Estou presa neste lugar a quatro dias, ele não voltou aqui em nenhum deles, para falar a verdade o lugar está bem quieto, o que também significa, nada de água, nada de comida, nada de luz do dia, do sol, nada de conforto ou sentir meu corpo aquecido. Não sei quando é dia ou noite, passo horas sentindo fortes dores no estômago pela fome, minha garganta dói pela sede e sendo sincera, meu corpo inteiro dói, se não por esses motivos, pelo frio, pelo chão duro onde me encontro encolhida, e pelas violações que sofreu na noite do "casamento". Sendo sincera, toda essa dor é boa, me faz focar na dor física e esquecer os machucados internos, que estão abertos na minha alma, coração e mente. Assim eu não enlouqueço, assim eu não me perco.
Estou quase me entregando ao cansaço e dormindo, ou seria melhor dizer, desmaiando, quando escuto o barulho de um carro do lado de fora, muito baixo e distante, me fazendo pensar se eu não o imaginei, até que escuto a porta batendo e vejo que o barulho é mesmo real, o primeiro em dias. Sento-me com muita dificuldade e me encolho em uma das paredes, rezando sem saber ao certo para o que, se para que ele me deixe ali até que meu corpo definhe e eu me livre daquela vida, ou para que venha até a mim, sabendo o que me aguarda do lado de fora. O meio de minhas pernas reclama naquela posição devido a falta de limpeza após tudo que houve, mas tento não me ater a isto, levando as pernas dobradas até próximo ao peito e apoiando minha cabeça no joelho, deixando meus cabelos caírem sobre o rosto.
A porta se abre e a claridade entra pelo local, mantenho-me intacta, temendo olhá-lo, até que sinto algo macio e pequeno próximo aos meus pés e uma cócega de algo estranho e quente em meus dedos, olho para baixo assustada e curiosa, vendo um pequeno filhote de cachorro ali, sorrio mesmo fraca e o pego no colo desengonçada, o levando a altura do meu rosto, onde ele passa a cheirar e lamber tentando me reconhecer.
- Vejo que se deram bem... - Olho assustada para a porta e lembro-me da presença de Marc, esquecido momentaneamente graças ao filhote. O abraço próximo ao corpo já temendo que Marc o tire de mim - Eu trouxe ele para você, é um macho, pode dar um nome para ele.
Vejo que aguarda uma resposta e mesmo sem saber se minha voz sairá devido a garganta seca, me arrisco a responder.
- Panqueca... - Eu tinha o hábito de nomear meus ursos de pelúcia quando menina pelas comidas que mais amava, e depois o peixe e gato que tive mais velha, cookie e waffle, sorrio pela lembrança e sabendo que aquele nome ficará perfeito para ele.
- Panqueca? - Marc possui uma expressão curiosa e em dúvida no rosto e meu sorriso murcha, pensando que ele irá mudar o nome do filhote - Bem, é um nome curioso, mas considerando o tanto de ração que esse cachorro come, acho que dar a ele o nome de uma comida é o mais correto. Que seja Panqueca então!
Ele sorri e balança a cabeça divertido, enquanto eu me mantenho imóvel abraçada ao Panqueca.
- Bem, eu vou ter que voltar a cidade, tenho umas provas para dar ainda hoje e muitas outras para corrigir, então não devo voltar até amanhã. Pode voltar para casa, tomar um banho e se alimentar tranqüilamente. Amanhã conversamos - Ele da as costas, mas retorna como se esquecesse algo, provavelmente alguma ameaça para que eu não esqueça de me comportar, mas não - Ah, a ração do Panqueca está no armário debaixo da pia da cozinha, as coisas dele estão em uma sacola no seu quarto, acho que comprei tudo, mas se faltar algo faça uma lista... Faça uma lista de coisas para você também, comida, doces, produtos de higiene... Pode pedir o que quiser, que irei comprar depois.
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Anna
Mystery / ThrillerAnna é uma mulher admirada por todos, graças ao seu carisma, beleza e inteligência, chama atenção por onde passa, com seus longos cabelos castanhos avermelhados, olhos azuis e uma boca que desenha um sorriso de dar inveja a qualquer um, assim como t...