Fiquei meditando por mais de duas horas, e depois disso, tudo começou a clarear na minha mente. Eu realmente precisava meditar.
Voltei para o carro, vendo Chris cochilando com a cabeça no vidro. Dei uma batidinha na janela do lado dele, o fazendo acordar.
— Deixa eu dirigir — pedi. — Quero te levar em um lugar.
— Agora? — Ele bocejou, olhando a hora no celular. Confirmei com a cabeça. — Tá bom.
Indo para o banco de passageiro, me deu lugar onde estava antes. Eu ainda achava ruim dirigir grávida, mas minha barriga não estava tão grande para me atrapalhar.
Eu nasci em Londres, e por muitos anos passava as férias aqui. Conhecia aquelas ruas, que levavam a casa antiga dos meus pais com a palma das mãos.
O bairro era calmo, em uma colina, com ruas de pedras escuras e largas, casas de dois andares e cerca branca. Parei em uma esquina, e entre muitas casas na rua, uma era violeta, e tinha luzes acessas.
Quando Chris e eu fomos ao Equador para eu conhecer sua família, ele me levou a diversos lugares que ia quando pequeno. Mostrou onde passou sua adolescência, onde aprendeu a andar de skate e o local do seu primeiro beijo.
Ele tinha me mostrado muitas partes da vida dele, e eu feito o mesmo. Mas tinha algo na minha a qual ele nunca teve acesso: minha mãe.
— Aquela — apontei para a casa violeta — é a casa da minha mãe. — Chris franziu a testa, estreitando os olhos para a residência. Um carro parou em frente a casa, e uma mulher saiu carregando sacolas. Prendi a respiração. — E aquela é a minha mãe.
Oito anos. Esse era o tempo que eu não a via.
Eu não tinha reação. Não conseguia sentir raiva, saudade, tristeza ou qualquer outra coisa. Por alguns instantes, me esqueci até de respirar.
— Blair? — chamou Chris, me vendo sair do carro.
Eu podia saber o que estava fazendo, mas mesmo assim não conseguia parar. Chris andava rápido atrás de mim, enquanto eu atravessa a rua até minha antiga casa.
Jane estava parada na porta, procurando pelas chaves, quando eu me aproximei, parando no portão branco baixo. Ela virou o rosto, o cabelo preto caindo nos olhos. Aquele rosto tão familiar que eu via todos os dias no espelho, o mesmo formato. O cabelo negro como a noite, e olhos azuis incrivelmente brilhantes.
Meu coração pulava acelerado no peito, e minhas mãos suavam.
— Blair? — Ela me olhou, parecendo não acreditar no que estava vendo.
Naquele momento eu pensei em como me sentiria se meu filho ficasse longe de mim por oito anos. Como eu aguentaria tanto tempo, em silêncio. Como me sentiria quando ele finalmente voltasse para casa. Como eu gostaria que fosse.
— Oi mãe — respondi, com os olhos cheios de lágrimas.
Ela parecia não saber como reagir, e então eu apenas cortei a distância entre nós, indo até ela e a abraçando.
Fechei os olhos, sentindo seus braços me apertando. Ela ainda cheirava a papel de jornal, tinta de caneta e doces. Aquele cheiro que me rodeou por anos. Que me sussurrava segredos para uma foto perfeita. O verbo certo para escrever uma critica. As combinações para um poema. Os ângulos certos. As perguntas corretas.
Todos os anos ruins ficaram apagados em minha memória, borrados atrás de uma nuvem.
Minha vergonha nunca foi o ódio que eu sentia por ela. Era vergonha própria de nunca conseguir a perdoar. O problema era que eu nunca nem mesmo tentei.
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Consequences
FanfictionChristopher e Blair não estavam prontos para um relacionamento quando entraram em um, e muito menos para o que veio junto a ele: uma gravidez. Com um filho vindo, as coisas entre os dois ficam sérias mais rápido que o desejado. Enquanto Blair preci...