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Relatos do dia 19 de Setembro de 2018 - Aniversário de cinco anos de Ayla.

Hoje minha pequena Ayla completa seus cinco anos de idade. Fico assustada em como ela cresceu e em como é inteligente para sua idade, a cada ano temo pelo momento em que ela começara a perceber como tudo aqui é errado.

Bem cedo Marc saiu para comprar alguns enfeites, doces e um bolo, disse que este ano eu não teria de me preocupar em fazer nada, pois ele compraria tudo, não gostei muito pois para mim era uma honra preparar cada coisinha do aniversário de minha filha com muito carinho, mas não podia reclamar, afinal quem mandava ali era ele. Quando chegou, ele trazia diversos enfeites das princesas, doces nas cores rosa e branco, um bolo todo decorado das princesas e uma fantasia da Cinderela para que Ayla usasse durante o parabéns, ela claro, ficou encantada com cada detalhe, mal sabia ela que o certo era que uma festa tão linda como aquela fosse acompanhada de muitos convidados, crianças e presentes trazidos e não apenas por seus pais e nosso cachorro Panqueca, que ganhara um chapéu de príncipe ao qual ele se recusava em deixar em sua cabeça, retirando todas as vezes em que Ayla brigava com ele tentando o fazer usar.

- Assopre as velas e faça um pedido querida! - Falo para Ayla assim que terminamos de cantar seu parabéns, já passava das quatro da tarde e a mesa do bolo estava linda rendendo fotos incríveis daquele dia.

- Pronto mamãe - Ela assopra as velas de olhos fechados.

- E o que você pediu eim? - Marc pergunta curioso como sempre.

- Pedi alguns amigos, igual os desenhos mostram que as crianças têm... Eu não tenho nenhum...

Olho de Marc para Ayla sem saber muito o que falar, era nítido que ela sentia falta daqueles momentos, eu podia ver isso em seus olhos todas as vezes que via as crianças brincando pela televisão, ou até aos domingos após a missa, quando ela ficava olhando para as crianças correndo e gritando na frente da igreja. Ela sempre pedia para que Marc a deixasse brincar um pouco, mas sua resposta era sempre não, dizendo que já iriamos embora e que ela poderia se machucar caso corresse junto as demais crianças, isso fazia com que nenhuma criança se aproximasse dela para conversar e ela se sentisse isolada, o que deixava meu coração apertado vendo sua tristeza e vontade de ser como os outros. Mesmo que de forma diferente, Ayla também estava tendo sua vida roubada e sendo privada de uma vida normal por culpa de Marc, éramos duas vitimas em suas mãos.

- Porque você não vai brincar um pouco com Panqueca? Ele deve estar lá fora se escondendo de você e provavelmente enterrando sua fantasia de príncipe para não ter mais que usar!

Falo tentando animar minha filha e trazer alegria novamente para seus olhinhos. Ela sai a contragosto já chamando pelo cachorro que ao longe lati querendo ser encontrado.

-  Você podia permitir que ela se aproximasse pelo menos das crianças da igreja... Se ela brincasse por alguns minutos com outras crianças já seria bom para ela... Sem contar que ano que vem ela tem que começar a estudar, não sei como e nem onde, mas ela já estará com idade para isto...

- Não gosto da ideia de Ayla brincando com outras crianças, fora da minha supervisão e se ela sem querer, falar algo errado sobre nossa vida e alguma criança contar para os pais? Seria mais dor de cabeça na minha vida... E sobre a escola é simples, ela tem dois pais inteligentes, vamos ensinar ela aqui mesmo, em casa. Não tenho como matricular uma menina sem documentos em uma escola e muito menos resolver registra-la apenas agora, com cinco anos, as pessoas suspeitariam.

- Você pretende mantê-la presa aqui, assim como eu? Ela é sua filha, você não pode fazer isso!

- Eu posso fazer o que quiser com a minha família, quem manda aqui sou eu e as coisas serão como eu quiser!

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora