Prólogo

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Eu sempre amei romances.

Não porque eu era uma adolescente apaixonada, mas porque eu nunca cheguei perto de viver um e nem achava que o viveria tão cedo.

Aos 25 anos eu já era formada em educação física e dava aulas na academia da minha família.

Éramos uma família feliz, tínhamos um negócio prospero com uma academia que ensinava vários tipos de artes marciais e eu gostava disso... Desde criança eu me dediquei a luta, mas o problema era que os suplementos que eu tomava e minha genética me ajudaram a ter 1,85 de altura e ombros de dar inveja a um atleta.

Quer dizer... Não apenas os ombros, mas eu conseguia ser facilmente confundida com homens nas ruas.

Isso somado com meu cabelo curto e roupas masculinas (eram mais confortáveis e as que me serviam faziam parecer que eu era um travesti) não me tornava exatamente popular, pelo menos não com os homens e assim eu matava meu tempo com livros melosos e quase infantis de romance adolescente.

Não que eu sentisse falta de um romance na minha vida, não se pode sentir falta do que se nunca teve, mas achava que seria legal ter um... Eu via todos aqueles casais felizes na rua e sentia inveja, não que eu fosse infeliz, mas queria saber que tipo de felicidade era aquela.

— Volta para casa machorra! — um bêbado gritou para mim do bar da frente da academia. Era Tom, um cliente regular de lá e eu apenas mostrei o dedo do meio para ele e entrei pela porta de vidro da minha casa.

— Qualquer dia desses eu arrebento aquele cara! — disse meu irmão mais novo, ele tinha apenas 14 anos e já estava indo pelo mesmo caminho que eu.

Eu tentava ser forte por ele, mostrar que eu não me incomodava com aqueles apelidos infames e mostrar confiança todas as vezes que eu o levava para assistir um jogo e me confundiam com o irmão mais velho ou pai dele.

— Calma aí garoto — eu disse e baguncei o cabelo dele — você precisa treinar muito mais antes disso.

— Porque você não vai lá e arrebenta ele? — ele perguntou aborrecido, mas ele não gostaria da minha resposta: eu já estava acostumada.

— Mesmo que a gente saiba lutar, não quer dizer que possamos sair por aí batendo nas pessoas — eu disse.

— Nós aprendemos a lutar apenas para nos defender e não para atacar e machucar os outros — ele repetiu os ensinamentos de nosso pai.

— Isso ai rapaz! — eu sorri para ele e ambos passamos pelo hall onde pessoas começavam a se exercitar.

Quando se é adulta são poucas as pessoas que mexem com você. Claro que vão te criticar e falar pelas suas costas e ficam enchendo o saco porque você nunca teve um namorado e acham que você é lesbica, mas pelo menos não era como no colégio onde as pessoas não tem escrúpulos e acham legal atormentar os outros, naquela época eles falavam na minha cara e machucava muito mais, mesmo assim eu tinha amigos legais que me defendiam e ficavam no meu lado, então não foi tão ruim quanto poderia ser.

Eles me diziam que eu era o literal da frase "os brutos também amam" por causa do meu tamanho e do meu gosto pelos livros.

— Hey! Alexis! — Diogo, meu assistente desde que assumi a academia me chamou — precisamos falar sobre alguns orçamentos!

— Eu já vou! Deixe encima da minha mesa! — eu pedi e fui fiscalizar as pessoas fazendo exercícios corretamente para não se machucarem.

— Se você não arrebentar aqueles caras do bar da frente, eu faço isso — disse Rose, minha amiga de escola que agora era a recepcionista da academia, por sorte eu tinha conseguido muitos alunos depois de algumas exibições em eventos de fisiculturismo e artes marciais.

Diário de Observação de uma Autoproclamada Personagem Secundário - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora