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Grávida... Esta única palavra não saia da minha mente, ficava rodando e rodando e eu só ficava me perguntando em como deixei minha vida chegar naquele ponto. Eu estava petrificada, seguia com minha vida dia a dia, porque aquilo não era uma escolha, era uma condição. Realizava minha tarefas, cuidava do meu corpo, mas tudo no automático, apenas para me manter fazendo algo que não fosse me entregar aquele abismo em minha mente.

Nunca havia me imaginado como uma mãe tão jovem, muito menos em circunstâncias tão horríveis, eu fora sequestrada, estuprada e ainda carregava o fruto deste terror. Sempre me imaginara no futuro, formada, exercendo a medicina, eu era tão boa nisso... Como cheguei naquele ponto? Mesmo sabendo que eu seria uma grande médica, porque isso eu sempre soube dentro de mim, ainda assim possuía um sentimentalismo muito grande dentro de mim, era apegada a emoções, sem a frieza que muitas vezes se é necessária dentro daquela profissão, e era aquele sentimentalismo, aquele apego, aquele, eu poderia dizer até que amor, afeição, carinho, que não me permitiam ver aquele fruto por um termo médico, como feto e pensar em formas diferentes de tirá-lo de dentro de mim, era esta parte minha, burra, inconsequente, fraca, que não me deixava parar de pensar naquele fruto como um bebê, o meu bebê, meu filho, que eu deveria cuidar, proteger e amar acima de qualquer coisa, mesmo acima da minha própria vida...

Estava grávida de quatro meses agora, ou seja cinco meses desde que vim parar neste lugar. Imaginava que se com quase três meses de desaparecida eu já havia sido enterrada pela minha família, neste momento eu já deveria estar esquecida na mente de todos, apenas mais uma na infinidade de desaparecidas que vemos nos noticiários todos os dias e acabei me conformando com isto, se eu não poderia viver por mim, então eu viveria pelo bebê, me manteria viva, acordaria todos os dias, pensando nele, ele era a parte viva de mim, pois sem ele eu me sentiria apenas morta.

Nestes meses que se passaram busquei e estudei formas de sair dali, uma vez cheguei a escalar metade da cerca que rodeava a casa, aproveitando um momento em que os cachorros dormiam no canil, mas foi só eu chegar até a metade da cerca, que eles vieram correndo até mim, salivando, parecendo feras possuídas e prontas para matar. Fiquei com tanto medo que me joguei no chão, caindo com tudo e sofrendo uma lesão na perna esquerda. Nada muito grave, mas que me fez inventar uma bela desculpa sobre como era desastrada e caíra no chão molhado enquanto lavava a roupa. Depois dali, nunca mais lavei a roupa, ou pude sair para o lado de fora da casa sem a presença dele, tudo por segurança, segundo suas palavras, a porta agora era mantida fechada e as janelas que possuíam grades, me mantinham presa dia após dia ali dentro, dificultando ainda mais qualquer chance de fuga.

Quanto a Marc, este parecia encantado, aos poucos trazia coisas de bebês e planejava como seria o quartinho, não pedia minha opinião, ou me deixava participar de nada, era como se a criança fosse apenas dele, uma posse, e eu fosse apenas a incubadora ambulante que traria seu pequeno milagre a vida. Minha vontade era de gritar, brigar e socar a cara dele, por dentro eu fazia tudo isto, mas por fora eu era apenas uma casca viva, calma e tranquila, pensando apenas em não irritá-lo para manter a criança protegida dentro de mim. As vezes era mais forte do que eu e Marc acabava descontando sua fúria em mim, sempre em meu rosto, pernas ou braços, que por vezes ficavam feridos, mas na grande maioria das vezes, eu fingia estar plena e não ligar para as asneiras que ele falava ou fazia.

Minha decisão em não mais irritá-lo, veio após um dia onde me recusei em deitar-me com ele, estava sentindo algumas dores pelo corpo, pois Marc era grosso e rude todas as vezes em que queria sexo e eu estava preocupada com aquilo, era involuntário do meu corpo e eu sempre resistia e quanto mais resistência ele encontrava, pior ele era. Marc então me fez tomar um remédio dizendo que era para amenizar minhas dores, mas percebi tardiamente que eram calmantes, que deixaram meu corpo mole e minha mente leve, assim ele pode fazer o que queria comigo, Marc me fez tomar aqueles calmantes a força por dias seguidos e eu não sabia como uma medicação como aquela poderia afetar o bebê, então, temendo por ele, prometi que nunca mais me negaria, que seria boa para ele e em troca ele parara com a medicação. Era sempre assim, eu me tornara dependente do bebê e ele sabia disso e usava disto para me atingir, não achava que ele de fato faria algo que prejudicasse o filho, mas a gravidez me tornara fraca e lhe dera um trunfo sobre mim e mesmo sabendo disto, eu era incapaz em não proteger o meu filho, em permitir que ele fosse posto em risco pelo meu bem.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora