Capítulo 18: "Fique com a gente."

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Acordei no hospital, gemendo de dor enquanto médicos me seguravam.

— Blair? — chamou um deles, passando uma lanterna por meu olho. — Blair, preciso que você fique com a gente por só alguns segundos. — Pisquei, não aguentando ficar com os olhos abertos. — Blair? — Abri os olhos, vendo tudo embaçado. — Não podemos fazer uma cesárea, preciso que você fique acordada enquanto te levamos para a piscina, ok?

Piscina..?

— Consegui entrar em contato com a médica dela nos Estados Unidos — falou alguém ao fundo. — Ela disse que se forçarmos um parto normal ela pode sofrer uma hemorragia interna muito grande.

— É contras as leis do país, William. Não posso fazer uma cesárea.

— Ela não tá aguentando nem ficar com o olho aberto, como vai aguentar fazer um parto normal?

Não consegui falar nada, e apaguei outra vez.


Quando acordei senti meu corpo todo formigando, mas sem dor alguma. Virei o rosto, vendo Chris sentado em uma poltrona, com as mãos cruzadas na frente da boca.

— Hey... — chamei, estendendo a mão.

— Blair. — Ele levantou os olhos, assustado e aliviado, vindo até mim.

Ainda zonza, passei os olhos pelo quarto. Duas mulheres estavam em um canto, fazendo algo que eu não conseguia ver.

— Aquelas são as parteiras — explicou. Franzi a testa.

Mesmo não conseguindo me lembrar bem da conversa que eu tinha ouvido dos médicos, eu sabia que não poderia fazer parto normal. Isso foi algo que ficou claro desde o começo da gravidez. As chances de eu causar uma abertura grande em minha cicatriz durante um parto normal era quase de 100%.

Chris pareceu entender o que eu estava pensando.

— Eles te medicaram para tirar sua dor, para você conseguir fazer o parto. Se der algum problema, eles te levam para fazer a cesárea. Na Inglaterra não é permitido cesárea.

— Eu sei... — murmurei, sentindo minha garganta seca. — Não era para ele nascer agora, Chris... — Neguei com a cabeça. — Não era. — O olhei, lágrimas se formando em meus olhos. — Não vou conseguir.

— O que? — Ele se abaixou ao meu lado. — Vai sim. Não fala isso Blair.

Respirei fundo, sentindo uma pontada forte nas costas, como antes de apagar. Quando eu soltei um grito de dor, uma das mulheres se virou.

— O remédio tira os sentidos e as contrações, não dá para sabermos quando o bebê vai vim. — Se sentou em um banco a minha frente. — Eu me chamo Marie, e aquela é Susan. — Apontou para a outra mulher, que continuava no canto. — Se está sentindo algo mesmo com a medicação, é porque tá na hora.

Arregalei os olhos.

— Não tá. — Me encolhi. — Ele vai ficar aqui dentro. — Cruzei as pernas.

— Blair... — Chris colocou a mão em meu ombro.

— Nem vem. O filho é meu, e eu decido que ele não vai sair. Ele não tem que querer nada. Vai ficar aqui.

A outra parteira se juntou a nós, olhando em seu relógio.

— A medicação já tá passando, tá na hora.

Senti meu coração acelerado, e por alguns segundos, tudo no quarto rodou. Respirei fundo, precisando de ar.

Meu Deus. Ia acontecer.

Nunca quis tanto gritar um palavrão. Um bem feio mesmo. 

— X? — falou Chris, dando um sorriso amarelo, com uma câmera em mãos.

Soltei uma risada.

— O que? — Ele deu de ombros. — Você me fez prometer que eu iria registrar tudo. To registrando. Agora dá um sorriso bem bonito.

— Só você para me fazer rir agora...

— Ok, vamos começar — disse Susan, trazendo uma bacia e a colocando no chão a minha frente.

As mulheres me acomodaram na cama, meus pés ficando apoiados na beirada de forma que deixassem minhas pernas abertas. Medindo minha dilação, Marie disse que o bebê já estava pronto.

Mas eu estava longe de me sentir pronta.

Fechei os olhos, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos. Ok, eu consigo fazer isso...

Senti Chris se inclinando sobre mim, e seus lábios beijaram minha testa. Ele permaneceu ali, parado por alguns segundos. Meu coração se apertou de amor no peito.

Eu consigo fazer isso.

— Pronta? — pergunta Marie. — É só fazer força.

Ah, só... Essa mulher faz parecer fácil.

Olhei para Chris, que segurava minha mão e me olhava aflito, apesar de tentar esconder isso. Porém, como sempre, apesar de tudo, seus olhos brilhavam de felicidade.

— Pronto.


Suor escorria pelo meu rosto, e quando eu estava prestes a achar que não tinha mais forças para continuar tentando, o bebê nasce. Um choro preenche o quarto.

Me inclinei para a frente, tentando ver ele.

— Ele tá bem? — perguntei.

— Muito bem — responderam.

Fecho os olhos, me jogando contra a cama e respirando fundo.

— Aqui — falou Marie, vindo até mim com ele, o entregando para mim.

O peguei, vendo ele pela primeira vez. Era tão pequeno... Seu corpo se encaixava no meu colo do peito. Chris estava ao meu lado, apenas olhando.

— Hey... — falei, passando o dedos por seu rosto. Eu já não sabia mais se o que escorria por meu rosto era lágrima ou suor. Naquele momento eu senti que iria explodir de amor. Meu filho... Fechei os olhos.

— Blair? — chamou Chris, enquanto suas mãos seguravam o bebê. Eu nem notei que o estava soltando.

Tentei olhar para Chris, mas a sala girou, e eu perdi os sentidos. Antes que eu pudesse perguntar o que estava acontecendo, cai em escuridão.

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