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- Doutor Marques, estão precisando do senhor urgente na área da pediatria.

- Pediatria? Mas hoje estou acompanhando a área de trauma, quem esta na pediatria hoje é a Lima... - Olho a enfermeira sem entender o porque de estar me chamando, ainda mais enquanto estou atendendo um caso grave que acabara de chegar ao hospital.

- Nós precisamos do senhor, não temos nenhum staff da pediatria disponível e você é o único residente que se da bem na ala da pediatria... Por favor Jony, eu não pediria se não fosse urgente... A doutora Lima irá ficar no seu lugar enquanto me acompanha.

Na porta posso ver que Andressa Lima, uma das residentes com maior aversão a crianças já aguarda para que troquemos de lugar.

- Esta bem! - A muito custo retiro as luvas e o avental, dando a vez a minha colega e seguindo para a ala pediátrica junto a enfermeira Diana - Vamos me diga, qual é o caso que precisa tanto de mim? Sabe que pediatria não é minha especialidade preferida, então não gosto de ficar sendo chamado para atender casos por lá.

- Não temos culpa se na falta dos staffs você é o único neste hospital que leva jeito com crianças, elas amam você e sei que por mais que nunca vá admitir, você também ama elas... - Diana sorri me olhando, sabendo que não gosto de ser visto desta forma - Devia abrir seu coração logo e aceitar sua vocação, que é ser médico pediátrico assim que se formar como residente e enfim se tornar um staff.

- Vai sonhando... Agora vamos, desembucha, qual é o caso?

- Menina de aproximadamente cinco anos, foi encontrada por um casal quando chegavam em casa, ela estava encolhida e sozinha no quintal deles. A menina esta em choque, só chora e pedi pelos pais é de dar dó. Não sei o que aconteceu, mas ela parece muito assustada...

- Ela esta ferida?

- Não.

- Será que foi abandonada, ou só se perdeu dos pais?

- Não sabemos, o casal que a encontrou esta na sala de espera, disseram que não viram nada, ninguém por perto e como a menina não parava de chorar e tremer acharam melhor trazê-la para cá.

- Fizeram bem... A polícia já foi acionada?

- Sim e o conselho tutelar também. O casal nos informou que a menina relutou um pouco de ir com eles, que não era o que a mãe queria, mas que depois de muito conversarem com ela, ela cedeu e veio com eles.

- Que situação estranha.

- Bota estranha nisso. Como ela não fala com ninguém resolvemos te chamar, para ver se você faz sua mágica acontecer e acalma ela, afinal as crianças costumam sempre confiar em você, não sei porque, sendo que você não presta.

- Brinca bastante viu, vai brincando - Entro na ala pediátrica ainda rindo e já posso ver uma certa movimentação em torno de um único quarto, certamente onde a menina se encontrava - Circulando pessoal, nos deem espaço sim? Sei que todos aqui devem ter serviço para fazer.

As pessoas começam a sair aos poucos dali e em minutos ficam apenas eu, Diana, uma senhora que suponho ser do conselho tutelar e mais dois assistentes. Entro no quarto e de cara simpatizo pela pequena garotinha assustada que se encontra sentada chorando na maca. Acho que Diana poderia estar certa no final das contas, eu tinha um fraco por crianças e deveria aceitar esta especialidade. A menina era pequena, devia ter entre quatro ou cinco anos, pele bem clara, algumas sardas despontavam por seu nariz e bochechas, os cabelos avermelhados davam destaque a sua palidez e os olhos azuis assustados me chamavam e faziam lembrar de algo, como se algo me conectasse aquela menina.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora