Anna

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E aqui estava eu novamente, anos depois na fazenda onde enfrento o maior erro que cometi em toda minha carreira policial. Ainda não acredito no quão próximo estive de Anna naquele dia e em como me deixei levar por um erro tão comum, como confiar em alguém apenas pelo que sua aparência dizia e não sua ficha e história, talvez se eu tivesse investigado mais... A quem quero enganar? Ninguém jamais suspeitaria que Marc, o dono da perfeição, um homem carismático, idolatrado e amado, com uma simpatia que conquistava qualquer um, seria na verdade um sequestrador sem escrúpulos.

- O lugar mudou bastante... Nem se parece com aquela fazenda abandonada que conhecemos anos atrás - James, o investigador que esteve comigo no caso desde o início e agora meu grande amigo fala enquanto posso constatar tais mudanças com meus próprios olhos.

- Nem me fale...

Conforme andamos pelo terreno, até o grupo de policiais que se reúnem mais a frente, vejo que os cães já estavam em gaiolas e prontos para serem levados a algum abrigo, as construções haviam passado por uma breve reforma, acredito que realizada por ele mesmo, ou até mesmo por Anna, não podia imaginar até onde ele a colocava para realizar as atividades por ali, as cercas de arame ainda existiam, mas o arame farpado havia sumido, mas de longe já podia ver a quantidade de câmeras que cercavam a propriedade.

- Delegado que bom que chegaram, já demos uma breve olhada pela propriedade e agora a perícia esta por ai analisando qualquer tipo de provas, não encontramos eles por aqui e ao que tudo indica, após Ayla ter sido deixada na cidade, eles não retornaram para cá, mas o carro em que eles estão já foi identificado, pertence a senhora Betina Santos, que mora em uma cidade vizinha, ela já foi localizada para interrogatório e o modelo e placa do carro já estão sendo monitorados por todas as câmeras e satélites.

- Ok... Obrigado por me informar Carla, agora você poderia me mostrar o que já encontraram por aqui? Quem sabe conseguimos alguma pista de para onde ele possa tê-la levado.

- Claro! - Observo a mulher a minha frente sorrir e me indicar o caminho, suas bochechas vermelhas indicam vergonha, mas não por estar falando comigo e sim por sua proximidade a James, sempre notei seu interesse óbvio por meu amigo, mas o homem parece cego quando o assunto é mulher, fechado para este departamento sem nenhum motivo aparente - Vamos começar pelo barracão, as outras construções não possuem nada de suspeito, só um depósito de bagunça e o que acredito ser um antigo galinheiro, mas esta vazio, o que nos intrigou de verdade foi só esta construção, onde pelas marcas de pegadas e estas marcas que mostram a abertura das portas, podemos ver que foi utilizado com frequência.

Observo o ambiente austero ao meu redor, o lugar era escuro, frio e sem vida, poderia dizer vazio, não fosse a grande porta de metal que parecia nos chamar atenção naquele lugar e um solitário gancho central, igual aos utilizados para pendurar carne em matadouros.

- Pelas marcas no chão, logo abaixo do gancho e essas algemas de couro presas a ele, só podemos concluir que a garota foi mantida aqui muitas vezes, uma forma de castigo provavelmente e também encontramos essa área - Ela vai até a porta de metal e a abre com certa dificuldade, mostrando o quão pesada era, vejo o espaço que se forma atrás, um antigo frigorífico desativado, não há dúvidas, entramos no pequeno espaço e espero a análise detalhada de Carla - O colchão desgastado e essas marcas de mão na porta também são indícios de que ela era mantida aqui.

Olho para tudo aquilo horrorizado, como falara antes, ser delegado de uma cidade pequena e pacata como Viçosa costumava ser, significava crimes pequenos, como brigas, animais desaparecidos e no máximo um pequeno furto cometido por algum rebelde, mas nunca, em tantos anos de carreira, tinha visto algo tão cruel, tão terrível, aquilo era algo que nunca esperava que aconteceria naquela cidade, mas quando Anna desapareceu, eu sempre soube, bem no fundo de minha mente, que algo perturbador estava por trás daquele crime, algo que mudaria para sempre a vida tranquila de todos por ali e eu estava certo.