Morfeu - O Príncipe Sombrio

CAPÍTULO UM

Os raios dançavam no céu, as nuvens escuras deixavam o dia assustador. O vento gelado batia com força contra meu rosto, congelando até os ossos. A chuva fria, com gotas grossas caiu sobre minha cabeça, encharcando minha roupa e meu cabelo. Ótimo, tudo que estou precisando agora é um pouco de purificação. Através dessa água pura e natural, peço a minha protetora que me guia sempre no caminho do bem. Que minhas mãos sejam abençoadas e que nenhuma impureza maligna aproxime-se do meus dons. Que a chuva purifique minha alma, meu corpo e meu coração.
Suplico aos deuses para não ocorrer nenhum problema ou frustração no meu trabalho. Que os bons espíritos continuem protegendo-me, que meus antepassados olhem por mim e por minha família. Agradeço a natureza por tudo e por todos, mais um parto abençoado pelos deuses, mais um parto que ocorreu tudo bem. A nova mãezinha está bem, e o bebê nasceu forte e saudável. Um macho de sangue puro.
Meu nome é Yasmine Airmeithy, sou uma curandeira que vive no Vilarejo de Gonddin. Próximo da Capital de Chamber. É um Vilarejo nobre, de Lordes e Comerciantes. Um lugar cheio de moradores esnobes, sou a filha de um comerciante de tapeçaria. Meu pai é conhecido na Capital por vender os mais mágicos e belos tapetes. O próprio Rei já visitou nossa gigantesca loja. E meu pai não para de falar há séculos da ilustre visita do Rei. Eu não tinha nascido quando o próprio Rei Brendon veio até Gonddin encomendar tapetes para sua nova companheira. Dizem que o Vilarejo parou todas as suas atividades com a chegada do Rei.
Quando cheguei na minha casa, encontrei um buquê de flores em cima da mesa e um cartão dourado detalhado com rosas vermelhas.

“Fêmea mais bela, tu és a mãe gloriosa das estrelas. Tu és a inspiração da minha vida”

— Oh Finn, você é mesmo um macho galanteador. — sorri orgulhosa.

Há dois anos vivo com um macho, dividimos um pequeno apartamento próximo do mercado de flores. Por este motivo é comum Finn me presentear com flores. Após um banho demorado, vesti uma roupa quentinha e vou conferir as correspondências.
Recebi três cartas das minhas irmãs que vivem na Capital, fica alguns quilômetros de Gonddin. Não é muito longe, leio com meu coração repleto de felicidade.

“Querida Yasmine, estou muito desapontada. Soube que você não fará parte do Ritual de Fertilidade…”

Ah não!
O Ritual de Fertilidade acontece todos todos os anos. Fêmeas de todas as espécies participam de um ritual para conseguir engravidar dos seus parceiros ou escolhidos. Filhos são raros, principalmente para nós imortais. Bruxas tem dificuldade para gerar machos, por esse motivo participamos dos rituais de Fertilidade para garantir a saúde de um futuro macho. Mesmo participando do ritual muitas fêmeas demoram décadas para engravidar. Para os humanos é tão fácil, eles têm uma facilidade e muita força para gerar crianças. Suas crias nascem saudáveis, fortes e cheios de vitalidade.
Tenho uma vida sexual ativa com meu companheiro, Finn é romântico e muito atencioso. Mas gosto de seguir minha intuição, e ela me diz que não é o momento certo para ser mãe. Continuo lendo a carta da minha irmã, ignorando todas as ofensas. Conheço todas as minhas irmãs e conheço a força do amor que sentimos uma pela outra. Somos em 6 no total, 6 fêmeas que cresceram praticamente juntas. Filhas de sangue puro, nossos pais são Bruxos conhecidos no Reino de Chamber. A minha mãe é uma adorada Bruxa, que dá aulas particulares por todo Reino. Meu pai ama o comércio, passa maior parte do seu tempo vendendo seus tapetes.
Eu sou a caçula, tenho 40 anos de muitas experiências e aprendizados. A parte boa da imortalidade é o conhecimento que vamos obtendo com passar das décadas.
As outras cartas eram fofocas das minhas irmãs sobre o Rei, sobre os príncipes e a corte. Minha irmã Rebeca é dama de companhia de uma das escolhidas do Rei.
Nosso Rei é um Vampiro, um dos lendários e de sangue puro. Ele lutou na grande guerra há sete séculos, como recompensa ganhou uma ilha no Sul. Onde começou sua própria Monarquia, um reinado de muita paz e amor. O Rei de Chamber conquistou a tão sonhada paz. Todas as espécies vivem em harmonia e tem uma vida próspera, todos os vilarejos são ricos e felizes. Nosso Rei é gentil e muito dedicado, um macho honrado que merece tudo que conquistou.
A porta abre-se, meu companheiro adentrou cheio de sacolas e com sobretudo molhado.

