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- Ayla! Onde você está?

Procuro por minha pequena travessa, já imaginando em que tipo de confusão ela estaria metida. Em seus quatro anos de idade, Ayla desenvolverá uma personalidade forte, sendo muito travessa e esperta para sua idade, ela sempre sabia o que queria e formas de conseguir exatamente o que era esperado, mesmo ainda com uma aura impressionante e pura, em sua alegria infantil contagiante.

- Ai esta você! Não me ouviu chamar mocinha? - A encontro no jardim sentada entre as flores e brincando com suas bonecas. Ela vira com um sorriso encantador e com as mãos grudadas as costas, duas provas de que estivera aprontando algo e que este algo agora era escondido por ela.

- Oi mamãe, não escutei...

- Nada de oi mamãe Ayla, vamos, me mostre o que você esta escondendo ai atrás! - Estendo minhas mãos e espero que ela me entregue, seja lá o que for. Seus olhos azuis agora trazem uma certa culpa e ela resiste a me obedecer - Ayla...

Minha filha então retira sua nova boneca detrás das costas e me entrega, fazendo com que eu me espante pelo que vejo.

- Mas o que é isso... - A boneca trazia pinturas roxas de caneta na região do rosto, principalmente próximo aos olhos, a roupa estava suja e rasgada, mostrando os maus tratos a boneca, mas o que mais me impressionou foi o cordão que a prendia pelos braços - Por que você fez isso com a boneca?!

- Ela se compotou mal... Ai eu puni ela, por ser uma menina ruim... - Ela entrelaça os dedos e arrasta seus pés, como se tentasse justificar o que havia feito e mostrar sua inocência.

- Ayla, você não pode fazer esse tipo de coisas filha! Isso é muito feio...

- Mas o papai sempe faz isso quando você não é boa, só tava ensinando ela...

Fico momentaneamente sem palavras, olhando a boneca que fora punida assim como eu era toda vez que aborrecia Marc, vendo minha filha se espelhar nas atitudes do pai e temendo até onde aquilo poderia chegar.

- Você não pode fazer esse tipo de coisa, esta entendendo? Isso é coisa de pessoas más, você quer ser uma pessoa má Ayla? Me responda! - Ela se mantém quieta e olhando para seus pés, posso ver o bico se formando em seus lábios - Já que você não sabe a resposta, quero que se sente no sofá e fique lá pensando, até eu mandar você sair.

- Mas mamãe!

- Agora Ayla! - E me surpreendendo ainda mais, me fazendo desconhecer aquele tipo de atitude na minha filha, que sempre foi como um anjo para mim, Ayla tomou uma atitude que me abalou.

- Sua chata! - Ela grita e da um tapa em meu rosto, que por sua força de criança não me machucou fisicamente, mas estraçalhou minha alma em diversos pedaços.

Meus olhos se enchem de lágrimas que não posso conter. Ver como as atitudes de Marc iriam influenciar em quem Ayla se tornaria, acabou comigo definitivamente, mesmo que eu fizesse de tudo para protegê-la e esconder todo o mal que nos cercava, mesmo a enchendo de amor e carinho, nada disso seria suficiente, porque ela jamais entenderia o que se passava entre mim e o pai, se mostrássemos que aquilo era normal, punir, maltratar, humilhar, então seria normal para ela agir de tal maneira e como eu diria o contrário, se não podia corrigir Marc de nenhuma forma?

- Desculpa mamãe... Ayla não queria... Me pedoa - Ela leva as mãozinhas até seu rosto e chora copiosamente, mostrando seu arrependimento pelo que havia feito.

- Você não pode agir desta forma Ayla, não pode... Bater, punir, xingar, tudo isso é errado e nos torna pessoas más e que magoam e machucam os outros. E não falo só em relação a mim, você não deve agir assim nunca, com ninguém, está me entendendo?

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora