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Já fazia duas semana desde que fomos resgatadas, as coisas corriam melhores do que o planejado, meus ferimentos internos eram um pouco preocupantes, descobri que após o aborto sofrido anos atrás talvez não pudesse mais ser mãe, mas apesar de ter ficado triste no momento, consegui superar esta possibilidade, Ayla é uma menina incrível e por mim ter apenas ela como filha me bastava, tudo era questão de superar e prosseguir. Por falar nela, a vida fora daquela fazenda e dos limites de Marc parecia estar fazendo maravilhas para seu desenvolvimento, minha filha só sabia sorrir, brincar e fazer muitas amizades, cada um que conhecia se encantava pela pequena menininha de cabelos avermelhados a sua frente e eu não poderia estar mais orgulhosa. Já para Marc as coisas não estavam nada bem, apesar de duas cirurgias e outros procedimentos para corrigirem a fratura na bacia, ele saiu do hospital para o presídio ainda sentindo muitas dores e mancando muito, o que com certeza dificultaria a vida em seu novo lar, não que eu me importasse, na verdade um enorme sorriso surge em meus lábios toda vez que me lembro disso, pena não ter podido ver com meus próprios olhos... Mas era melhor assim, por mim jamais voltaria a ficar novamente na presença daquele monstro.

Apesar de ter me dado todo espaço possível durante todo este tempo, vejo a ansiedade nos olhares e gestos do delegado todas as vezes que vem até o hospital para uma pequena visita rotineira, como ele mesmo costumava chamá-las, era muito difícil pensar em falar todas as coisas pelas quais passei, sabia que eles tinham uma breve ideia, mas jamais seriam capazes de descobrirem sozinhos tudo o que aconteceu naquele lugar e meu depoimento era a peça chave que garantiria a força do caso para que Marc permanecesse preso por muito tempo sem chances de fianças ou penas reduzidas.

- Você tem certeza de que esta pronta para dar seu depoimento, Anna? - Jony parece nervoso com a possibilidade, como todos, faz uma breve ideia de tudo pelo que passei, ele tem diversos exames que comprovam a violência sofrida durante todos estes anos, mas imaginar as coisas e escutá-las da minha própria boca com detalhes eram coisas totalmente diferentes e sabia que por mais difícil que fosse, ele estaria presente naquele momento para segurar minha mão e me dar apoio.

- Tenho sim Jony, você escutou o delegado, sem uma denúncia formal na delegacia e uma comprovação vinda de mim de tudo que aconteceu, Marc pode conseguir ser solto sobre fiança até o julgamento por conta de sua condição e eu não posso arriscar, tenho que manter aquele cara preso e longe de qualquer um que possa machucar a mim ou a minha filha.

- Você tem razão - Ele segura minha mão com cuidado - Sei que será difícil, mas eu estarei presente para te dar forças, se você assim desejar.

- Eu serei muito grata meu amigo...

Tendo decidido por finalmente depor contra Marc, me arrumo rapidamente colocando algumas roupas doadas a mim pelas enfermeiras, eram roupas simples, bem diferentes daquela sofisticação que Marc fazia questão que eu usasse e isto me causava uma sensação de normalidade, por mais que nada daquilo pudesse ser chamado de normal. Certifico-me de que Ayla estará em boas mãos e segura e lhe prometo que da próxima vez que fosse sair do hospital a levaria junto, assim como o fato de que retornaria em questão de horas, ela não parece muito contente mas entende que tenho de resolver alguns assuntos de gente grande.

A delegacia era do outro lado da avenida, apesar do curto trajeto sou escoltada por três seguranças e Jony devido a enorme quantidade de jornalistas querendo uma exclusiva sobre o meu caso. Sou ofuscada por flashes e perguntas, uma sendo proferida mais alta que a outra e sinto minha cabeça começar a latejar, quando enfim adentramos o espaço da delegacia e eles são obrigados e ficarem do lado de fora.

- Eles não desistem?

- Infelizmente acho que só irão te deixar em paz depois do julgamento e que escutarem o que você tem a falar. Sabe como são, quando você sumiu, eles poderiam ter ajudado demais para que te encontrassem, mas eles não se interessaram pela história o suficiente, você era apenas mais uma, agora que você foi encontrada, se tornou uma em um milhão e interessante aos olhos do jornalismo, é tudo uma questão de estatísticas.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora