26

369 48 3
                                    

31 de Novembro de 2018.

Não sei se isto significava um bom ou mal presságio, mas o julgamento de Marc havia sido marcado para a mesma semana do meu aniversário de 26 anos, seis anos desde que fora retirada de minha vida tendo tudo tomado de mim, sem que algo fosse minha escolha.

Entro no fórum acompanhada por minha advogada e Jony, já haviam me informado sobre a presença da minha família por ali, por mais que eu me negasse a recebê-los, eles não paravam de aparecer, pelos meus instintos sabia que deviam estar de olho na visualização e lucros que o caso poderia render a eles, mas no que dependesse de mim continuaria os mantendo afastados de mim e principalmente da minha filha, que estava melhor sem saber que possuía avós.

A sala de julgamento estava cheia, o júri já estava presente, assim como os jornalistas que autorizei a presença buscando dar-lhes o necessário para que me deixassem em paz para seguir com a minha vida. De relance vejo minha mãe acenando buscando chamar minha atenção, mas apenas sigo em frente e me sento na primeira fileira destinada ao réu, no caso Marc de um lado e a vítima, que seria eu, do outro.

- Todos se levantem - Ouvimos a voz do meirinho e nos levantamos, com um silêncio sendo instaurado na sala.

- Obrigada, agora vocês podem se sentar - A juíza Isabelle Noronha diz com um sorriso simpático enquanto se acomoda em seu lugar para o início da audiência, seguro firme a mão de meu amigo buscando tranquilidade e respirando fundo - A vítima terá a primeira palavra e escutaremos tudo que ela tem a falar até que termine - Assim que ela termina de falar vou até o lugar indicado com a cabeça erguida, pois sabia que estava em um lugar onde não seria eu a ser julgada, eu apenas seria ouvida por algo que não tive culpa.

Então Marc entra na sala algemado e acompanhado com três policiais e seu advogado, aparentando ser muito mais velho do que me lembro, embaixo de seus olhos noto bolsas profundas e grandes vincos de preocupação em sua testa, as câmeras o perseguem, não respeitando seu espaço ali dentro como fizeram comigo. Ele se senta e antes de assumir uma postura de inocente, buscando aprovação e comoção entre as massas, olha diretamente para mim demonstrando seu verdadeiro eu, que apenas eu conhecia.

- A vítima ira falar e se identificar publicamente - Recebo a permissão para falar vinda da minha advogada.

- Meu nome é Anna Maison, e eu gostaria de dizer como tudo isto foi para mim diretamente para o réu se a juíza me permitir - A juíza permite que eu prossiga - Tinha 20 anos quando tudo aconteceu, hoje sou uma mulher de 26, eu chorava todas as noites, estava tão sozinha, assustada e com medo, estava preocupada sobre o que aconteceria comigo. Os dias nunca foram mais curtos, dias se converteram em noites e noites em novos dias, os anos se converteram em uma eternidade e eu sabia que você não se importava com nada, a não ser me manter submissa aos seus caprichos por quanto tempo lhe fosse permitido. Você me disse que minha família não se importava comigo, que ninguém se importava, que eu seria esquecida e meu desaparecimento seria motivo para festas e eu me convenci de que estava certo. Você dizia que eu era suja, maculada por tudo que fizemos, mesmo que eu não tivesse culpa e que ninguém mais conseguiria me aceitar, me olhar e chegar perto de mim e de novo me convenci de que estava certo. Não desejaria que ninguém passasse pelo que eu passei, nem mesmo meu pior inimigo. Ayla foi o único motivo que me manteve forte e não me fez desistir e posso dizer que foram muitas vezes em que pensei em desistir, a presença dela era o único consolo que eu tinha naquele lugar, a única coisa boa em meio a toda aquela situação e o único motivo para eu manter esperanças de que um dia seriamos livres do seu terror.

Respiro fundo e limpo as lágrimas que escorrem pelos meus olhos, era como se estivesse despindo minha alma diante daquelas pessoas, assim como ele fizera diversas vezes com meu corpo.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora