Capítulo 32

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Eduard, ou qualquer que fosse o nome do mordomo, me levou ao mesmo café do qual desaparecemos. Ele sorriu para mim educadamente e disse que se eu quisesse comer algo lá dentro, a conta seria enviada aos Ladam e era para eu me sentir à vontade... Confesso que me senti tentada a pedir tudo do mais caro apenas para dar prejuízo a eles, mas não estava com fome no momento.

Ele desapareceu rapidamente e eu agradeci mentalmente a ele por isso, afinal não passávamos de estranhos educados um com o outro e eu não teria paciência de aguentar a ladainha de Vanessa novamente.

Eu não sabia o que fazer agora...

Agora que sabia que Vanessa Ladam era do mal, eu ia fazer o que? Não tinha qualquer prova contra ela e nem nada que pudesse incrimina-la... Tudo o que eu tinha era uma mulher que gentilmente me ofereceu ajuda e uma sensação ruim com memorias que fariam as pessoas me internarem em um hospício...

Não era à toa que ela era um gênio maligno.

Se eu voltasse para escola agora eu ficaria sem saber o que fazer... Será que eu deveria tentar falar com os rapazes? Minha cabeça doía só de pensar, porque eu sabia que eles se sentiam culpados (de acordo com Mary), mas toda vez que eu pensava neles me vinha na mente seus rostos com medo e isso me trazia cada vez mais angustia...

Eliot com sua postura animalesca, os dentes arreganhados e olhos brilhantes, rosnando.

Bernardo tentando se conter, mas mesmo assim com a postura rígida, garras nos dedos e apesar de tentar se conter, mas ainda mostrando os sinais de nervosismo e pronto atacar ou fugir a qualquer momento.

Erick, pálido, tentando segurar Mary que tentava chegar até mim.

Todos estavam com medo, eu via isso... Sentia... Farejava...

Era estranho até mesmo para mim pensar, mas... Se eu fosse tão ruim... Porque Mary não tinha fugido?

Porque ao invés de tentarem me mandar mensagens, porque não me procuravam? E quando me procuravam, porque me olhavam pelo canto dos olhos como se tivessem cuidado para que eu não os atacasse a qualquer momento?

Saber dos rumores e uma coisa, mas ver em primeira mão é outra.

Andei a esmo pela rua, sem saber o que fazer, mas acompanhando o fluxo de pessoas até chegar em lugar mais espaçoso a beira de um parque e me encostar em uma arvore, sentando na grade envolta dela.

— O que eu faço agora? — perguntei com uma mão na testa olhando para o chão.

Aquilo era um sonho... Um sonho longo demais... E que agora começava a ficar estranho... Nada daquilo podia me afetar de verdade, não é? Eu poderia apenas escolher agir com Vanessa e todos a minha volta provavelmente pelo menos fingiriam gostar de mim e eu poderia ter uma vida confortável ao lado de meu pai... Isso realmente daria certo?

Mas e Mary? E Erick? E Eliot? E Bernardo? O que aconteceria com eles?

Eu provavelmente nunca mais os veria e ainda por cima provavelmente eles iriam me odiar ou pior... Eles poderiam sei lá, virar escravos ou até mesmo morrerem, se machucariam por minha causa...

— O que eu faço agora? — perguntei novamente.

— Você pode vir com a gente — alguém disse e eu levantei minha cabeça, haviam dois rapazes a minha frente, provavelmente na faixa dos 20 e poucos anos e que eu nunca os tinha visto na vida — você parece triste... Porque não vem se divertir com a gente?

Encarei os dois quase descrente, quem eles achavam que era?

— Querida, voltei — uma voz conhecida apareceu e do nada tinha um café gelado em meu ombro — eles estão te incomodando?

Diário de Observação de uma Autoproclamada Personagem Secundário - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora