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Era agora ou nunca. Se eu conseguisse fugir poderia pedir ajuda e manter minha filha segura, ou assim eu esperava que fosse, se fosse pega... Bem, eu não podia ser pega, as consequências seriam as piores possíveis...

12 de outubro de 2018, dia de Nossa Senhora Aparecida e das crianças.

Era domingo e uma data importante na igreja. Primeiro teríamos uma missa em comemoração ao dia da santa padroeira do Brasil e depois uma festa dedicada as crianças, a qual depois de muito custo, Marc aceitou que participássemos. Ayla estava eufórica desde a hora em que acordara, imaginando as brincadeiras que teriam, os doces e a quantidade de crianças que ela conheceria naquele dia e sua felicidade era a minha felicidade.

Saímos da fazenda as oito da manhã, observo o lugar pelo espelho retrovisor sentindo algo como um presságio estranho sobre estar saindo dali naquele dia. Pouco tempo depois enfim chegamos à Igreja, o sol brilhava sobre nossas cabeças e já podia sentir gotas de suor umedecendo partes do meu corpo, saiu do carro e ando em direção as pessoas que já se encontram por ali ao lado de Marc com certa dificuldade, a noite passada não tinha sido das melhores e agora meu corpo reclamava pela violência daquele homem, principalmente na região do estômago.

Ayla esta eufórica a meu lado segurando minha mão, ela olha para tudo com alegria, desde as barracas, as bandeirinhas que foram postas para enfeitarem o lado externo da igreja.

- Ah Anna, que bom que chegaram, estava dizendo a Marc que sentimos sua falta durante os preparativos para a festa das crianças, principalmente considerando que você possui uma filha pequena que fara parte da festa... Achamos que você gostaria de participar da preparação para algo tão especial.

Sorriu para a mulher a minha frente. Betina era realmente um pé no saco, por ser coordenadora da paróquia se sentia no direito de exigir e falar o que bem entendesse a qualquer um. A mulher mantém as mãos sobre os braços de Marc, se encostando nele, mal sabe ela que Marc a detesta e que por mim eu o daria a ela embrulhado em presente.

- É uma pena, mas não pude participar... Quem sabe da próxima? - Ela me olha com recriminação e depois sai, me fazendo revirar os olhos.

Entramos assim que a missa teria início e nos sentamos no lugar de costume, podia sentir minha filha agitada, provavelmente não vendo a hora do sermão acabar e ela poder enfim se envolver nas brincadeiras com outras crianças. Marc parece perceber tal agitação e diferente de seu habitual modo, parece se divertir vendo a euforia da filha com algo tão simples, provavelmente feliz por ser aquele que permitiu tal coisa.

Ao fim da missa todos foram para o lado de fora dar os últimos retoques para então dar a festa por inaugurada.

- Onde você colocou a torta que trouxemos e os brinquedos que comprei?

- Os brinquedos estão atrás do banco do motorista, na sacola amarela e a torta esta sobre o banco que vim sentada - Marc então vai até o carro e pega tudo que trouxemos, passando por nós e indo até o padre que está em algum lugar em meio as barracas, para entregar-lhe nossas doações.

O calor estava realmente insuportável naquele dia, resolvo então, percebendo que Marc deixou o carro aberto, sentar-me com Ayla ali dentro, onde teríamos o mínimo de sombra enquanto tudo era preparado. Abro a porta do passageiro e sento-me ali, com minha filha em meu colo, estamos a alguns minutos sentadas observando todo movimento ao redor, alguns ajudam a montar a festa, indo de um lado para o outro, outros como eu procuram abrigo contra o sol e outros estão em rodas conversando sobre assuntos corriqueiros da vida, foi então que tudo aconteceu, um pequeno detalhe que em questão de segundos poderia mudar tudo de uma vez.

- Mamãe estou com sede...

Procuro pela garrafa de água que trouxera no carro, pretendendo usá-la para encher com a água do bebedouro, tento encontra-la a todo custo mais nada, foi quando a vi caída embaixo do banco do motorista, coloco Ayla de pé do lado de fora do carro e me esgueiro para pegar a garrafa. Assim que levanto fecho a porta do carro pretendendo ir enchê-la com água gelada, uma vez que a água dentro do recipiente já estava quente, foi quando vi, ali reluzindo a luz do sol, estava a chave do carro, conectada a porta do passageiro como se me instigasse a pegá-la

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora