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Acordo sentindo meu corpo pesar, meus sentidos vão voltando muito lentamente, estou desorientada e com muita dor. A primeira coisa que percebo é que estou pendurada pelas mãos por uma corda presa em um gancho, a segunda e terceira são as vestes quase inexistente em meu corpo e que estou em um galpão abandonado e sujo, por onde ventos muito fortes e frios vão passando pelo meu corpo.

Conforme meus pensamentos começam a se ordenar começo a ficar desesperada tentando me orientar, buscando explicações de como vim parar aqui. Lembro-me então de ver Sabrina e Cory juntos, de sair pela rua sem pensar muito e ir em direção a casa de Jony, então de um carro parar a minha frente e o motorista me oferecer carona, eu conheço ele, confio nele e aceito, sento-me no carona e partimos, então tudo some e paro aqui. Por que, por que ele teria feito isso comigo?

A realidade me bate como um soco forte no estômago, então eu grito, grito por ajuda, grito por misericórdia, grito por qualquer coisa, ou qualquer pessoa que me tire daquele lugar antes que aquele louco retorne.

- SOCORRO! ME AJUDEM! POR FAVOR! MEU DEUS, O QUE ESTA ACONTECENDO! ME TIRA DAQUI! SEU MALUCO SÁDICO! Blá, blá, blá. - Ele entra pela única porta existente naquele lugar batendo palmas, me imitando e com um sorriso que me causa asco, o sorriso de um psicopata desiquilibrado. - Bravo! Você esta sendo perfeita no seu papel querida.

- O que você quer comigo seu maluco! Por que esta fazendo isso? Quem é você afinal?

- Quantas perguntas Anna! - Ele faz um gesto de desaprovação - Na sala de aula você não era tão faladeira assim.. Na verdade eu sempre amei isso em você, a forma como era quieta e prestava atenção em tudo tão perfeitamente, como sempre que uma pergunta era feita, você escrevia a resposta no caderno a guardando para você e dava um sorrisinho quando falavam a resposta e ela batia com o que estava escrito em seu caderno. Sempre deixando que os outros se destacassem, mesmo que você fosse melhor que eles, sempre submissa a tudo ao seu redor. Não estrague a visão que eu tenho de você, querida.

- Meu deus, você é louco... - As lágrimas banham meu rosto e eu volto a gritar, preciso sair deste lugar custe o que custar.

Ele então pega uma cadeira e se senta me observando, com o queixo apoiado em uma das mãos e a outra na cintura, até que eu me calo apenas chorando.

- Percebeu que ninguém vai te escutar né? Não tem ninguém aqui Anna, ninguém, só eu e você para sempre.

- Que lugar é esse? Me responde pelo amor de deus! Eu quero sair daqui, quero ir para casa... por favor...

Depois do que parecem vários minutos ele levanta e faz que vai sair e me deixar sozinha de novo, começo a implorar quando ele resolve falar antes de sair e me deixar sozinha, naquele lugar horrível e ainda pendurada:

- Estamos em uma fazenda que pertence a minha família há gerações, não produzimos nada aqui, não criamos nada aqui, são só algumas construções abandonadas, muitas terras e matas, que só eu herdei, então não tenho funcionários, parentes, nem vizinhos, não tem ninguém aqui, você só tem a mim e agora eu tenho você, como sempre quis desde que te vi no primeiro dia de aula. Sempre mantive esse lugar porque sabia que um dia encontraria alguém que me faria querer criar um lar. Ele sempre esteve aqui esperando por você, minha doce Anna. Ahh, e nem adianta planejar métodos de fuga, primeiro eu tenho ótimos cães de caça, segundo a mata é tão grande e densa que você acabaria morrendo de fome e sede sem encontrar uma saída e terceiro, convenhamos querida, você não tem nada para o que voltar, seu namorado e sua melhor amiga te traíam bem embaixo do seu nariz, seus pais te odeiam e ninguém vai procurar muito tempo por você, ter desaparecido foi um favor que você fez a eles, a vida será muito mais simples sem você por lá.

Meu corpo todo treme pelo choro e cansaço, já não sinto mais os meus braços e acabo me entregando a escuridão, sem forças para tentar me soltar ou gritar por uma ajuda que jamais viria.

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Estou a três dias neste lugar desde que acordei, ou é isso que acho, já não sinto mais nada do meu corpo, pareço apenas flutuar sobre minhas pernas, ele não apareceu mais aqui, fico agora até imaginando se em algum momento ele realmente esteve aqui. Há três dias não como ou bebo nada, fui obrigada a fazer minhas necessidades em mim mesma depois de desistir de segurá-las, minha situação é lamentável e se a intenção dele era me humilhar e me deixar ali para morrer, em breve ele conseguiria aquilo, eu morreria em uma poça do meu próprio xixi, rodeada por insetos e roedores que comeriam minha carne e deixariam apenas os ossos para que ele pudesse se livrar.

Estou quase me deixando levar pela escuridão novamente quando escuto o barulho da porta se abrindo e vejo um vulto se aproximando, fico me perguntando se aquele não seria o anjo da morte finalmente vindo me levar para o nada, quando o vulto me engue e solta meus braços que caem ao lado do meu corpo como duas barras de concreto pesadas e sem vida própria. Ele se move comigo em seus braços e sai na claridade, que feri meus olhos após tanto tempo na escuridão.

- Prefiro quando você fica assim, quieta e tão dependente de mim. Sei que fui cruel te deixando nesta situação, mas era preciso, para que você pudesse ver o quanto precisa de mim e que para ter as coisas só precisa me obedecer.

Continuo quieta e de olhos fechados, nem que eu quisesse teria forças para respondê-lo, sinto meus lábios e minha garganta em carne viva de tão secos, meu estômago parece estar torcido de tanta dor pela fome. Eu odiava aquele homem com todas as forças do meu ser, mas sabia que aquele psicopata era minha única esperança em fazer tudo aquilo passar então por agora eu faria e seria tudo que ele quisesse.

Ele me senta em algum lugar e tira minha roupa, logo em seguida sou colocada em uma cadeira embaixo do chuveiro, que leva consigo toda a sujeira do meu corpo, foco no ralo do pequeno banheiro, por onde toda a água escorre enquanto aquele monstro me limpava. Após um tempo ele me coloca em uma blusa fina e calcinha, com um par de meias protegendo os meus pés, cobrindo minhas pernas com uma grossa coberta. Encosto-me no travesseiro sentindo-me ainda mais esgotada do que antes, me forçando a comer a sopa e beber a água que me é oferecida, sabendo que tenho que recuperar minhas forças para tentar sair dali. Após a sopa terminada, ele me cobre e apaga a luz deixando um beijo em minha testa e eu me rendo a um sono profundo e nada calmo, rodeado por pesadelos e dois olhos azuis cristalinos que para sempre me assombrariam onde quer que eu fosse.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora