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"Estou caminhando por aquelas terras sobre algumas flores, eu não era boa com nomes, mas acredito que eram lavandas. Olho a frente e vejo todas as pessoas que fazem parte da minha vida ali, vestidos de branco e descalços me olhando com um sorriso genuíno. Mas a frente vejo Cory também vestido como os outros em frente a uma espécie de altar.

Olho para mim, eu vestia um longo e simples vestido branco e sentia a coroa de flores na cabeça, provavelmente as mesmas flores do buquê que eu seguro. Caminho até Cory e ele segura minhas mãos, posso ver muito amor e emoção em seus olhos, o que só faz que lágrimas de alegria surjam também nos meus. Então minha amiga Sabrina vem até nós e segura meu buquê, entrelaçando seus braços a Cory, que estende minhas mãos para o outro lado e me incentiva a olhar, como se me entregasse a alguém, olho na direção confusa e sou envolvida por aqueles olhos azuis cheios de loucura, sentindo o pânico tomar conta de meu corpo. Marc segura minhas mãos e me leva para junto de si, percebo agora a mudança do lugar, o sol se esconderá atrás de espessas nuvens, a neblina tomava conta do pasto agora seco e morto.

- Olhe querida, isso é tudo para você - Olho envolta e vejo que todos agora vestem roupas pretas, muitos com óculos escuros escondendo seus rostos, encaro o que antes fora um altar de casamento e vejo então uma cova onde lia-se meu nome, o pavor era tanto que sinto meu corpo tremendo. Sabrina e Cory estão a minha frente abraçados olhando com desdém para a lápide, minha mãe e seu marido estão logo atrás conversando e rindo como se aquilo fosse um motivo para festa, vou olhando cada rosto ali, vendo suas emoções - Viu, só eu me importo, você só tem a mim...

E então entre todas aquelas pessoas uma menininha vem andando até nós, com flores muito coloridas em suas mãos, dentro de um vestido verde que contrastava com seus cabelos no mesmo tom que os meus. Ela deposita as flores em minha lápide e se levanta dizendo - Não desista ainda - saindo saltitando e não me deixando olhar direito para suas feições, mas me fazendo soltar um suspiro de alívio, algo que eu não sentia a muito tempo...

- Não, eu não tenho apenas você... Eu também tenho a mim..."

Sou despertada pelo barulho da porta se abrindo e a claridade que entra por ela. Meu corpo todo dói, pois passei muitas horas sentada naquele chão frio e duro.

- Espero que esteja preparada querida, nosso grande dia chegou! - E assim percebo que meu verdadeiro pesadelo acontece na verdade quando estou acordada, meus sonhos na realidade são minhas formas de fuga mais eficazes.

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Olho-me no espelho, meus cabelos estão bem escovados e caem sobre meus ombros, lindos brincos de brilhantes adornam minhas orelhas, enquanto uma maquiagem milagrosa cobre toda e qualquer imperfeição presente em meu rosto, como hematomas de ser jogada pelos cantos e dos tapas, assim como minhas profundas olheiras. Eu estava linda, mas tal beleza era facilmente apagada pelo vazio presente em meus olhos, era como se eu não estivesse ali. O vestido era branco com pequenos toques em pérola, ia um pouco abaixo do joelho, sendo com uma alça simples e colado até a altura da cintura, caindo em uma saia rodada que tornava o vestido muito elegante. Nos pés, sapatos de salto, que complementavam meu visual e me davam um ar de seriedade e elegância. Eu parecia com uma mulher séria e casada, assim como as mulheres dos anos 50 e 60, que se enfeitavam para seus maridos, mostrando uma beleza que não era refletida de suas almas.

Fechei meus olhos e vislumbrei o futuro que sempre desejei em meus sonhos, formada em medicina com mérito antes dos 30, descobrindo algum tratamento ou método inovador, dando palestras, viajando o mundo e somente depois de me sentir realizada profissionalmente, arrumando um homem que me amasse e eu também o fizesse, teríamos filhos e envelheceríamos juntos, eu sendo uma médica renomeada até que minhas juntas não me permitissem mais seguir os ossos do ofício.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora