.

— Desculpe te pedir isso...

Balancei a cabeça, negando.

— Tá tudo bem. — Me levantei, estendendo a mão. — Vem. Vamos preparar nosso almoço.

Chris não era lá a melhor pessoa na cozinha, mas pelo menos ajudava. E também roubava sempre um pouco da carne e dos frios.

— Sabe, as vezes eu fico surpresa de você não ser vegetariana — falou, sentado na bancada enquanto picava uma maça. — Você é toda nessa vibe de paz, amor, proteção ao meio ambiente e aos animais.

— Eu já tentei ser vegetariana — confessei — porque as razões para alguém deixar de comer carne são muitas, mas não deu certo. Eu tava fazendo tratamento hormonal na época, e perdi muito peso. Não era a hora para fazer uma mudança tão grande na minha dieta.

— Seus problemas hormonais são por causa do acidente?

— Aham. Quer dizer, eu já tinha alguns problemas menores, mas nunca foi nada grave. Começou a piorar conforme eu ficava mais velha.

— Que problemas você tem hoje?

Parei o que estava fazendo e olhei para Chris, suspirando. As vezes eu me esquecia que a gente se conhecia a pouco tempo, e que não sabíamos nada um do outro.

— Meu ovário não produz a quantidade necessária de hormônios que meu corpo precisa para eu ter uma gravidez. Isso e mais a cicatriz no meu útero é o que fazem minha gravidez delicada. Você já sabia disso, lembra?

Ele ficou quietinho, puxando pontas da casca da maça, olhando para baixo.

— As coisas ainda não se encaixam para mim — confessou. — É claro que eu sabia, sua médica me enviou um e-mail de mais de duas mil palavras explicando cada detalhe do assunto. — Ele levantou o rosto e me olhou, e eu pude ver medo em sua expressão. — Mas vai dar tudo certo, né?

Prendi a respiração, e não me dei ao luxo de pensar em sua pergunta, porque eu já tinha perdido muitas noites acordada fazendo isso.

— Sim, vai dar tudo certo. 

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