— Por Mari, está chovendo muito. — Diz ele, aproximando-se, pousando as sacolas em cima da mesa.

— Como foi o seu dia?

— Normal, a loja está movimentada como sempre. — encarou-me. — E o seu dia? Foi produtivo?

Finn é um mestiço, o pai é um Bruxo e mãe uma Lobisomem, donos de uma loja que vende as mais belas porcelanas.

— Um macho nasceu, um bebê forte e saudável. O parto foi perfeito, muito emocionante. — Digo orgulhosa, sou uma Bruxa com dons curativos. Amo o dom da vida e por esse motivo me especializei em partos. Passei 7 anos viajando em busca de conselhos, conhecimento e estudando sobre partos. Conheço um pouco desse mundão tão belo, morei 4 anos na Ilha do Norte que é conhecida por ter os mais experientes curandeiros.

— Uau, um macho? A mãe é uma Bruxa?

Neguei com a cabeça um pouco chateada, há décadas uma Bruxa não gera um macho.

— Uma Vampira! Elas têm sorte.

— Sabe Yas, eu estava pensando. A minha loja está precisando de funcionários. O que você acha de começar a trabalhar comigo? Esse negócio de curandeira…

Por Airmid, esse assunto novamente?

— Finn, já conversamos. Eu amo a minha profissão. E recebo meu próprio dinheiro por cada parto.

Ele balançou a cabeça.

— Eu sei, não estou desmerecendo o seu trabalho. Yas, ser uma Bruxa com dons curativos é extremamente raro. Mas bebês no meio imortal também são raros, os humanos têm suas próprias parteiras e não buscam a experiência de uma Bruxa, eles confiam na sua própria espécie. — começou a livrar-se da roupa molhada. — Eu te amo, eu só quero o melhor para você.

Finn é um macho novo, tem apenas 25 anos. Ele me notou em uma festa na Mansão do Lorde Bran, Finn aproximou-se um pouco retraído e tímido. Eu conhecia o macho de sorriso amistoso e de beleza radiante, todos conhecem Finn Hardsey. Ele roubava os corações das jovens fêmeas do nosso Vilarejo, mas em meio a tantas fêmeas belas e ricas. Finn acabou me escolhendo.
Um mestiço, forte, robusto e belíssimo. Um louro de olhos azuis-claros e com uma barba grossa, ganhou meu coração com seu jeitinho romântico e galanteador.

— Eu também te amo, Finn. Mas…

— Podemos fazer um teste; — interrompa-me. — Você pode trabalhar comigo por alguns dias na loja e quem sabe mudar a sua profissão.

Revirei os olhos.

— Ei mocinha, não revire os olhos pra mim.

— Eu fui abençoada por Airmid, um dom que ela me entregou. Meu nome é Yasmine Airmeithy por homenagem a deusa que me abençoou no ventre da minha mãe.

— Yasmine, não quero brigar. Eu só quero conquistar um lugar na Capital.

Finn e sua mania de grandeza. Não basta ser rico, Finn quer fazer parte da cidade real. Quer participar dos jantares no grande salão do Castelo e viver como um príncipe.
Quando estavam recrutando guerreiros para o novo exército do Rei, Finn se inscreveu. Ele queria uma vaga, mas não basta ser um mestiço com dons de bruxos ou um lobisomem forte e rápido. Para ser um guerreiro do Rei precisa de algo especial, Finn não conseguiu passar nos testes e no treinamento. Lembro-me que ele me culpou na época, seu fracasso como guerreiro era minha culpa.

— Sabe minha resposta, estamos juntos há dois anos. — Retruquei, cansada dos mesmos assuntos.

— Honestamente não estou afim de brigar. Então, vou tomar um banho. E avisando já, amanhã temos um jantar na Mansão do Senhor Dyfet.

— Ah não; — choramingo. — Você sabe que a filha de Dyfet é minha inimiga.

— Sem reclamações, vamos e acabou. Você tem 40 anos e fica nessa provocaçãozinha idiota com a filha do oráculo.

— Provocaçãozinha? É sério, Finn? Ela tentou dormir com você. — altero a voz.

— Eu aceitei? É lógico que não, porque eu tenho uma companheira. A ligação não aconteceu ainda, mas a qualquer momento pode acontecer. É uma questão de tempo. — suspirou fundo. — Não vamos falar sobre a filha do Dyfet, apenas prepare o meu jantar.

Finn virou as costas e foi tomar um banho, levanto-me da cadeira irritadíssima. Eu não acredito, depois de tudo meu companheiro aceitou jantar na Mansão do oráculo.