Anna

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Dois anos antes do desaparecimento de Anna...

Sempre fui muito sozinho, minha mãe morreu quando eu ainda tinha dois anos e meu pai vivia para o trabalho naquela imensa fazenda. Fui criado sendo jogado de um lado para o outro, alimentado, vestido e cuidado apenas quando alguém daquele lugar lembrava da existência de uma criança por ali, apesar de tudo, nunca perdi as esperanças de amar e ser amado, sabia que era questão de tempo até encontrar a pessoa certa para ocupar aquele lugar, a pessoa que seria o meu mundo.

Foi por isso, que mesmo após a morte do meu pai, quando eu tinha apenas 22 anos e recebi aquela fazenda como herança não me livrei dela, mesmo não mantendo seus cuidados a mantive em espera assim como eu, pela pessoa que levaria vida novamente aquele lugar, assim como fora minha mãe.

Aos 18 anos sai de casa para viver minha vida na pequena cidade de Viçosa, meu pai enlouqueceu quando decretei que não seguiria seus passos cuidando do gado e plantações, mas eu pouco me importei com ele, assim como fez comigo durante toda a vida. Entrei na faculdade de biomedicina, trabalhei em um mercadinho de esquina para me sustentar, até que recebi uma proposta de emprego de um professor do curso e adentrei no mundo de dar aulas e ensinar o que me era passado ao longo dos anos. Me formei aos 23 anos e terminei meu mestrado aos 26 anos, sendo contratado como professor de algumas matérias nos cursos de biomedicina, farmácia e medicina na Universidade Federal de Viçosa.

Sempre fiz de tudo para ser o professor legal, que tinha o carinho dos alunos e hoje aos 38 anos de idade devo dizer que me sinto profissionalmente realizado, porém com meus planos de encontrar o amor fracassados.

Entro na sala de aula para dar inicio a mais um ano letivo na nova turma de medicina da faculdade, olho em volta e percebo a sala cheia e sorrio comigo mesmo, sabendo que até o ano terminar metade daqueles rostos já teria desistido e voltado para casa, ou mudado de curso, medicina era para poucos. Escrevo meu nome no quadro e olho para a sala buscando me apresentar e iniciar a matéria, quando meus olhos se fixaram nela, uma linda garota sentada na fileira do meio, bem de frente a mim, com cabelos castanhos avermelhados e lisos, uma pele branca que parecia reluzir e olhos tão grandes e azuis que pareciam que iriam me afogar neles. Ela olhava atentamente para mim esperando que desse inicio a aula, com um sorriso encantador e diria até que sedutor nos lábios. Sua amiga cochicha algo para ela e seu sorriso aumenta, provavelmente ambas perceberam meu olhar direto para ela, balanço minha cabeça então e dou inicio a aula, buscando não olhar mais em sua direção, abordando de forma geral o que será visto naquela matéria e o que espero deles naquele primeiro ano.

Quando a aula termina e os alunos vão saindo da sala vou até minha mesa preparando tudo para a chegada dos alunos de uma nova turma, quando percebo a mesma garota vindo até mim acompanhada por sua amiga.

- Posso ajudá-las meninas? Espero que o curso esteja sendo tudo que imaginavam.

- Esta sim professor, está sendo até mais interessante do que imaginávamos, por assim se dizer. - A loirinha fala com atrevimento e depois me estende a mão - Sou Sabrina a propósito.

A garota olha espantada para a amiga admirando seu atrevimento em falar comigo, posso perceber por sua face corada e sorriso agora tímido que a ideia de ir até ali não fora dela.

- E você, como se chama?

- Anna - Ela abaixa os olhos e sorri tímida, parecendo acanhada com a situação o que mexe comigo.

- Bem meninas, fico feliz que tenham gostado da aula, agora se me derem licença preciso arrumar tudo para receber a turma de um outro curso. Vejo vocês na próxima semana.

As duas saem, Sabrina ainda olha para trás e pisca para mim, certamente faz parte da turma de alunas que dão trabalho aos professores da faculdade, já Anna vai embora sem pensar outra vez, sem uma última olhada e me pego decepcionado com isso, adoraria ver mais uma vez aqueles lindos olhos.